Por que 'janeiro sem álcool' virou batalha política na França

Imagens de presidente francês Macron com bebidas alcoólicas repercutiram mal em quem defende iniciativa contra o álcool.

4 jan 2024 - 17h54
(atualizado às 18h17)
O presidente francês Macron disse no passado que bebe vinho duas vezes por dia
O presidente francês Macron disse no passado que bebe vinho duas vezes por dia
Foto: LUDOVIC MARIN/POOL/AFP / BBC News Brasil

O presidente da França, Emmanuel Macron, foi acusado de ceder ao lobby do vinho ao não manifestar apoio a uma iniciativa chamada Janeiro Seco (Dry January, na expressão original em inglês), contra o consumo de álcool.

Cinquenta especialistas em dependência escreveram uma carta aberta esta semana, lamentando a falta de apoio do governo à campanha pós-festas de fim de ano.

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"A nossa confiança no governo para levar a cabo uma política coerente e determinada contra o alcoolismo está seriamente comprometida", escreveram os médicos.

O Janeiro Seco chegou à França em 2020.

Na carta ao jornal Le Monde, os médicos disseram que o Défi de janvier (o Desafio de Janeiro) se tornou um elemento social popular desde que foi introduzido no Reino Unido, mas o seu sucesso foi alcançado apesar da indiferença do governo.

Na França, vários ministros se distanciaram efetivamente do apelo a um mês de abstinência, dizendo que preferiam encorajar a moderação em vez de um jejum total de álcool.

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Marc Fesneau, o ministro da Agricultura, disse que o declínio geral no consumo de álcool francês - queda de 70% no último meio século, e queda de 7-10% só no ano passado - tornou a campanha do Janeiro Seco irrelevante e intrusiva.

"Não creio que os franceses precisem receber lições de ninguém. As pessoas estão fartas de ouvirem o que comer, o que beber, como viajar. Há um modo de vida que também merece respeito", disse ele.

"Eu ficaria muito desconfiado se ouvisse que o governo está falando às pessoas como viver as suas vidas durante um mês", disse o ex-ministro da Saúde Aurélien Rousseau quando questionado no início de dezembro, antes da sua demissão, se iria aderir ao Janeiro Seco.

Para os críticos, estas reações são sinais de que o governo, seguindo o exemplo do presidente Macron, decidiu que é mais importante não contrariar o lobby do vinho do que promover a boa saúde.

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"Sabemos muito bem que com este governo, e sobretudo com este presidente, as ligações com o lobby do álcool são particularmente fortes", disse o pesquisador Jean-Pierre Couteron.

Os defensores do Janeiro Seco dizem que a França ainda é o quarto maior consumidor de álcool da Europa e que o álcool é responsável por mais de 40.000 mortes no país todos os anos.

O presidente Macron foi acusado de incentivar o consumo excessivo de álcool ao beber após uma final de rúgbi
Foto: REUTERS / BBC News Brasil

E dizem que uma campanha que conta com o apoio financeiro e moral do governo alcançaria muito mais pessoas do que as 16 mil que manifestaram apoio em 2023.

A alegação de que o presidente pessoalmente desencorajou o apoio ao Janeiro Seco é apoiada pelo seu endosso público ao álcool no passado.

Em 2022 foi eleito Personalidade do Ano pela revista Review of French Wines depois de afirmar que bebia vinho duas vezes por dia, no almoço e no jantar.

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Em junho passado, ele foi filmado tomando uma garrafa de cerveja Corona no vestiário do time de rugby do Stade Toulousain, no Stade de France - provocando acusações de que ele estava incentivando o consumo excessivo de álcool.

Com a indústria do vinho gerando 9 bilhões de euros (pouco mais de R$ 48 bilhões) em vendas externas todos os anos, a decisão de defender os produtores de vinho franceses é certamente racional. Mas os críticos dizem que beber em público também é, em parte, um gesto de "homem do povo" que o presidente adota para se opor à acusação de que está "fora de sintonia".

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