A transmissão ao vivo da TV estatal iraniana foi interrompida no último sábado (8/10) por uma aparente invasão hacker, dirigida ao líder supremo do país.
O noticiário foi substituído pela imagem de uma máscara, seguida por uma montagem com a foto do aiatolá Ali Khamenei em chamas.
O grupo por trás do protesto se autodenomina Adalat Ali, ou "A justiça de Ali".
A ação hacker ocorre depois de ao menos três pessoas morrerem baleadas durante enfrentamentos entre manifestantes e forças de segurança. O Irã vive uma onda de protestos desde a morte da jovem Mahsa Amini, que perdeu a vida em 16 de setembro, sob a custódia policial, depois de ter sido presa pela "polícia da moralidade" por supostamente não usar o véu islâmico corretamente.
A onda de protestos é sem precedentes - inclusive porque não se originou de um fato político ou econômico único, mas sim de uma aparente insatisfação mais ampla contra a repressão exercida pelo Estado iraniano.
O boletim noticioso do sábado foi interrompido por volta das 21h (hora local) com cenas que incluíam Ali Khamenei com um alvo na cabeça, fotos de Amini e de três outras mulheres mortas recentemente.
Uma das legendas dizia "junte-se a nós e se levante"; outra dizia "o sangue da nossa juventude está escorrendo de suas patas".
A interrupção durou alguns segundos, até ser cortada.
Demonstrações como essa de rebeldia contra o aiatolá são historicamente raras, e ele mantém o poder quase completo sobre o Irã. Mas, desde a morte de Amini, a dissidência tem sido cada vez mais aberta.
Também no sábado, se espalharam nas redes sociais vídeos que pareciam mostrar estudantes universitárias em Teerã gritando palavras de ordem contra o presidente Ebrahim Raisi, que visitava a universidade.
Mais cedo, duas pessoas haviam sido mortas em Sanadaj, incluindo um homem alvejado dentro de seu carro após buzinar em apoio aos manifestantes. Vídeos compartilhados online mostram também uma mulher inconsciente depois de ter sido atingida no pescoço em Mashhad.
Ainda em Sanadaj, um policial disse à agência estatal IRNA que um homem foi morto por "contra-revolucionários".
Na sexta-feira, a organização de medicina forense do Irã informou que Mahsa Amini morreu de falência múltipla de órgãos causada por hipoxia cerebral - e não por agressões sofridas na cabeça, como argumentam sua família e os manifestantes.
Grupos de direitos civis dizem que mais de 150 pessoas foram mortas desde a eclosão dos protestos, em 17 de setembro.
Lojas em diversas cidades fecharam em solidariedade aos manifestantes, incluindo o bazar de Teerã, onde um quiosque da polícia foi incendiado.
Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63191947