A americana Heather Heyer, de 32 anos, foi a única vítima fatal da violência que tomou conta das tumultuadas manifestações em Charlottesville (Virginia), nos EUA, no fim de semana, que ganharam manchetes do mundo inteiro.
Na sexta-feira, centenas de homens e mulheres carregando tochas, fazendo saudações nazistas e gritando palavras de ordem contra negros, imigrantes, homossexuais e judeus seguiram pelas ruas da cidade de pouco mais de 50 mil habitantes.
No sábado, encorpado por mais membros de organizações de extrema-direita do país, o grupo voltou às ruas da cidade, onde se deparou com manifestações contrárias.
Acompanhada de colegas de trabalho, Heyer, que morava em Charlottesville, foi ao protesto contra o evento dos grupos de extrema-direita.
A assistente jurídica, nascida no Estado de Virgínia, era ativista de direitos civis. Ela morreu depois de ser atropelada por um carro que avançou contra a multidão que participava do protesto.
Autoridades locais afirmaram em um comunicado que "nunca" poderão "compensar a morte de um membro na comunidade" e que "este ato de violência insensível abre um vazio" em seus corações.
Horas após o incidente, o jovem branco de 20 anos chamado James Alex Field foi preso e acusado de homicídio doloso (com intenção de matar), segundo a polícia. A colisão deixou pelo menos outros 19 feridos.
'Heather queria deter o ódio'
A morte de Heyer causou comoção nacional e de milhares de pessoas ao redor do mundo.
Sua mãe, Susan Bro, disse ao site HuffPost que sua filha fora protestar contra a marcha supremacista porque "queria por um fim à injustiça". "Heather era contra o ódio, Heather queria detê-lo", declarou.
"Ela sempre teve um forte senso de certo e errado. Ela sempre, mesmo quando criança, era levada pelo que acreditava ser justo", disse ainda.
Sobre o jovem responsável pelo ataque, Bro ainda comentou ao site: "Ele era muito jovem, eu lamento que ele acredite que o ódio poderia resolver os problemas. O ódio só traz mais ódio".
Os ultranacionalistas que foram à Charlottesville, que fica a duas horas e meia de carro de Washington, tinham como objetivo protestar contra a remoção de uma estátua do general confederado Robert E. Lee, considerado por muitos como um símbolo da escravatura no país.
Embora Heyer não fizesse parte de nenhuma organização de defesa de direitos civis, ela tinha "um forte senso de justiça social, e este era um tema constante de sua vida pessoal e profissional", afirmou à agência Reuters Alfred Wilson, que trabalhou por mais de cinco anos com ela no escritório de advocacia Miller Law Group.
Segundo Wilson, boa parte do trabalho de Heyer consistia em ajudar pessoas no pagamento de dívidas médicas ou evitar que fossem desalojadas.
"Era uma mulher com posturas sólidas" e o "mais importante para ela era a igualdade", afirmou ainda.
Além de ir para as ruas, a assistente jurídica usava as redes sociais para protestar contra o racismo e a xenofobia.
Em sua penúltima publicação no Facebook, em outubro de 2016, ela compartilhou o link do vídeo If you are scared of Islam, meet a Muslim ("Se você tem medo do Islã, conheça um muçulmano"), no qual muçulmanos trazem mensagens de paz e contra o ódio à religião.
Grande apoio
Uma das amigas de Heyer, Felicia Correa, lançou um campanha para levantar fundos para a família da vítima.
Em apenas 18 horas, mais de sete mil pessoas doaram quase US$ 205 mil (R$ 650 mil). Alguns dos doadores propuseram a criação de bolsas de estudo em homenagem a Heyer.
Uma amiga de Heyer, Marissa Blair, que estava com ela na manifestação, disse à BBC que a jovem "queria o melhor para todos".
"Ela entendia que era uma mulher branca e que era privilegiada por isso."
Blair se lembra de ver corpos voando quando o veículo se dirigiu contra os manifestantes. "É uma decisão de um segundo, a única coisa que você consegue pensar é se mover", lembra-se. "Foi um caos".
"Foi um ato deliberado, não foi um acidente", continua. "É um crime de ódio e deveria ser tratado desta forma".