Após mais de 300 anos de união, escoceses opinam sobre separação do Reino Unido em referendo marcado para setembro. O governo britânico decidiu intensificar a campanha contra o referendo sobre a independência da Escócia, marcado para o dia 18 de setembro. Nesta semana, o secretário-chefe do Tesouro britânico, Danny Alexander, irá Edimburgo tentar "desfazer mitos" que cercam as reivindicações feitas pelos defensores da separação.
Em nota divulgada neste domingo, o Tesouro britânico declarou que Alexander dirá que as suposições do governo escocês sobre as receitas do petróleo são demasiado otimistas e acusará o governo em Edimburgo de falhar na avaliação do impacto do envelhecimento da população escocesa sobre as finanças do país.
Diante do referendo sobre a independência em setembro, a campanha do governo britânico para manter intacta a união de 307 anos com a Escócia luta para assegurar a vantagem que tem sobre os nacionalistas escoceses. Essa vantagem, no entanto, vem caindo nos últimos meses. Para os grupos pró-separação, a independência daria mais liberdade à Escócia para criar uma nação mais justa e próspera.
Entrada na UE
Os nacionalistas acusam Londres e seus apoiadores escoceses de empreender uma campanha de medo em torno da moeda, da adesão à União Europeia e das finanças públicas a fim de forçar os 5,3 milhões de escoceses a permanecer no Reino Unido. O Tesouro britânico afirmou que seus funcionários passaram meses analisando o possível impacto da independência da Escócia sobre a economia e que publicará os resultados nas próximas semanas.
Caso decidam pela independência, o governo da Escócia anunciou querer entrar na União Europeia. No entanto, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barrosos, afirmou no início do ano que a dificuldade de acesso de um novo Estado ao bloco, como pode vir a ser o caso da Escócia, está relacionada com a aprovação da adesão por parte de todos os países-membros da UE.
O governo escocês já declarou também que a UE não poderá obrigar a Escócia – no caso de uma adesão ao bloco europeu – a adotar o euro, sublinhando que seria viável à possível nova nação manter a libra esterlina, uma opção que já foi negada por Londres.
Maioria ainda contra separação
Pesquisas mostram que o apoio à independência escocesa está crescendo. Em meados de abril, uma pesquisa do instituto de opinião pública TNS apontou que 29% dos escoceses têm a intenção de dizer "sim" à separação da Escócia do Reino Unido no referendo de 18 de setembro. O índice representa um aumento de um ponto percentual em relação ao mês anterior.
No entanto, a mesma pesquisa registrou que 41% dos entrevistados devem dizer "não" à separação, enquanto 30% ainda estão indecisos. Desde que a primeira pesquisa foi realizada, em setembro do ano passado, a diferença entre os votos contrários e favoráveis à independência diminuiu em sete pontos percentuais, com registro de avanço dos nacionalistas.
O número de escoceses dispostos a votar cresceu desde então – de 65% contra 74% na atual pesquisa. Segundo o diretor do Instituto TNS na Escócia, Tom Costley, isso demonstra a "tomada de consciência sobre a importância do referendo." Costley sublinhou ainda que "grande parte dos indecisos declarou ter intenção de votar e que a campanha deverá ter bastante influência sobre o resultado final."
Prós e contras
Cinco meses antes do referendo, Londres e Edimburgo empreenderam uma ofensiva pelos votos dos escoceses. Neste mês, em Aberdeen, bastião da indústria petroleira na Escócia, o chefe de Governo escocês, Alex Salmond, fez campanha pelos votos dos eleitores do Partido Trabalhista, no congresso do seu Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês).
O Partido Trabalhista britânico, da oposição, assim como a coalizão de governo formada por conservadores e liberal-democratas do Reino Unido, rejeita uma separação da Escócia.
Na última quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, marcou o Dia de São Jorge, comemorado nacionalmente em 23 de abril, com um apelo aos escoceses para continuar a fazer parte da "maior família de nações do mundo."
"Em apenas cinco meses, o povo da Escócia irá às urnas decidir se querem continuar a fazer parte desta história de sucesso global. Então, vamos provar que podemos ser orgulhosos de nossos distintos países e assumir o compromisso pela união das nações", disse Cameron.
História centenária
Atualmente, a Escócia possui o seu próprio Parlamento com sede em Edimburgo. Isso remonta a uma história de mais de 400 anos. Em 1603, após a morte de Elizabeth 1°, James 6° da Escócia sucedeu ao trono inglês como James 1°. Em 1707, as Leis de União uniram formalmente a Escócia com a Inglaterra e o País de Gales em Grã-Bretanha. Em consequência, o Parlamento da Escócia se fundiu com o Parlamento inglês, sediado em Londres.
Durante a Revolução Industrial, a Escócia transformou-se numa das potências comerciais e industriais da Europa. Após a Segunda Guerra Mundial, porém, a economia escocesa entrou em declínio.
Nos últimos anos, o país vem passando por um renascimento econômico através do setor de serviços e do dinheiro proveniente do petróleo e gás do Mar do Norte. Após um referendo em 1997, o Parlamento da Escócia foi restaurado por meio da Lei da Escócia de 1998, que devolveu algumas competências legislativas ao país.