A Casa Branca confirmou a retirada de Mira Ricardel do posto de assessora de segurança nacional do presidente, Donald Trump. A "transição para uma nova função dentro da administração", como anunciou brevemente uma porta-voz da presidência, sucede um pedido de demissão da assessora feito pela Aprimeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump.
"O Gabinete da Primeira Dama acredita que [Mira Ricardel] não merece mais a honra de servir nesta Casa Branca", disse algumas horas antes da retirada de Ricardel a porta-voz Stephanie Grisham em um comunicado.
A mídia americana afirma que a primeira-dama e Mira Ricardel, vice-conselheira de segurança nacional, se desentenderam durante visita oficial à África em outubro.
O posicionamento do gabinete de Melania veio a público num momento em que Trump estaria analisando mudanças na Casa Branca, como retirar o chefe de gabinete John Kelly ou substituir a secretária de Segurança Interna, Kirstjen Nielsen.
Quem é Mira Ricardel
Mira Ricardel tem décadas de experiência no governo dos Estados Unidos, com cargos ocupados em três gestões republicanas.
Ela trabalhava no Departamento de Comércio do governo quando foi contratada pelo conselheiro de segurança nacional, John Bolton, para o cargo de vice.
Antes, havia passado pelos departamentos de Estado e Defesa - este último, durante a presidência de George W. Bush.
Além disso atuou como assessora do então líder republicano do Senado, Bob Dole, e no setor privado, antes de se integrar a equipe de transição presidencial de Trump como consultora do Pentágono.
Ela é filha de um imigrante croata e estudou na Faculdade de Relações Exteriores da Universidade de Georgetown. Posteriormente, fez doutorado na Faculdade Fletcher de Direito e Diplomacia da Universidade Tufts, a mais antiga escola nos Estados Unidos dedicada exclusivamente à gradução em relações internacionais.
Colegas atuais e do passado a descrevem como "conservadora comprometida e especialista em segurança nacional, com personalidade forte".
Inimigos
Mas como vice-conselheira de Segurança Nacional, cargo em que mal durou sete meses, ela colecionou vários inimigos.
Uma reportagem da CNN aponta que, ao longo desse período, ganhou fama por gritar com subordinados, conspirar contra funcionários da Casa Branca dos quais não gostava e vazar histórias sobre seus oponentes na imprensa.
Também teria feito "inimigos pesados" no governo. Teria tido atritos, por exemplo, com o chefe de gabinete John Kelly, seu vice Zach Fuentes e o secretário de Defesa James Mattis.
Melania teria se somado a essa lista no mês passado, na primeira visita oficial que fez à África.
A viagem teria sido motivo de discussão.
De acordo com informações publicadas no jornal The New York Times, Ricardel ameaçou tirar recursos do Conselho de Segurança Nacional da viagem ao descobrir que não teria assento no avião de Melania.
"Quando a viagem acabou, Ricardel fez acusações de comportamento inadequado por parte dos funcionários mais confiáveis da equipe de Melania, incluindo Lindsay Reynolds, chefe de gabinete da primeira-dama - alegações que uma pessoa próxima à primeira-dama afirma que eram falsas", publicou o New York Times.
Durante a viagem, Melania disse ao canal ABC em uma entrevista incomum que há gente na Casa Branca em quem não confia.
Também comentou que dá conselhos e sua opinião sincera ao presidente e, a partir daí, "ele faz o que quer".
Um terremoto à vista
"Manobras nos bastidores e episódios de traição não são novidade nesta administração. Praticamente desde a posse de Trump várias facções vêm disputando o poder político na Ala Oeste (a área da Casa Branca onde trabalham o presidente e os membros mais importantes do governo)", diz Anthony Zurcher, repórter da BBC News em Washington.
"O que é diferente desta vez é que o gabinete da primeira-dama, Melania Trump, decidiu atacar um membro da equipe da Casa Branca publicamente e de forma incisiva", acrescenta.
As primeiras-damas têm uma longa tradição de envolvimento nas questões de pessoal da Casa Branca, diz Zurcher. "Nancy Reagan, por exemplo, tinha desentendimentos constantes com o chefe de gabinete Ronald Reagan. Hillary Clinton frequentemente discutia com os assessores da Casa Branca. É o tipo de coisa, no entanto, que normalmente não vem a público."
Agora, passadas as eleições legislativas, a situação na Casa Branca de Trump parece estar chegando a um ponto crítico, avalia ainda o jornalista.
"O maior confronto se dá entre dois importantes centros de poder, o chefe de gabinete John Kelly e o conselheiro de segurança nacional John Bolton. Todo o resto, incluindo a situação com a primeira-dama, é resultado disso."
É uma situação que, segundo Zurcher, parece difícil de sustentar. "Estes são os pequenos tremores antes de um terremoto de pessoal que está por vir."
O jornal Wall Street Journal também informou que a equipe de Melania acredita que Ricardel está por trás de algumas das "histórias negativas" que têm circulado sobre ela e seu pessoal.
O posicionamento de Melania em relação a Ricardel foi divulgado por meio de sua porta-voz Stephanie Grisham, horas depois de ela ter emitido outro comunicado em que negou que a primeira-dama tenha diferenças com John Kelly.
"A Sra. Trump tem um relacionamento muito positivo com o Chefe Kelly e nunca houve nenhum problema entre eles", disse Grisham.
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