Qual o papel de Rússia e China no conflito entre Israel e Irã

O que está em jogo para China e Rússia no conflito entre Israel e Irã — e como os dois países podem reagir caso a crise se agrave.

9 nov 2024 - 15h17
(atualizado às 15h52)
Rússia e China desempenham um papel vital no conflito do Oriente Médio
Rússia e China desempenham um papel vital no conflito do Oriente Médio
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Israel realizou recentemente o que descreveu como "ataques precisos" contra alvos militares no Irã, em resposta ao bombardeio lançado por Teerã com quase 200 mísseis em 1º de outubro.

A Guarda Revolucionária do Irã afirmou, por sua vez, que seus ataques foram uma retaliação pelos assassinatos dos líderes de dois grupos armados apoiados pelo país: o Hamas, baseado em Gaza, e o Hezbollah, no Líbano.

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O Hezbollah tem disparado foguetes pela fronteira israelense ao norte do país, desde que o Hamas atacou Israel a partir de Gaza, em 7 de outubro de 2023.

A escalada do conflito pressiona as relações internacionais em todo o mundo, incluindo entre as grandes potências.

Os Estados Unidos declararam seu apoio a Israel, mas o que está em jogo para a Rússia e a China, e como estes países podem responder?

Rússia: uma aliança de conveniência, mas de olho na Ucrânia

A Rússia e o Irã não são aliados formais, mas seus vínculos se aprofundaram nos últimos anos — e eles estão em processo de finalização de um acordo de "parceria estratégica".

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Quando o presidente russo, Vladimir Putin, se reuniu com o novo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, em 11 de outubro, os dois falaram sobre a semelhança das suas posições em relação aos acontecimentos mundiais.

O Irã se aliou, de fato, à Rússia no que diz respeito à Ucrânia. Os EUA e o Reino Unido afirmam que Teerã forneceu mísseis balísticos e centenas de drones de ataque a Moscou.

O governo iraniano nega oficialmente o envio de mísseis balísticos, embora um parlamentar iraniano tenha dito que as armas são transferidas em troca de importações de alimentos para o Irã.

A Força Aérea do Irã está enfraquecida após anos de sanções, e a Rússia parece ter enviado recentemente pelo menos um avião de ataque leve ao Irã, de acordo com a Janes Defence, uma publicação militar.

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Em troca do envio de armas, espera-se que Moscou bloqueie qualquer resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que critique o Irã — e se oponha a qualquer uso da força contra o país.

Para a Rússia, o conflito no Oriente Médio também ajuda a desviar a atenção e os recursos ocidentais da Ucrânia, onde as forças russas conquistaram avanços graduais na linha da frente de combate nos últimos meses.

Mas o Kremlin estará preocupado com o possível impacto dos recentes ataques israelenses nas infraestruturas de transporte dentro do Irã.

A Rússia está sujeita a fortes sanções internacionais, e dispõe de rotas limitadas para vender seu petróleo — uma delas vai para a Índia via Irã.

Teerã apoia uma série de milícias armadas no Oriente Médio, incluindo o grupo libanês Hezbollah e o Hamas em Gaza.

Moscou também parece estar estreitando os laços com o Hamas.

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No início deste ano, uma delegação dos principais líderes do grupo visitou Moscou.

As defesas aéreas de Israel interceptaram muitos dos mísseis que o Irã disparou em 1º de outubro
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Mas, embora a Rússia precise mais do Irã do que de Israel, procura preservar as relações com ambos os países.

Israel, embora critique a guerra da Rússia na Ucrânia e sua aliança com o Irã, até agora se recusou a fornecer equipamentos militares à Ucrânia, apesar dos pedidos que recebeu.

A Rússia pode considerar possível que, se ficar mais do lado do Irã, Israel comece a enviar armas para a Ucrânia em resposta, embora uma grande guerra no Oriente Médio possa limitar a capacidade de Israel de fazer isso.

Os interesses russos e iranianos também entram em conflito no sul do Cáucaso, que se tornou um importante centro comercial e energético para uma Rússia sob sanções.

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O Azerbaijão, a nação mais rica e populosa da região, faz fronteira com a Rússia e o Irã — e concordou em desenvolver um corredor de transporte de norte a sul para melhorar as conexões rodoviárias, ferroviárias e marítimas entre os dois países.

Mas o Azerbaijão também tem laços militares fortes com Israel, que há muito tempo fornece drones e outras armas avançadas ao seu Exército.

