O secretário-Geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, foi morto em um ataque israelense nos subúrbios ao sul de Beirute, a capital do Líbano.
Nasrallah, que não era visto em público há anos por medo de ser assassinado por Israel, era uma das figuras mais conhecidas e influentes do Oriente Médio.
Sua morte será vista em Israel como uma vitória, mas alguns apoiadores do grupo em Beirute dizem que estão em choque.
Israel diz que continua a lançar ataques contra alvos no Líbano. O Hezbollah também anunciou disparos de foguetes contra Israel.
Os combates esporádicos entre o Hezbollah e Israel aumentaram em 8 de outubro de 2023 - quando o Hezbollah disparou contra Israel um dia após o ataque sem precedentes a Israel por homens armados do Hamas que desencadeou a guerra em Gaza.
Agora a questão é: o que vem a seguir para o Hezbollah e a região?
Qual o futuro?
O Hezbollah, que é apoiado e financiado pelo Irã, é classificado como uma organização terrorista em vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido, bem como em alguns países árabes.
A morte de Nasrallah gerou questionamentos sobre a direção futura do Hezbollah. Há dúvidas sobre a capacidade do grupo militante de continuar e sustentar sua campanha armada contra Israel.
"Isso não mudará o comprometimento do Hezbollah em confrontar Israel, especialmente com a guerra em andamento em Gaza", prevê Ibrahim Bayram.
Ele é um analista político e jornalista do jornal libanês An-Nahar. Ao falar com a BBC Arabic, o serviço da BBC em árabe, ele classificou o assassinato de Hassan Nasrallah na noite passada como um evento excepcional.
Ele acrescentou que o Hezbollah "continuará no caminho que Nasrallah traçou, em lealdade ao que ele representava".
Na frente interna libanesa, Bayram vê sentimentos mistos entre as pessoas. Há os que estão secretamente felizes com sua morte a outros que veem seu assassinato como um golpe severo para o Hezbollah.
O jornalista libanês diz que Nasrallah sabe o que o aguardava. "Nasrallah sabia que seu destino poderia ser semelhante ao de antigos líderes do partido, como Abbas al-Musawi", diz.
Musawi foi o cofundador do Hezbollah e foi assassinado em 1992 por Israel. Após a eliminação bem-sucedida de seu sucessor, Nasrallah, o exército israelense diz que tem mais ferramentas em sua caixa.
Irã e Hezbollah
O Irã diz que um comandante sênior do Corpo de Guardas Revolucionários também foi morto no ataque de sexta-feira a Beirute. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, reiterou o apoio ao Hezbollah, mas não disse como o Irã pode responder ao assassinato de Hasan Nasrallah.
Em seu primeiro comentário, Khamenei condenou fortemente o assassinato de civis no Líbano. Ele descreveu isso como evidência de "miopia e tolice" dos líderes israelenses.
Mas ele evitou mencionar Nasrallah pelo nome no sábado.
Khamenei declarou que "os criminosos israelenses" são incapazes de infligir danos significativos ao Hezbollah e disse que "todas as forças de resistência na região apoiam o partido".
Força de resistência é um termo que se refere a grupos armados apoiados pelo Irã, como o Hezbollah, os houthis no Iêmen e milícias xiitas do Iraque.
Khamenei também pediu aos muçulmanos que mostrassem solidariedade ao povo libanês e ao Hezbollah ao enfrentar o "regime usurpador e opressivo".
Possível desdobramento
O Irã está tentando enfatizar que a morte de Nasrallah não afetará a capacidade ou posição do Hezbollah na região.
"O Hezbollah treinou muitos líderes, e para cada líder martirizado, outro líder entra em campo", diz Ahmad Vahidi. Ele é o ex-comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária Iraniana.
Enquanto isso, o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Mike Johnson, considerou que "a morte de Nasrallah é um passo significativo para o Oriente Médio".
O governo libanês considera o Hezbollah um grupo de resistência legítimo contra Israel e o grupo militante tem membros eleitos para o Parlamento libanês.
O professor universitário e jornalista Muhammad Ali Moqaled acredita que os últimos eventos podem representar uma oportunidade para o Hezbollah retornar a uma "posição mais moderada e buscar acordos que permitam ao estado libanês recuperar a soberania sobre todo o seu território".
Ele também considera que a morte de Nasrallah pode abrir uma porta para uma solução política no Líbano, incluindo a realização de eleições presidenciais.
Ele diz que isso pode envolver "a proteção de elementos do Hezbollah libanês após eles abandonarem um projeto iraniano que não pertence ao Líbano".
Moqaled até vê uma possibilidade de divisão entre os membros do Hezbollah. Ele delineou um cenário possível em que uma pequena facção extremista poderia continuar lutando enquanto a seção maior retorna ao abraço do estado libanês e se afasta do projeto iraniano.
Choque e raiva
Em Beirute, a magnitude do evento se reflete nas ruas. Alguns apoiadores foram às ruas para expressar sua tristeza e raiva, enquanto outros expressaram sua dor nas redes sociais. Nas telas de televisão, o Al-Manar, canal do Hezbollah, começou a transmitir versos do Alcorão após o anúncio da morte do líder xiita.
Ao mesmo tempo, muitos deslocados ainda vivem nas ruas, desabrigados, enquanto continuam sofrendo em meio aos ataques israelenses que resultaram na morte de mais de 800 pessoas, de acordo com estimativas do Ministério da Saúde libanês.
Quando a BBC falou com alguns dos deslocados em Ain al-Mraysseh, um bairro em Beirute, depois que o Hezbollah confirmou o assassinato de seu líder Hassan Nasrallah, muitos não conseguiram lidar com a notícia.
Alguns desabaram no chão, outros começaram a gritar, correr em todas as direções e chorar.
Uma senhora disse: "Gostaria que eles matassem todos nós e o mantivessem [vivo]".
O choque é enorme. Nasrallah não era apenas o líder máximo de sua grande base de apoiadores - ele era um ídolo.
Nem todo mundo em Beirute é um apoiador do Hezbollah - mas, em algumas ruas, as pessoas dispararam balas para o ar como um sinal de raiva e tristeza.
Possível sucessor
A morte de Nasrallah levanta questões sobre até que ponto seu sucessor pode preencher o vazio significativo que ele deixou nas arenas política e militar.
"[Uma questão é] se esse sucessor será capaz de administrar e controlar o partido como Nasrallah, cuja personalidade era excepcional e capaz de unir as fileiras", diz o jornalista Ibrahim Bayram.
O presidente do Conselho Executivo do Hezbollah, Hashim Safi al-Din, é amplamente visto como um possível sucessor.
Bayram acrescenta que, por quase quatro décadas, não se esperava que uma figura xiita como Nasrallah desempenhasse esse papel fundamental no confronto com Israel, e pode "levar muito tempo até que uma personalidade excepcional comparável a Nasrallah surja".
O jornalista libanês o descreve como "o líder e guardião notável que uniu o partido política e militarmente".
O legado do falecido líder xiita é complexo e permanecerá um tópico de debate por muito tempo. A atenção do mundo agora está focada em como o Hezbollah lidará com essa transformação histórica.