O crescimento do número de casos de dengue na região tropical da Ásia tem colocado as autoridades globais em alerta, temendo que a região mais populosa do mundo se torne o próximo foco da doença.
Países como a Índia – no sul da região – e os vizinhos do Sudeste Asiático admitem que o risco de contaminação pelo zika é alto devido à presença do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou "especialmente o Sudeste Asiático" como a área mais vulnerável para a proliferação do zika vírus entre as regiões sob risco na África, Ásia e algumas partes da Europa.
O diretor da OMS para o Sudeste Asiático, Poonam Khetrapal Singh, disse que o zika "é motivo de preocupação" na região devido à presença do mosquito transmissor em muitas áreas.
A organização instou os países do Sudeste Asiático a "reforçar a vigilância e tomar medidas preventivas" contra o vírus, "altamente suspeito de ter uma relação causal com um grupo de microcefalia e outras anormalidades neurológicas", diz a OMS.
Nas Américas, o avanço da microcefalia ligada ao zika vírus foi declarado emergência internacional pela OMS.
Dengue
Na Ásia, a Tailândia é o país com maior número de casos confirmados de zika. O primeiro caso foi identificado em 2012 e desde então há uma média de cinco diagnósticos confirmados anualmente, de acordo com o Ministério de Saúde Pública.
Neste ano, apenas um caso, no norte do país, foi comprovado.
O país é também o único da região que rejeita publicamente a ideia da iminência de um surto de zika entre suas fronteiras.
"Os tailandeses não devem se preocupar, a Tailândia não tem nenhum surto desta doença (zika). Tenham confiança no sistema de vigilância", afirmou Amnuay Kajina, diretor-geral do Departamento de Controle de Doenças do Ministério da Saúde, em comunicado, na quarta-feira.
Ao mesmo tempo, porém, os tailandeses se preparam para enfrentar um dos piores anos de epidemia de dengue, que pode ser 16% maior do que no ano passado. Estima-se que 166 mil pessoas serão contaminadas pelo vírus em 2016, de acordo com o ministério.
A versão adotada por alguns médicos e especialistas tailandeses para explicar por que os casos de dengue já cresceram, mas os de zika não, apesar da presença do vírus no país, seria uma espécie de "imunidade" adquirida por outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como a encefalite japonesa e a própria dengue.
Essa suspeita, no entanto, é contrariada pelo Ministério de Saúde Pública da Tailândia e pela OMS, que afirma não haver "nenhuma evidência de imunidade ao vírus" na região.
Esse é um ponto polêmico entre os especialistas. Na avaliação do médico indiano Krishan Kumar Aggarwal, a infecção prévia com o vírus da dengue pode apenas dificultar o diagnóstico de zika no teste de laboratório, mas não criar uma barreira protetora contra a doença.
"Não se trata de imunidade específica do vírus da dengue. Pode haver um cruzamento de reações de anticorpos do zika e (dificultar) o diagnóstico", afirmou à BBC Brasil Aggarwal, secretário-geral da Associação Médica da Índia.
Índia
Na Índia não há casos comprovados de zika, mas a proliferação da dengue é alarmante. No ano passado, cerca de 80 mil pessoas teriam sido infectadas pelo vírus da doença, de acordo com dados oficiais.
Estimativas extraoficiais, porém, indicam que o número de doentes seja no mínimo 100 vezes maior no país, que tem cerca de 1,3 bilhão de habitantes.
O representante da Associação Médica da Índia admite que o país está "potencialmente em risco" de sofrer um surto de zika. No entanto, segundo ele, "não necessariamente (haverá contaminação). O vetor da febre amarela é o mesmo da dengue, mas a febre amarela nunca entrou na Índia".
"O mosquito pode estar presente, mas o vírus pode se comportar diferentemente em distintos países", acrescentou.
Entre os vizinhos, a preocupação é evidente. Na Indonésia, país que também sofre com a proliferação da dengue, o primeiro caso de zika foi confirmado na terça-feira. Os governos da Malásia e Singapura admitiram que há um "alto risco" de o zika vírus ser "importado" para seus países.
Olimpíada
O trânsito de atletas de diferentes continentes e de turistas que acompanharão os Jogos Olímpicos no Rio é outro elemento de preocupação relacionado à "migração" do vírus para outras regiões ainda não afetadas pelo zika.
"O risco (de migração do vírus) existe", afirmou Aggarwel, da Associação Médica da Índia.
Na semana passada, o Comitê Olímpico Internacional (COI) emitiu uma nota aos comitês nacionais explicando as medidas tomadas para conter o avanço do vírus, reafirmando que acompanha a situação junto à OMS e ao governo brasileiro.
As arenas dos Jogos, disse o órgão, "serão inspecionados diariamente para garantir que poças de água parada – onde os mosquitos se reproduzem – sejam removidas, minimizando assim o risco de que atletas e visitantes entrem em contato com os mosquitos".