Que armas os EUA darão à Ucrânia — e qual o possível impacto na guerra

Especialistas acreditam que, embora a ajuda adicional dos EUA possa colaborar para a Ucrânia a reagir, ainda não é suficiente.

18 mar 2022 - 10h38
Um soldado ucraniano segurando um sistema de mísseis antitanque Javelin durante exercícios militares em 2021
Um soldado ucraniano segurando um sistema de mísseis antitanque Javelin durante exercícios militares em 2021
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Destroços queimados de um tanque russo na sarjeta, ao lado de uma foto em que um soldado ucraniano carrega os armamentos que teriam causado a destruição.

As imagens postadas no Twitter pelas Forças Armadas da Ucrânia são identificadas com uma legenda triunfante, declarando que isso foi o resultado de "Javelins que atingiram equipamentos militares [russos]".

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O Javelin, uma arma antitanque que dispara mísseis guiados pelo calor em direção a alvos a até 4 km de distância, pode ser controlado por uma unidade portátil que não parece muito diferente de um console de videogame — mas pode enviar um projétil de um metro de comprimento direto para a lateral ou o topo de um tanque blindado.

A simples presença das armas fabricadas nos Estados Unidos "causa pânico" entre as tropas russas, afirma o exército ucraniano — que está prestes a receber mais 2 mil delas.

Os mísseis Javelin estão entre os itens prometidos à Ucrânia pelos EUA em um novo pacote de assistência militar de US$ 800 milhões anunciado pelo presidente americano, Joe Biden, na quarta-feira (16/03).

Outros armamentos incluem drones que podem ser transformados em bombas voadoras e armas antiaéreas capazes de atirar em helicópteros do céu.

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Mas será que estes carregamentos vão ajudar a Ucrânia a vencer a força de invasão — mais numerosa e melhor equipada — da Rússia?

O que os EUA vão enviar para a Ucrânia?

A nova ajuda dos EUA para a Ucrânia inclui uma ampla variedade de equipamentos militares — de 25 mil conjuntos de coletes e capacetes a rifles e lançadores de granadas, milhares de outras armas antitanque e mais de 20 milhões de cartuchos de munição.

Além dos mísseis Javelin, as armas mais poderosas incluem 800 sistemas antiaéreos Stinger, que já foram usados para derrubar aviões soviéticos no Afeganistão.

Os EUA também planejam enviar 100 "sistemas aéreos não tripulados táticos" — pequenos drones —, que geralmente são lançados manualmente e pequenos o suficiente para caber em mochilas.

Os soldados podem usá-los para sondar o campo de batalha ou, em alguns casos, para atacar, essencialmente criando bombas voadoras que podem ser lançadas em alvos à distância.

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Infográfico especifica algumas armas enviadas pelos EUA à Ucrânia
Foto: BBC News Brasil

O anúncio de Biden na quarta-feira eleva o valor total da ajuda militar dos EUA prometida à Ucrânia para US$ 1 bilhão apenas na semana passada — um grande salto quando comparado aos US$ 2,7 bilhões fornecidos entre 2014 e o início de 2022.

É um "desenvolvimento significativo" e aborda déficits anteriores, de acordo com John Herbst, ex-embaixador dos EUA em Kiev.

"Não há dúvida de que [Biden] e sua equipe têm sido muito tímidos no apoio à Ucrânia."

"E eles responderam a essa pressão", acrescenta Herbst.

O que isso vai significar contra as ofensivas terrestres e aéreas russas?

Especialistas militares dizem que as armas antitanque fornecidas pelos EUA provavelmente terão o maior impacto na Ucrânia.

As forças invasoras russas "são principalmente forças mecanizadas" — no caso, comboios blindados —, então "a melhor coisa que você pode fazer é acabar com eles [os veículos]", diz o ex-coronel do Exército dos EUA Christopher Mayer.

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A Ucrânia recebeu uma variedade de sistemas antitanque de vários países, o que ajuda a aumentar a "letalidade" das forças ucranianas contra veículos russos, segundo Mayer.

"Se você der a eles uma variedade de sistemas antitanque, isso oferece a eles várias oportunidades de atravessar qualquer sistema de proteção de blindagem defensiva específico que o tanque tenha", explica.

