Os rebeldes do M23 estão perto de conquistar Goma, principal cidade do leste da República Democrática do Congo (RDC) e situada na fronteira com Ruanda, que apoia a revolta contra o governo de Kinshasa.
Os conflitos provocaram uma fuga em massa de cerca de 3 mil detentos da penitenciária local, e jornalistas de veículos internacionais, como a agência AFP, relataram tiros de artilharia pesada no centro da capital do Kivu do Norte, província que é o principal bastião do M23.
Segundo o porta-voz do Exército congolês, Ronald Rwivanga, pelo menos cinco civis ruandeses foram mortos e 25 ficaram gravemente feridos em Gisenyi, no lado de Ruanda da fronteira.
Funcionários das Nações Unidas em Goma e suas famílias foram evacuados de ônibus até Kigali, capital do país vizinho e de onde poderão pegar aviões para seus países, de acordo com a imprensa local.
Já o governo da Bélgica, que colonizou tanto o Congo quanto Ruanda, definiu a situação como "absolutamente inaceitável". "A soberania e a integridade territorial da República Democrática do Congo devem ser respeitadas por todos, em todos os lugares e em todos os momentos", disse o ministro belga das Relações Exteriores, Bernard Quintin. A França também cobrou o fim da ofensiva.
O M23 é composto por desertores do Exército congolês que antes pertenciam a milícias integradas às Forças Armadas. O grupo atua na província do Kivu do Norte, região rica em minérios e palco de conflitos há mais de três décadas.
A milícia e soldados ruandeses entraram na noite de domingo (26) no centro de Goma, uma metrópole de mais de 1 milhão de habitantes e um número semelhante de pessoas deslocadas.
Em publicação no X, o porta-voz do presidente Félix Tshisekedi, Patrick Muyaya, declarou que o governo trabalha para evitar uma "carnificina e a perda de vidas" e recomendou que a população de Goma "fique em casa e abstenha-se de praticar atos de vandalismo e saques". "Somos todos guardiães do nosso território! Nenhum centímetro será abandonado!", garantiu.
O M23, por sua vez, celebrou a "libertação de Goma" e conclamou os soldados do Exército a entregarem as armas.
A RDC e Ruanda mantêm relações hostis há várias décadas, situação que se intensificou na esteira do genocídio contra os tutsis em 1994. Paul Kagame, herói da libertação contra os genocidas, assumiu o poder em 2000 e não deixou mais o cargo, sendo acusado por Kinshasa de querer tomar posse das riquezas minerais do Kivu do Norte, o que ele nega.
Tanto Kagame quanto Tshisekedi devem participar de uma reunião na próxima quarta-feira (29) mediada pelo Quênia, enquanto a RDC pediu à ONU sanções internacionais contra Ruanda.
Kigali, por sua vez, alega que os combates entre o M23 - grupo formado majoritariamente por tutsis - e o Exército congolês representam uma ameaça à segurança e à integridade territorial do país, justificando a participação ruandesa no conflito.
A milícia chegou a ocupar Goma no fim de 2012, mas foi derrotada pelo Exército e assinou um acordo de paz em 2013. O grupo, no entanto, voltou à ativa no fim de 2021. .