Israel continua sua ofensiva militar contra seus inimigos no Oriente Médio.
O exército israelense lançou, na quinta-feira (26/12), uma série de ataques no Iêmen contra "alvos militares" dos rebeldes houthis.
Segundo Israel, os ataques ocorreram porque estes rebeldes apoiados pelo Irã tinham "atacado repetidamente" Israel.
Pelo menos três pessoas morreram, segundo a mídia controlada pelos houthis.
Duas pessoas morreram durante o ataque ao aeroporto internacional da capital do Iêmen, Sanaa.
O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, estava no aeroporto, prestes a embarcar em um voo no momento do ataque.
Adhanom Ghebreyesus e outros membros das Nações Unidas não foram atingidos.
Israel também atacou duas importantes usinas de energia e portos controlados pelos houthis. Segundo Israel, esses locais são usados para "transportar armas iranianas" e permitir a entrada de autoridades iranianas no país (leia sobre a origem da rivalidade entre Israel e Irã nesta reportagem).
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que continuará atacando "o eixo do mal iraniano".
O Irã, por sua vez, descreveu os ataques como uma "violação da segurança e da paz internacionais".
Há mais de um ano que Israel realiza uma forte ofensiva contra seus inimigos na região, incluindo o grupo armado Hamas na Faixa de Gaza, a milícia Hezbollah no Líbano e os rebeldes houthis no Iêmen, um grupo xiita aliado do Irã e do Hamas.
No fim de setembro, Israel realizou uma "operação aérea em grande escala" neste país, bombardeando vários alvos houthis.
Mas quem são os houthis e o que procuram estes rebeldes?
Quem são os rebeldes houthis?
Os houthis são um grupo armado iemenita da minoria muçulmana xiita do país, os zaiditas.
O grupo foi formado nos anos 1990, para combater o que eles consideravam ser corrupção do então presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh (1942-2017).
O nome do movimento vem do seu fundador, Houssein al Houthi (1959-2004). Eles também se autodenominam Ansar Allah (Partidários de Deus).
Após a invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos em 2003, os houthis adotaram o slogan: "Deus é grande. Morte aos Estados Unidos. Morte a Israel. Maldição aos judeus e vitória para o Islã."
Eles se declaram parte do "eixo da resistência" liderado pelo Irã contra Israel, os Estados Unidos e o Ocidente em geral - em conjunto com o Hamas e o Hezbollah.
Em 2011, o grupo aderiu à chamada Primavera Árabe e participou de protestos massivos que obrigaram Saleh a entregar o poder ao seu vice, Abdrabbuh Mansour Hadi.
E foi no início de 2014 que os houthis ganharam grande força política no Iêmen, quando se levantaram contra o presidente iemenita Abdrabbuh Mansour Hadi.
Eles chegaram a um acordo com seu antigo inimigo e tentaram conduzir Saleh de novo ao poder.
Os rebeldes tomaram o controle da província de Saada, no norte do Iêmen. E, no início de 2015, eles capturaram a capital do país, Sana, forçando o presidente Hadi a fugir para o exterior.
A Arábia Saudita, vizinha do Iêmen, interveio militarmente para tentar derrubar os houthis e reempossar Hadi na presidência. A ação teve o apoio do Bahrein e dos Emirados Árabes Unidos.
Os houthis repeliram os ataques e continuaram a controlar grandes partes do Iêmen.
Eles assassinaram Ali Abdullah Saleh em 2017, quando ele tentou trocar de lado e aliar-se aos sauditas.
Uma trégua foi alcançada no final de 2022, encerrando os combates entre o grupo e a coligação liderada pelos sauditas.
O atual líder dos houthis é irmão do fundador do grupo, Abdul Malik al Houthi.
Apoiadores
Os rebeldes houthis seguem o modelo do grupo armado xiita no Líbano, o Hezbollah.
A organização libanesa fornece extensos treinamentos e conhecimentos militares aos houthis desde 2014, segundo o instituto de pesquisa americano Centro de Combate ao Terrorismo.
Os houthis também consideram o Irã como aliado, já que a Arábia Saudita é seu inimigo comum. O Irã é suspeito de fornecer armas aos rebeldes houthis.
Os Estados Unidos e a Arábia Saudita afirmam que o Irã forneceu os mísseis balísticos disparados pelos houthis sobre a capital saudita, Riad, em 2017. Os mísseis foram derrubados.
A Arábia Saudita também acusa o Irã de fornecer drones e mísseis de cruzeiro usados pelos houthis para atacar instalações petrolíferas sauditas em 2019.
Os houthis dispararam dezenas de milhares de mísseis de curto alcance em direção à Arábia Saudita e também atacaram alvos nos Emirados Árabes Unidos.
O fornecimento dessas armas desrespeitaria um embargo das Nações Unidas, e o Irã nega as acusações.
Qual o poder dos rebeldes houthis?
O órgão oficial de governo do Iêmen é o Conselho de Liderança Presidencial. O presidente Abdrabbuh Mansour Hadi transferiu seus poderes para o conselho em abril de 2022.
Sua sede fica em Riad, na Arábia Saudita. Mas a maior parte da população iemenita vive em regiões controladas pelos houthis e a organização cobra impostos no norte do país, além de emitir dinheiro.
O Conselho de Segurança da ONU menciona um especialista no movimento houthi, Ahmed al-Bahri, que afirma que, em 2010, os houthis tinham 100 mil a 120 mil seguidores. Esse contingente é composto de soldados armados e apoiadores desarmados.
As Nações Unidas também afirmam que cerca de 1,5 mil crianças recrutadas pelos rebeldes houthis morreram em combate em 2020, além de outras centenas no ano seguinte.
Os houthis controlam grande parte do litoral do Mar Vermelho, de onde eles lançam seus ataques aos navios.