E embora suas alegações não possam ser verificadas de forma independente, as autoridades ucranianas dizem que estão usando as armas com sucesso. Em 16 de março, eles afirmam ter destruído mais de 400 tanques e mais de 2 mil outros veículos russos.

Armas antitanque não ajudam, no entanto, a Ucrânia a combater a força aérea russa, que há três semanas ataca alvos em todo o país.

O sistema portátil Stinger, lançado pelo ombro, é a única arma antiaérea incluída no pacote de ajuda dos EUA.

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O sistema tem sido visto em conflitos ao redor do mundo desde 1981. Foi mais famoso no Afeganistão, onde Stingers fornecidos pelos EUA ajudaram a derrubar centenas de aeronaves e helicópteros russos durante a ocupação soviética.

Imagem do Ministério da Defesa ucraniano de um helicóptero russo sendo abatido por suas forças no início de março
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

É eficaz contra helicópteros ou aeronaves voando baixo em até cerca de 3.800 m, tornando-o relativamente inútil contra bombardeiros russos que voam mais alto.

Para Herbst, a menção do governo ao Stingers como parte do pacote de ajuda à Ucrânia é um "sinal de fraqueza".

"Eles precisam de mais Stingers, não há dúvida sobre isso", diz ele. "Mas também precisam de armas antiaéreas de maior altitude... essa é uma omissão séria."

Quais armas os EUA não pretendem enviar?

Embora a Casa Branca tenha sugerido que armas de maior altitude — como o míssil antiaéreo S-300 da era soviética — podem estar indo para a Ucrânia via outros países, nenhum anúncio formal foi feito.

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Autoridades na Eslováquia expressaram vontade de enviar os sistemas para a Ucrânia, desde que recebam uma reposição. Dois outros aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — Grécia e Bulgária — também teriam os sistemas.

Os EUA também rejeitaram a oferta da Polônia de transferir seus caças MiG-29 para a Ucrânia para permitir que se saíssem melhor na disputa nos céus.

Autoridades americanas descreveram a proposta como não "sustentável" devido ao aumento do risco de conflito aberto entre a Otan e a Rússia.

Mayer afirma, no entanto, que a transferência dos MiG-29 ou de jatos similares por aliados dos EUA — com a bênção do governo — seria uma maneira eficaz de ajudar a Ucrânia a lutar pelo controle de seu espaço aéreo.

Ele observou que a União Soviética forneceu aeronaves e pilotos ao Vietnã do Norte para operar contra aeronaves dos EUA sem iniciar um confronto mais amplo.

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O que outros países fizeram?

Os EUA não estão sozinhos no fornecimento de ajuda militar à Ucrânia. Pelo menos 30 outros países forneceram ajuda, incluindo € 500 milhões (US$ 551 milhões) da União Europeia, pela primeira vez na história.

Depois que os EUA anunciaram o novo pacote de assistência, no entanto, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que "mais apoio" era urgentemente necessário.

"Ainda mais do que temos agora", afirmou ele, fazendo um apelo por "sistemas de defesa aérea, aeronaves [e] armas letais e munições suficientes para deter os ocupantes russos".

Mayer acredita que os suprimentos de armas dos EUA prometidos até o momento talvez sejam apenas o suficiente para permitir que os ucranianos "morram heroicamente".

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"Devemos ser mais agressivos em dar a eles o que temos", avalia.

"Devemos pelo menos dar a eles a mesma qualidade e quantidade de coisas que a União Soviética deu ao Vietnã do Norte durante nossa guerra com eles."

Soldados ucranianos descarregando armas antitanque Javelin, fabricadas nos EUA, apenas algumas semanas antes da invasão russa, em 24 de fevereiro
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Herbst afirma que pacotes de assistência adicionais "provavelmente" serão necessários no futuro — e que só serão eficazes se permitirem que a Ucrânia desafie a força aérea russa.

"O essencial para mim é se estamos enviando ou não algo que atinge os meios aéreos russos a 30 mil pés ou acima", diz ele.

Embora nenhum anúncio sólido tenha sido feito até agora, o presidente Biden prometeu que mais ajuda estará a caminho — e que os EUA estão trabalhando para ajudar a Ucrânia a adquirir os sistemas de defesa aérea de longo alcance de que precisa, sem fornecer detalhes.

"Mais estará chegando", declarou.

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