Por que Trump demitiu secretária de Justiça dias antes de sua substituição

31 jan 2017 - 09h56
(atualizado às 10h55)
Sally Yates desafiou o veto temporário à imigração de cidadãos de sete país imposto por Trump
Sally Yates desafiou o veto temporário à imigração de cidadãos de sete país imposto por Trump
Foto: Reuters

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demitiu a secretária de Justiça interina, Sally Yates, após ela questionar a legalidade de seu veto à entrada cidadãos de sete países de população majoritariamente muçulmana.

Indicada para o cargo por Barack Obama, Yates havia ordenado que os promotores do Departamento de Justiça não se dispusessem a defender a ordem executiva do presidente nos tribunais.

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Ela foi substituída por Dana Boente, secretário de Justiça do Distrito Leste do Estado de Virgínia, que disse se sentir "honrado em servir o presidente Trump" e imediatamente ordenou que seu departamento se preparasse para defender a medida polêmica.

A ordem executiva proibiu temporariamente a entrada de cidadãos de Iraque, Síria, Irã, Líbia, Somália, Sudão e Iêmen, gerando protestos e críticas de que a medida discriminava muçulmanos.

Yates havia dito em uma carta "não estar convencida" de que a ordem respeitava a Constituição do país. "Enquanto for secretária de Justiça, o departamento não apresentará argumentos para defender a ordem executiva", escreveu ela.

Trump já havia feito críticas a Yates em sua conta no Twitter
Foto: Reprodução/Twitter

Poucas horas depois, a Casa Branca anunciou que "o presidente Trump a estava afastando de suas funções" e que Yates "havia traído" o Departamento de Justiça com sua atitude.

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O comunicado também a descreveu como "fraca quanto às fronteiras e muito fraca quanto à imigração ilegal".

Críticos de Trump estão chamando o episódio de "Massacre da noite de segunda-feira", destaca o correspondente da BBC News na América do Norte, Anthony Zurcher.

É uma referência à noite de um sábado de 1973, quando o então presidente Richard Nixon demitiu seu secretário de Justiça em meio à crise gerada pelo escândalo de Watergate.

Aquela ocasião havia sido a última vez - até agora - em que autoridades de primeiro escalão do departamento foram removidos de seus cargos. "Desta vez, no entanto, é diferente", diz Zurcher.

"Yates praticamente obrigou Trump a tomar essa atitude (de removê-la) quando ordenou que os promotores do Departamento não defendessem a ordem executiva do presidente nos tribunais. Ele não poderia aceitar tamanha provocação de uma secretária de Justiça indicada por Obama e que, de qualquer forma, seria substituída em breve."

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Para Zurcher, "é fácil imaginar que esse governo - há apenas uma semana no poder - considera que a burocracia de Washington está contra ele e busca miná-lo sempre que possível. Se essa mentalidade ganhar força nos próximos dias, esse episódio será apenas o início de uma série de conflitos."

O substituto de Yates também havia sido indicado por Obama em 2015 e confirmado pelo Senado, o que o tornou elegível à indicação por Trump.

Sally Yates (dir.) havia sido indicada por Barack Obama e permanecido no cargo no novo governo - até agora
Foto: Getty Images

O presidente americano agora espera pela aprovação do novo secretário de Justiça, o senador Jeff Sessions, em uma sabatina no Senado a ser realizada até o fim desta semana.

Ao mesmo tempo, centenas de diplomatas e servidores públicos começaram a elaborar uma manifesto criticando a ordem executiva.

Uma primeira versão diz que as restrições de imigração não tornarão o país mais seguro, não seguem princípios americanos e enviam uma mensagem errada ao mundo islâmico.

A Casa Branca vem defendendo consistentemente a ordem executiva de Trump apesar da polêmica, com o secretário de imprensa Sean Spicer dizendo que os diplomatas devem "seguir o programa".

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Por sua vez, Barack Obama parece ter quebrado a tradição que determina que ex-presidentes não comentem sobre seus sucessores ao falar sobre os protestos contra a medida.

"Cidadãos exercendo seu direito constitucional de se reunir, se organizar e fazer suas vozes serem ouvidas pelos representantes que elegeram é exatamente o que esperamos quando os valores americanos estão em jogo", disse ele em um comunicado no qual não menciona o nome de Trump.

Apesar das críticas, a medida parece ter agradado bo parte da população. De acordo com o canal de TV Fox News, uma pesquisa realizada pela Universidade Quinnipiac, do Estado de Connecticut, mostrou que 48% dos americanos apoiam a ordem executiva e que 42% foram contra a iniciativa de Trump.

A pesquisa também mostrou que 53% dos entrevistados (contra 41%) apoiam o registro de imigrantes de países muçulmanos nos órgãos do governo federal americano.

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Trump fez outra substituição em um cargo importante recentemente.

Thomas Homan assumiu em 20 de janeiro no lugar de Daniel Ragsdale como diretor da Agência para Imigração e Alfândega, que é ligada ao Departamento de Segurança Nacional.

Um comunicado do governo sobre a mudança não mencionou os motivos que levaram à troca.

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