Por que o Irã atacou Israel? 6 questões para entender a crise

Confronto aconteceu após o Irã prometer uma retaliação pelo ataque mortal ao seu consulado em Damasco.

16 abr 2024 - 17h24
Mísseis ou drones sobre Israel
Mísseis ou drones sobre Israel
Foto: EPA-EFE/REX/Shutterstock / BBC News Brasil

O Irã lançou drones e mísseis contra Israel no sábado (13/4), depois de prometer uma retaliação pelo ataque mortal ao seu consulado em Damasco, capital da Síria.

Israel não assumiu a autoria do ataque ao consulado, mas acredita-se que esteja por trás dele.

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Esta é a primeira vez que o Irã ataca diretamente Israel.

Até então, Israel e o Irã travavam uma "guerra nas sombras" que durou anos — atacando ativos um do outro sem admitir responsabilidade.

Estes ataques aumentaram consideravelmente durante a atual guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque do grupo palestino Hamas a Israel, em outubro do ano passado.

Entenda a crise em seis pontos.

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Por que Israel e Irã são inimigos?

Os dois países foram aliados até a Revolução Islâmica de 1979 no Irã, que deu origem a um regime que utilizou a oposição a Israel como parte fundamental da sua ideologia.

O Irã não reconhece o direito de existência de Israel e quer sua erradicação.

O líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, já havia chamado Israel de "tumor cancerígeno" que "sem dúvida vai ser extirpado e destruído".

Israel acredita que o Irã representa uma ameaça à sua existência, como evidenciado pela retórica de Teerã e pela formação de forças que agem "por procuração" e juraram destruir Israel.

Também estão nesta lista o financiamento e armamento de grupos palestinos pelo Irã, incluindo o Hamas e o grupo xiita libanês Hezbollah.

E o que Israel acredita ser uma busca secreta do Irã por armas nucleares, embora o Irã negue que esteja tentando construir uma bomba nuclear.

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Irã queria vingança após ataque a consulado

O Irã afirma que o bombardeio da noite de sábado contra Israel é uma resposta ao ataque aéreo de 1º de abril contra o prédio do consulado iraniano na capital síria, que matou altos comandantes iranianos.

O Irã culpa Israel pelo ataque aéreo, que considera uma violação da sua soberania.

Israel não disse que realizou o ataque, mas presume-se que tenha realizado.

Treze pessoas foram mortas, incluindo o general Mohammad Reza Zahedi - um alto comandante das Forças Quds, o braço de relações exteriores do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês). Ele foi uma figura essencial na operação iraniana para armar o grupo libanês Hezbollah.

O ataque ao consulado do Irã em Damasco matou altos comandantes do país
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O ataque ao consulado seguiu um padrão de ataque aéreo contra alvos iranianos amplamente atribuído a Israel. Vários altos comandantes do IRGC foram mortos em ataques aéreos na Síria nos últimos meses.

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O IRGC envia armas e equipamentos, incluindo mísseis de alta precisão, pela Síria para o Hezbollah. Israel está tentando impedir estas remessas, assim como que o Irã reforce sua presença militar na Síria.

Quem são os aliados do Irã?

O Irã construiu uma rede de aliados e forças "por procuração" no Oriente Médio que diz fazerem parte de um "eixo de resistência" que desafia os interesses dos EUA e de Israel na região. O país apoia esses aliados em variados graus.

A Síria é o aliado mais importante do Irã. Assim como a Rússia, o Irã ajudou o governo sírio de Bashar al-Assad a sobreviver à guerra civil que já dura uma década no país.

O Hezbollah, no Líbano, é o mais poderoso dos grupos armados apoiados pelo Irã.

Tem trocado disparos com Israel na fronteira quase diariamente desde que eclodiu a guerra com o Hamas. Dezenas de milhares de civis de ambos os lados da fronteira foram forçados a abandonar suas casas.

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Mapa mostrando Irã e Israel
Foto: BBC News Brasil

O Irã apoia várias milícias xiitas no Iraque que atacaram bases dos EUA no país, na Síria e na Jordânia com disparos de foguetes. Os EUA retaliaram depois que três dos seus soldados foram mortos num posto militar avançado na Jordânia.

No Iêmen, o Irã apoia o movimento Houthi, que controla as áreas mais populosas do país.

Para demonstrar seu apoio ao Hamas em Gaza, os Houthis lançaram mísseis e drones contra Israel — e também atacaram embarcações comerciais perto da sua costa, afundando pelo menos um navio.

Os EUA e o Reino Unido atacaram alvos Houthi em resposta.

O Irã também fornece armas e treinamento a grupos armados palestinos, incluindo o Hamas, que atacou Israel em 7 de outubro do ano passado, desencadeando a atual guerra em Gaza e os confrontos que atraem o Irã, suas forças "por procuração" e os aliados de Israel no Oriente Médio.

O Irã nega, no entanto, que tenha desempenhado qualquer papel no ataque de 7 de outubro.

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Como as capacidades militares do Irã e de Israel se comparam?

O Irã é muito maior do que Israel geograficamente, e tem uma população de aproximadamente 90 milhões de habitantes, quase dez vezes maior que a de Israel - mas isso não se traduz em um maior poderio militar.

O Irã investiu fortemente em mísseis e drones. Não só tem um vasto arsenal próprio, como também tem fornecido quantidades significativas a aliados que agem "por procuração" - como os Houthis, no Iêmen, e o Hezbollah, no Líbano.

O Irã investiu fortemente em mísseis e drones (foto de arquivo)
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O que falta a ele são sistemas modernos de defesa aérea e aviões de combate.

Acredita-se que a Rússia esteja ajudando o Irã a aprimorá-los em troca do apoio militar que Teerã deu a Moscou na guerra do país com a Ucrânia - o Irã forneceu drones Shahed de ataque, e a Rússia estaria agora tentando fabricar por conta própria as armas.

Em contrapartida, Israel tem uma das forças aéreas mais avançadas do mundo.

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De acordo com o Balanço Militar do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), Israel tem pelo menos 14 esquadrões de jatos - incluindo F-15, F-16 e o mais novo caça invisível F-35.

Israel também tem experiência na realização de ataques nas profundezas de territórios hostis.

Irã e Israel possuem armas nucleares?

Presume-se que Israel possua suas próprias armas nucleares, mas adota uma política oficial de ambiguidade deliberada.

O Irã não possui armas nucleares, e também nega que esteja tentando usar seu programa nuclear civil para se tornar um Estado com armas nucleares.

Os restos de um foguete que, segundo as autoridades israelenses, feriu gravemente uma menina de 10 anos no sul de Israel
Foto: Reuters / BBC News Brasil

No ano passado, a agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) encontrou partículas de urânio enriquecidas com uma pureza de 83,7% - muito próximo do percentual necessário para fabricação de armamento - na instalação subterrânea de Fordo, no Irã.

O Irã alegou, por sua vez, que podem ter ocorrido "flutuações não intencionais" nos níveis de enriquecimento.

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O país vem enriquecendo abertamente urânio com uma pureza de 60% há mais de dois anos, violando um acordo nuclear de 2015 com as potências mundiais.

Mas este acordo estava à beira de entrar em colapso desde que o então presidente dos EUA, Donald Trump, abandonou unilateralmente o acordo - e restabeleceu fortes sanções ao Irã em 2018.

Israel havia sido contra ao acordo nuclear desde o início.

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