Os ataques coordenados contra Bruxelas ocorreram quatro dias após a prisão, também na capital da Bélgica, do 'homem mais procurado da Europa', Salah Abdeslam, de 26 anos.
Abdeslam foi preso na sexta-feira, após quase quatro meses foragido. Ele é acusado de participação nos atentados contra Paris, que deixaram 130 mortos. Já preso, ele teria confessado sua participação e revelado ter desistido de se explodir no Stade de France.
Até agora, nenhum grupo assumiu autoria dos atentados contra a Bélgica, mas, logo após a prisão de Abdeslam, surgiram suspeitas de que um novo ataque estivesse sendo preparado.
O tempo que demorou para que ele fosse encontrado - justamente no bairro conhecido por ser uma espécie de refúgio de radicais em Bruxelas - Molenbeek- foi considerado um indício de que Abdeslam teria contado com ajuda para se esconder, sugerindo que outros envolvidos continuássem à solta.
O ministro do Exterior da Bélgica, Didier Reynders, fez referência às armas pesadas encontradas nas operações de busca e também à nova rede de apoio descoberta no entorno do suspeito.
Segundo o analista belga Pieter Van Ostaeyen, em entrevista ao jornalHet Nieuwsblad , os ataques desta terça-feira são 'provavelmente' uma resposta à operação que prendeu Abdeslam na semana passada. "Eu esperava que algo fosse ocorrer, mas não nessa escala. Isso indica uma intensa coordenação", disse acrescentando estar clara a marca do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI).
Abdeslam consegui fugir de Paris logo após os ataques, em 13 de novembro de 2015. Seu irmão - Brahim, de 31 anos - morreu nos atentados ao detonar os explosivos que carregava junto ao corpo.
Durante sua fuga, Abdeslam chegou a ser parado pela polícia horas depois dos atentados, mas foi liberado.
Pouco tempo depois, as autoridades se deram conta do erro e o puseram no topo da lista do mais procurados no continente.
Segundo as autoridades, Abdeslam era o responsável pela logística dos ataques. No trajeto Paris – Bruxelas, os três homens pararam em um posto de gasolina perto da fronteira com a Bélgica por 15 minutos, onde as câmeras de segurança os filmaram. Suspeitava-se, portanto, que ele estivesse escondido na própria Bélgica.
Bataclan
Salah Abdeslam foi identificado como a pessoa que alugou o carro Volkswagen Polo encontrado próximo à casa de show Bataclan e que teria sido usado pelos autores do ataque mais fatal naquele dia.
O terceiro irmão de Salah, Mohammed, chegou a ser preso em Molenbeek, mas foi liberado após ser interrogado.
Mohammed disse que não percebeu mudanças no comportamento dos dois irmãos. Eles se tornaram mais religiosos nos últimos tempos, mas que isso não foi visto como sinal de extremismo.
"Não era preocupante nem para mim nem para minha família. Quando seu irmão começa a rezar, não significa necessariamente que virou um radical. Quando seu irmão diz que parou de beber, não é uma mudança para o extremismo. São pessoas que, para nós, queriam se acalmar e ser mais respeitosos em sua prática religiosa."
Salah Abdeslam estava sendo vigiado pela segurança belga, enquanto Brahim tentou viajar à Síria e foi interrogado pela polícia a esse respeito.
No entanto, Mohamed garante que nunca foi informado disso e que sua família nunca soube dessas suspeitas.
Enquanto Brahim morreu depois de ter se explodido em um café em Paris, Salah estava desaparecido até a última sexta-feira.
Mohamed Abdeslam foi assediado pela imprensa desde que acabou detido para ser interrogado. No entanto, ele ressaltou que espera que o público e a imprensa entendam que ele é apenas "irmão de Salah Abdeslam" e nada mais do que isso.
E ele repete que sua família vai muito além do que aquilo que está sendo transmitido na televisão. "Meus irmãos não representam o que somos."
Mohamed Abdeslam foi preso e interrogado em 14 de novembro do ano passado, um dia depois dos ataques em Paris. Depois de ficar detido por 36 horas, o juiz lhe concedeu liberdade incondicional.
Na última sexta, junto com Salah Abdeslam, outras quatro pessoas foram presas, suspeitas de participarem de atividades terroristas.
O presidente francês, François Hollande disse que essas prisões – principalmente a de Abdeslam – significam um "momento muito importante".
"A batalha contra o terrorismo não acaba aqui, mas isso é uma vitória", afirmou em entrevista coletiva.
"Precisamos pegar todos aqueles que permitiram, organizaram ou colaboraram com esses ataques e nós hoje percebemos que eles são muito mais numerosos do que nós pensávamos antes."
As autoridades já identificaram a maioria das pessoas que eles acreditam ter participado dos ataques de novembro passado, e Hollande avisou que mais prisões podem estar por vir.