Em setembro de 2023, o Azerbaijão recuperou o disputado enclave de Nagorno-Karabakh, encerrando três décadas de domínio étnico armênio.

Putin e Pezeshkian se reuniram no dia 11 de outubro, enquanto os dois países se preparam para assinar um acordo de parceria estratégica
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Uma análise dos dados de rastreamento de voos feita pela agência de notícias Associated Press constatou um aumento no envio de armas de Israel antes da operação.

O Irã também acusou o Azerbaijão no passado de permitir que Israel usasse suas instalações militares para espioná-lo, algo que o Azerbaijão nega.

Para a Rússia, esta relação pode significar que deve agir com cautela se outro ataque israelense contra o Irã colocar pressão sobre seu relacionamento com o Azerbaijão.

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Mas neste conflito, assim como em outros, a Rússia também vai seguir atenta à China.

Moscou é altamente dependente da China em termos tecnológicos, políticos e estratégicos, especialmente no que diz respeito às importações de componentes eletrônicos e para seus armamentos.

Quando a China manifesta preocupação, podemos esperar que a Rússia ouça.

China: apoiar o Irã sem ser arrastada para o conflito

Há muito tempo, a China e o Irã mantêm um relacionamento próximo, desde parceria diplomática até vínculos econômicos.

Agora que Israel atacou o Irã, não se espera que a postura da China mude drasticamente.

É provável que Pequim continue a oferecer apoio retórico ao Irã, mantendo uma distância segura para evitar ser arrastada para um conflito mais amplo.

Quando foi solicitado a comentar os ataques com mísseis do Irã contra Israel em 1º de outubro, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China não mencionou o Irã, mas disse que Pequim se opõe à "violação da soberania do Líbano", fazendo referência à invasão israelense do país.

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E citou Gaza como a "principal causa dessa rodada de distúrbios no Oriente Médio".

Uma postura semelhante ficou clara nas mensagens oficiais de Pequim, inclusive na imprensa estatal, desde os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, que a China não condenou.

Pequim tem feito apelos repetidamente por uma desescalada e cessar-fogo, e tem apoiado os palestinos e o Líbano diplomaticamente e com ajuda humanitária.

Mas será que este confronto entre Israel e o Irã vai provocar uma retórica mais dura por parte da China?

A China possui investimentos significativos em Israel, especialmente nos setores de infraestrutura e tecnologia, e os manteve durante todo o conflito.

E pode querer evitar o risco de se distanciar de Israel como parceiro econômico ao se alinhar mais plenamente com Teerã.

O presidente de China, Xi Jinping, se reuniu com o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, em Teerã em 2016
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Nesta rodada de retaliação, Israel não atacou a infraestrutura de petróleo do Irã, mas isso não descarta a possibilidade de ataques futuros contra essas instalações.

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A China depende fortemente das importações de petróleo bruto — e é o destino de cerca de 90% das exportações de petróleo bruto do Irã, segundo a S&P Global, empresa de informações e análises financeiras.

Se os ataques de retaliação de Israel danificarem a infraestrutura de petróleo de forma que possa afetar essas exportações, é mais provável que Pequim levante a voz para denunciar as ações de Israel.

A China continua sendo um dos únicos países que compram petróleo do Irã, apesar das sanções dos EUA, e também intermediou um acordo que restabeleceu as relações diplomáticas entre o Irã e a Arábia Saudita em 2023.

Reportagens citando autoridades dos EUA sugerem que Washington já pediu à China que use sua influência sobre Teerã — para controlar, por exemplo, os rebeldes houthis apoiados pelo Irã no Iêmen, que têm atacado navios no Mar Vermelho.

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Embora seja possível que Washington faça outras solicitações, Teerã não responde a Pequim — e é pouco provável que a China atenda a um pedido desse tipo, especialmente se vier dos EUA.

No mínimo, a China vai aproveitar essa oportunidade para criticar os EUA e aumentar sua influência global, apoiando abertamente a causa palestina de uma forma que repercuta nos países do chamado Sul global.

Para a China, manter seu status atual de observador não implica muitos riscos.

Afinal de contas, Pequim ainda pode recorrer a outros grandes exportadores de petróleo, como a Arábia Saudita ou a Rússia, se for necessário.

Em última análise, seja qual for a retórica adotada por Pequim no futuro próximo, é pouco provável que a China se envolva mais substancialmente no conflito.

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