Na manhã deste sábado (14/8), um forte terremoto de magnitude 7,2 atingiu o sul do Haiti, deixando pelo menos 724 mortos e mais de 2,8 mil feridos, além de desaparecidos.
Tremores como esse não são novidade no pequeno país, um dos mais pobres do mundo e afundado em crises.
Em 12 de janeiro de 2010, um terremoto de magnitude semelhante devastou Porto Príncipe, capital do país, causando a morte de mais de 200 mil pessoas. Mais de 300 mil ficaram feridas.
E isso já havia acontecido em 1887, 1842, 1770 e 1751.
Mas por que tantos terremotos ocorrem no Haiti?
Uma das respostas pôde ser encontrada naquela tarde de 12 de janeiro de 2010, quando especialistas souberam imediatamente que o tremor seria um dos piores desastres naturais da história recente daquele país.
Além de ter atingido uma das nações mais pobres do Ocidente — e, portanto, uma das menos preparadas para enfrentar eventos desse tipo, o terremoto ocorreu em uma região onde se localiza uma complexa rede de placas tectônicas e falhas geológicas.
O Haiti está situado em meio a um vasto sistema de falhas geológicas que resultam do movimento da placa caribenha e da enorme placa norte-americana.
Como em outras áreas onde as placas tectônicas são contíguas, nos limites da placa do Caribe há uma atividade sísmica significativa devido a essas falhas.
E foi o súbito deslizamento de uma delas, a falha de Enriquillo-Plantain Garden, que levou ao desastre.
Estima-se que o epicentro do terremoto, de magnitude 7, ocorreu a cerca de 15 quilômetros de Porto Príncipe. E o hipocentro (local no interior da Terra onde se inicia a ruptura do material rochoso ocorrendo a libertação de energia sob a forma de ondas sísmicas) estava a apenas oito quilômetros da superfície.
Já o que foi registrado neste sábado tinha magnitude de 7,2 e a 10 quilômetros da superfície, mas teve seu epicentro no sul da ilha.
Essa proximidade com a superfície, dizem os especialistas, garantiu que as forças de choque do solo fossem mais intensas e destrutivas.
Sem amortecimento
Edifícios em zonas sísmicas em países desenvolvidos são construídos com sistemas de amortecimento que lhes permitem "resistir" aos tremores, não apenas deixando-os balançarem para frente e para trás, mas também fazendo-os girar junto com o movimento da terra.
Mas as estruturas simples de concreto das cidades haitianas desmoronam quando submetidas a essa pressão.
"A proximidade com a superfície é um dos fatores mais sérios que contribuem para a gravidade de um tremor causado por um terremoto de qualquer magnitude", disse David Rothery, cientista planetário da Open University no Reino Unido, à BBC.
"Além disso, o terremoto tende a ser maior se estiver mais perto da fonte. Nesse caso (o terremoto de 2010), o epicentro estava a apenas 15 quilômetros do centro da capital e por isso foi tão destrutivo."
Então, uma série de tremores secundários fortes — mais de 10, todos com magnitude superior a 5 — ampliou a devastação.
Mas, apesar do fato de que o Haiti está em uma área de alto risco para terremotos, o último grande terremoto antes da catástrofe de 2010 havia ocorrido 150 anos antes.
A costa norte do país está localizada no limite das grandes placas tectônicas do Caribe e da América do Norte, onde vastos blocos da superfície terrestre se movem esfregando-se uns contra os outros em um movimento horizontal.
Acredita-se que a placa do Caribe esteja se movendo para o leste a uma taxa de cerca de 2 centímetros a cada ano.
Esperado
E, como os especialistas apontam, antes de 2010, um deslizamento era esperado há muito tempo na falha de Enriquillo-Plantain Garden.
"Ela se manteve firme nos últimos 250 anos", disse Roger Busson, do Serviço de Pesquisa Geológica Britânica, à BBC sobre o terremoto de 2010.
"Todo aquele tempo estava armazenando pressão enquanto as placas deslizavam umas sobre as outras, e era realmente apenas uma questão de tempo para que essa liberação de energia ocorresse."
"A pergunta que nos fazíamos era se toda aquela energia ia ser liberada de uma vez ou em uma série de pequenos tremores. A resposta é que foi tudo de uma vez."
Em 2010, a superfície ao longo da falha estava, em algumas partes, separada por até um metro ou mais.
O Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) afirma que a falha de Enriquillo-Plantain Garden pode ter sido a fonte de vários terremotos importantes ao longo da história: os de 1860, 1770, 1761, 1751, 1684, 1673 e 1618.
E também do que aconteceu neste sábado.
"Como no evento de 2010, o mecanismo que produz este terremoto indica uma falha de empuxo oblíqua ao longo da zona da falha Enriquillo-Plantain Garden", informou o USGS em seu site.