Por que Vietnã desafia os EUA para receber Putin

A viagem de Putin ao Vietnã está sendo interpretada como uma demonstração do apoio que a Rússia ainda possui na região.

20 jun 2024 - 06h21
(atualizado às 07h31)
Vladimir Putin (à esquerda) encontrou-se com o presidente vietnamita To Lam na quinta-feira (20/6)
Vladimir Putin (à esquerda) encontrou-se com o presidente vietnamita To Lam na quinta-feira (20/6)
Foto: EPA / BBC News Brasil

Os líderes do Vietnã e da Rússia disseram nesta quinta-feira (20/6) que querem reforçar os laços entre os países em uma reunião na capital vietnamita, Hanói.

O presidente do Vietnã, To Lam, elogiou muito o russo Vladimir Putin, parabenizando-o por sua recente reeleição.

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Putin disse que o fortalecimento de uma parceria estratégica com o país do sudeste asiático é uma das prioridades da Rússia.

A viagem de Putin ao Vietnã,  que acontece imediatamente após sua passagem pela Coreia do Norte , está sendo interpretada como uma demonstração do apoio diplomático que a Rússia ainda possui na região.

"Parabéns ao nosso camarada por receber um apoio esmagador durante as recentes eleições presidenciais, ressaltando a confiança do povo russo", disse Lam ao receber Putin com tapete vermelho.

Os Estados Unidos criticaram o Vietnã por oferecer uma plataforma a Putin para promover a sua guerra contra a Ucrânia.

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O Vietnã valoriza os laços históricos que tem com a Rússia, ao mesmo tempo que trabalha para melhorar a sua relação com a Europa e os EUA.

Em um pequeno parque em Ba Dinh, o bairro político de Hanói, uma estátua de Lênin com cinco metros de altura retrata o revolucionário russo em pose heróica. Todos os anos, no seu aniversário, uma delegação de altos funcionários vietnamitas deposita flores e se curva diante da estátua — um presente da Rússia do tempo da União Soviética.

Os laços do Vietnã com a Rússia são estreitos e remontam a muitas décadas, desde o vital apoio militar, econômico e diplomático dado pela União Soviética ao novo Estado comunista no Vietnã do Norte na década de 1950.

O Vietnã descreveu a sua relação como "repleta de lealdade e gratidão". Depois de o Vietnã ter invadido o Camboja em 1978 para expulsar o regime do Khmer Vermelho, o país ficou isolado e foi sancionado pela China e pelo Ocidente, passando a depender fortemente da assistência soviética. Muitos vietnamitas de gerações mais antigas, incluindo o poderoso secretário-geral do partido comunista, Nguyen Phu Trong, estudaram na Rússia e aprenderam o idioma.

Hoje, a economia do Vietnã foi transformada pela sua integração nos mercados globais. A Rússia ficou muito atrás da China, da Ásia, dos EUA e da Europa como parceiro comercial. Mas o Vietnã ainda utiliza principalmente equipamento militar fabricado na Rússia e depende de parcerias com empresas petrolíferas russas para a exploração de petróleo no Mar do Sul da China.

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A região central de Hanói possui uma estátua de Lênin
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A invasão da Ucrânia apresentou ao Vietnã um dilema diplomático.

O país optou por se abster nas várias resoluções das Nações Unidas que condenam as ações da Rússia, mas manteve boas relações com a Ucrânia e até enviou alguma ajuda a Kiev. Os dois países têm um legado comum da era soviética: milhares de vietnamitas trabalharam e estudaram na Ucrânia.

Tudo isto está de acordo com os princípios de longa data da política externa do Vietnã de ser amigo de todos os países, mas evitando alianças formais — o que a liderança do partido comunista chama de "diplomacia de bambu", curvando-se aos ventos da rivalidade entre grandes potências sem ser forçado a tomar lados.

É por isso que o Vietnã melhorou as suas relações com os EUA — um país contra o qual os seus líderes mais antigos travaram uma guerra longa e destrutiva — com o interesse de procurar mercados lucrativos para as exportações vietnamitas e de equilibrar os seus laços estreitos com o seu vizinho gigante, a China.

Os EUA criticaram a visita oficial de Putin ao Vietnã, alegando que ela prejudica os esforços internacionais para isolá-lo, mas não se disseram surpresos. Além das ligações históricas especiais com a Rússia, o sentimento público no Vietnã sobre a guerra na Ucrânia é mais ambivalente do que na Europa.

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Há alguma admiração por Putin como um homem forte que desafia o Ocidente.

Isto também se aplica a outros países asiáticos, onde a guerra na Ucrânia é vista como uma crise distante.

Na Tailândia, por exemplo, um aliado militar histórico dos EUA que esteve do lado oposto da Rússia durante a Guerra Fria, a opinião pública está tão dividida como no Vietnã.

Os tailandeses também valorizam os laços mais antigos entre a sua monarquia e os czares pré-revolucionários da Rússia, e o governo tailandês mantém hoje relações estreitas com a Rússia — valorizando a contribuição que milhões de russos dão à sua indústria turística.

Por quanto tempo o Vietnã manterá a sua camaradagem com Putin é incerto. O país já está à procura de fontes alternativas de equipamento militar, mas acabar com a sua atual dependência da Rússia levará anos.

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Uma série de recentes demissões de alto nível dentro do partido comunista sugere intensas rivalidades internas sobre a próxima geração de líderes e, potencialmente, sobre a direção que o país irá tomar.

Mas ainda não se fala no Vietnã em abandonar o projeto de ser amigo de todos — e inimigo de ninguém.

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