Por que o Japão vive maior boom na bolsa de valores em mais de 30 anos

Reformas nas regras do mercado de ações entusiasmaram alguns investidores, como Warren Buffett.

19 jun 2023 - 11h36
Homem passando em frente a telas com cotações de preços de ações
Homem passando em frente a telas com cotações de preços de ações
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Pela primeira vez em mais de 30 anos, o mercado de ações japonês está passando por um boom inesperado.

O principal índice de ações do país, o Nikkei 225, não registrava uma alta tão expressiva desde o início dos anos 1990, quando a economia do Japão ainda vivia seu "milagre" — e antes do início da chamada "Década Perdida".

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Até agora, somente neste ano, o índice subiu quase 30%, em grande parte graças a investidores internacionais apostando em ações de empresas japonesas.

Esse otimismo se explica, em parte, pelas mudanças que a Bolsa de Valores de Tóquio está promovendo.

Em março, o mercado de ações apresentou um plano de reforma para que as empresas paguem mais dividendos aos seus acionistas ou recomprem ações de sua própria empresa — o que geralmente faz com que o preço das ações de uma empresa suba.

Essa reforma no mercado de ações japonês é vista por alguns analistas como uma forma de pressionar os gestores das empresas a aumentar a lucratividade e a eficiência no uso do capital.

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Em um país onde muitos diretores de empresas não veem os acionistas como seus aliados, as reformas podem causar um efeito cascata na medida em que grandes empresas começam a implementá-las.

Celular com cotações de preços de ações em japonês
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Influenciados pela mudança nas regras de funcionamento da Bolsa de Valores de Tóquio, entre outros fatores, o valor das ações de gigantes como Mitsubishi e Honda subiram cerca de 50% este ano.

Os chefes da bolsa japonesa alertaram que as empresas que não se adequarem às novas regras poderão ficar de fora da bolsa em 2026.

Tudo isso está acontecendo em uma economia considerada sólida, com moeda fraca e juros baixíssimos — justamente quando muitas das maiores economias do mundo estão com juros altos historicamente.

Mas há outro fator fundamental para explicar o boom da bolsa japonesa: o entusiasmo do bilionário Warren Buffett com empresas de países asiáticos, um exemplo para muitos investidores estrangeiros que seguem seus passos e confiam em seus critérios de investimento.

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O efeito Warren Buffet

Há anos, Warren Buffett aposta nos mercados japoneses
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O lendário magnata revelou em maio que comprou ainda mais ações de cinco empresas japonesas: Itochu, Marubeni, Mitsubishi, Mitsui e Sumitomo.

Ele também disse que pode considerar mais investimentos desse tipo no futuro. Esse anúncio contribuiu para uma forte onda de compras de investidores estrangeiros no mercado de ações do Japão nas semanas seguintes.

Buffett, presidente e executivo-chefe da Berkshire Hathaway, há muito tempo está de olho no Japão. Seu compromisso com esse mercado quase triplicou em valor em menos de três anos.

E com seus últimos movimentos, o valor das cinco empresas japonesas nas quais ele investiu subiu em uma média de 180%.

Durante a reunião anual da Berkshire em maio, o bilionário justificou sua decisão argumentando que as cinco empresas japonesas eram "ridiculamente" baratas, bem estabelecidas, focadas no longo prazo e grandes o suficiente para gerar bons retornos.

Otimismo exagerado

O governo japonês também tem pressionado as empresas de capital aberto do país a devolver mais dinheiro aos investidores, aumentando sua atratividade para fundos estrangeiros.

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No entanto, alguns analistas alertaram que os investidores estão muito otimistas sobre uma mudança nas atitudes dos empresários japoneses.

Pessoas caminhando em frente a telas com cotações de preços de ações
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Economistas do Bank of America (BofA) alertaram que a euforia com a compra de ações de empresas japonesas é "prematura".

Na sua opinião, é cedo para apostar no Japão, com a sua economia numa posição totalmente oposta à dos seus pares internacionais, com o seu banco central mantendo intacta a sua estratégia de estímulos, que inclui taxas de juros negativas.

Isso não significa que eles não vejam potencial para o futuro. Especificamente, o BofA acredita que pode ser uma "operação potencial para 2024".

Por enquanto, os lucros das empresas estão melhorando e a economia do Japão, que é a terceira maior do mundo, está passando por um bom momento após a pandemia.

Em um país com um histórico problema de deflação, é uma boa notícia que a inflação esteja de volta. Os gastos do consumidor estão aumentando (assim como os aumentos salariais previstos) e os turistas estrangeiros estão de volta.

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Assim, as expectativas de crescimento são melhores para a economia japonesa do que para as de outros países desenvolvidos.

As estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto para este ano subiram para 2,7%, enquanto outros países como os EUA e a União Europeia podem vir a enfrentar uma possível recessão.

Em meio às dificuldades internacionais, o Japão está em melhor posição do que o resto das grandes economias.

Mas uma das perguntas que fica no ar é quanto tempo vai durar esse momento econômico positivo e se as reformas implementadas no mercado de ações terão um efeito expansivo no resto da economia.

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