O presidente chinês, Xi Jinping, fez uma visita de Estado a Brasília na quarta-feira, encerrando uma turnê diplomática pela América do Sul que mostrou a crescente influência de Pequim na região e nos fóruns globais, onde preencheu uma lacuna deixada pela transição presidencial nos Estados Unidos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu Xi na residência presidencial com uma guarda de honra completa e um desfile de cavalaria. Espera-se que eles assinem acordos que impulsionem o comércio e a cooperação em setores que vão desde o agronegócio até a energia e a indústria aeroespacial durante as reuniões no Palácio da Alvorada.
Pouco antes da visita, a empresa chinesa de satélites de baixa órbita terrestre SpaceSail, que pretende desafiar a Starlink de Elon Musk, assinou um acordo com a Telebras para entrar no mercado brasileiro.
Os acordos entre as principais economias em desenvolvimento, com cerca de 180 bilhões de dólares em comércio bilateral, ocorrem após duas cúpulas para Xi em uma semana -- o fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) em Lima e, em seguida, o encontro do G20, formado pelas principais economias do mundo, no Rio de Janeiro.
Enquanto Xi desempenhou um papel central em ambas as cúpulas, o presidente dos EUA, Joe Biden, chegou como um "pato manco", com apenas dois meses restantes na Casa Branca e pouco espaço para promessas duradouras, já que seu sucessor, Donald Trump, promete uma revisão total da política externa norte-americana.
Uma foto de família no primeiro dia da cúpula do G20 no Rio teve Xi na frente e no centro, ao lado dos presidentes do Brasil, Índia e África do Sul -- parceiros da China no grupo Brics das principais nações em desenvolvimento e os três anfitriões consecutivos do G20 de 2023 a 2025.
Biden não compareceu a essa sessão de fotos por "razões logísticas", informou a Casa Branca.
Com Biden sem força e Trump avesso a fóruns multilaterais, diplomatas e especialistas em política externa disseram que a ofensiva de Xi estava preenchendo um vácuo em uma ordem global instável.
As reuniões paralelas da China com as potências ocidentais em meio a tensões comerciais e geopolíticas, desde os EUA e o Reino Unido até a França e a Alemanha, mostraram uma virada conciliatória de Pequim antes de mais quatro anos difíceis enfrentando Trump, disse Li Xing, professor do Instituto de Estratégias Internacionais de Guangdong.
"A estratégia da China é clara, a postura que ela está demonstrando é a de deixar de lado o ressentimento do passado", disse Li. "Definitivamente, trata-se de um ajuste, e tudo isso se deve ao fato de a cúpula do G20 deste ano estar em um período de transição após a eleição dos EUA."
Nos bastidores, vários diplomatas que participaram de cúpulas anteriores do G20 notaram uma postura em evolução por parte dos chineses, menos focada em seus próprios interesses restritos e mais proativa na formação de um consenso mais amplo.
"A China está muito mais participativa e muito mais construtiva", disse um diplomata brasileiro, que pediu anonimato para discutir as negociações.
Um diplomata europeu observou que os pares chineses ajudaram a criar um consenso este ano em várias frentes, inclusive em tópicos como os direitos das mulheres, nos quais eles não eram tradicionalmente ativos. Parecia um movimento consciente para ocupar um fórum multilateral que Trump provavelmente negligenciará, acrescentou o diplomata.
"Um lugar deixado desocupado será ocupado por outro", disse o diplomata europeu. "Aparentemente, a China está interessada em ocupar mais do que tem ocupado até o momento."