Forças rebeldes entraram na capital da Síria, Damasco, e há relatos de que o presidente Bashar al-Assad fugiu do país de avião para um local desconhecido. A informação foi confirmada pela Rússia neste domingo (8/12).
Em um pronunciamento na televisão, o grupo disse que a cidade havia sido "libertada e o tirano Bashar al-Assad foi derrubado".
"Viva uma Síria livre e independente para todos os sírios de todas as seitas", eles disseram.
A ofensiva relâmpago, coordenada pelo líder dos insurgentes, Abu Mohammed al-Jawlani, começou com a captura repentina de Aleppo no final de novembro. Isso parece ter desencadeado eventos que derrubaram o fim do regime em menos de duas semanas.
Está sendo noticiado que muitos militares sírios deixaram seus postos ou desertaram para a oposição.
O ataque inicial foi liderado pelo grupo militante islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) — que tem uma longa história no conflito sírio.
O HTS é designado como uma organização terrorista pela ONU, EUA, Turquia e outros países.
As forças rebeldes lançaram a maior ofensiva contra o governo da Síria em anos.
Após controlar Aleppo, eles tomaram a cidade de Hama e estavam se reunindo do lado de fora de Homs, mais ao sul.
No sul da Síria, perto da fronteira com a Jordânia, rebeldes locais teriam capturado a maior parte da região de Deraa, o berço da revolta de 2011 contra o presidente Bashar al-Assad.
A ofensiva surpresa no norte encontrou pouca resistência dos militares sírios, que retiraram suas tropas de Aleppo, bem como de Hama e outras áreas.
Mas quem são os militantes do HTS?
O grupo tem uma longa história no conflito sírio. Ele é designado como uma organização terrorista pela ONU (Organização das Nações Unidas), pelos EUA, pela Turquia e por outros países.
O que é o Hayat Tahrir al-Sham?
O HTS foi criado com um nome diferente, Jabhat al-Nusra, em 2011, como um afiliado direto da Al Qaeda.
O líder do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Baghdadi, também estava envolvido em sua formação.
O HTS foi considerado um dos grupos mais eficazes e mortais contra o presidente Assad em 2011.
Mas sua ideologia jihadista parecia ser sua força motriz - e na época o grupo foi visto como opositor da principal coalizão rebelde sob a bandeira da Síria Livre.
E em 2016, o líder do grupo, Abu Mohammed al-Jawlani, rompeu publicamente com a Al Qaeda, dissolveu a Jabhat al-Nusra e criou uma nova organização, que assumiu o nome de Hayat Tahrir al-Sham quando se fundiu com vários outros grupos parecidos um ano depois.
Já faz algum tempo que o HTS estabeleceu sua base de poder na província noroeste de Idlib, onde ocupa o governo local. Seus esforços em direção à legitimidade, no entanto, foram manchados por denúncias de violações de direitos humanos.
O HTS também teve dissidências internas e brigas com outros grupos.
Desde que rompeu com a Al Qaeda, seu objetivo tem se limitado a tentar estabelecer um governo islâmico fundamentalista na Síria, em vez de um califado mais amplo, como o Estado Islâmico tentou fazer (e falhou).
Até agora, o grupo havia mostrado poucos sinais de tentar reacender o conflito sírio em grande escala. Não parecia interessado em desafiar o governo de Assad pelo domínio do resto do país.
Mas a situação mudou em pouco mais de uma semana, e agora os rebeldes ameaçam tomar o controle do país.
Por que há uma guerra na Síria?
Em março de 2011, manifestações pró-democracia irromperam na cidade de Deraa, no sul do país, inspiradas por levantes em países vizinhos contra governantes autoritários.
Quando o governo sírio usou força letal para esmagar a dissidência, protestos exigindo a renúncia do presidente irromperam em todo o país.
A agitação se espalhou e a repressão se intensificou.
Os apoiadores da oposição pegaram em armas, primeiro para se defender e depois para livrar suas áreas das forças de segurança.
O presidente Assad prometeu esmagar o que ele chamou de "terrorismo apoiado por estrangeiros".
Centenas de grupos rebeldes surgiram, potências estrangeiras começaram a tomar partido e organizações jihadistas extremistas, como o grupo Estado Islâmico (EI) e a Al-Qaeda, se envolveram.
A violência aumentou rapidamente e o país mergulhou em uma guerra civil em grande escala, atraindo potências regionais e mundiais.
Mais de meio milhão de pessoas foram mortas e 12 milhões foram forçadas a fugir de suas casas, cerca de cinco milhões das quais são refugiados ou pedem asilo no exterior.
Como começou a atual ofensiva rebelde?
A guerra na Síria parecia ter acabado na prática nos últimos quatro anos.
O governo do presidente Bashar al-Assad não enfrentava levantes na maior parte do país, enquanto algumas outras partes da Síria permaneciam fora de seu controle direto.
Isso inclui áreas de maioria curda no leste, que estão mais ou menos separadas do controle do estado sírio desde os primeiros anos do conflito.
Houve alguma agitação contínua, embora relativamente silenciosa, no sul, onde a revolução contra o governo de Assad começou em 2011.
No vasto deserto sírio, os resistentes do grupo Estado Islâmico ainda representam uma ameaça à segurança, principalmente durante a temporada de caça às trufas, quando as pessoas vão para a área para encontrar a iguaria altamente lucrativa.
E no noroeste, o controle da província de Idlib foi mantido por grupos jihadistas que foram para lá no início da guerra.
O HTS, a força dominante em Idlib, é quem lançou o ataque surpresa a Aleppo.
Por vários anos, Idlib permaneceu um campo de batalha enquanto as forças do governo sírio tentavam retomar o controle.
Mas havia um acordo de cessar-fogo em 2020 intermediado pela Rússia, que há muito tempo é a principal aliada de Assad, e pela Turquia, que apoiou os rebeldes.
Cerca de quatro milhões de pessoas vivem lá - a maioria delas deslocadas de vilas e cidades que as forças de Assad reconquistaram dos rebeldes em uma guerra brutal.
Aleppo foi um dos campos de batalha mais sangrentos e representou uma das maiores derrotas dos rebeldes.
Para alcançar a vitória, o presidente Assad não podia depender apenas do exército mal equipado e mal motivado do país, que logo se tornou perigosamente dispersado e incapaz de manter posições contra ataques rebeldes.
Em vez disso, ele passou a depender fortemente do poder aéreo russo e da ajuda militar iraniana em terra - principalmente por meio de milícias militares patrocinadas por Teerã - entre elas, o Hezbollah.
Há pouca dúvida de que o revés que o Hezbollah sofreu recentemente com a ofensiva de Israel no Líbano, bem como os ataques israelenses a comandantes militares iranianos na Síria, desempenhou um papel significativo na decisão de grupos jihadistas e rebeldes em Idlib de fazer seu movimento repentino e inesperado em Aleppo.
Nos últimos meses, Israel intensificou seus ataques a grupos ligados ao Irã, bem como suas linhas de suprimento, infligindo sérios danos às redes que mantiveram essas milícias operando na Síria, incluindo o Hezbollah..
Sem elas, as forças do presidente Assad ficaram expostas.
*com reportagem de Maia Davies