Repúdio a violinista que tocou sem véu em partida de futebol divide cidade sagrada do Iraque

7 ago 2019 - 13h11

A partida deveria ter sido motivo para os jovens iraquianos comemorarem. Sua seleção de futebol derrotou o Líbano por 1 x 0 na primeira disputa internacional competitiva realizada pelo Iraque em anos na cidade sagrada de Kerbala, que teve até uma cerimônia de abertura com música e dança.

A violinista Joelle Saade toca o hino nacional do Iraque durante abertura do Campeonato da Federação de Futebol da Ásia Ocidental em Kerbala, no Iraque
30/07/2019
REUTERS
A violinista Joelle Saade toca o hino nacional do Iraque durante abertura do Campeonato da Federação de Futebol da Ásia Ocidental em Kerbala, no Iraque 30/07/2019 REUTERS
Foto: Reuters

Mas o evento recebeu críticas do alto escalão, o que muitos dos jovens locais dizem mostrar o vácuo que os separa do establishment político e religioso.

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Na cerimônia de abertura da semana passada do Campeonato da Federação de Futebol da Ásia Ocidental, um torneio de países árabes sediado no Iraque, uma violinista libanesa sem o véu islâmico e com os braços descobertos tocou o hino nacional do Iraque.

Muitos iraquianos ficaram exultantes de ver tal cerimônia, típica de torneios de futebol internacionais, finalmente acontecer em seu solo depois que a Fifa, entidade que governa o futebol mundial, suspendeu em parte no ano passado uma proibição que vigorava desde 1990 a partidas competitivas no Iraque por razões de segurança.

A dotação do país muçulmano xiita, que administra propriedades e sítios religiosos e tem apoio de políticos conservadores, logo repudiou a apresentação, dizendo que ela "transgrediu fronteiras religiosas e padrões morais... e violou a santidade de Kerbala".

O Ministério da Juventude e dos Esportes do Iraque, que organizou a cerimônia, a princípio a defendeu, e depois disse: "O ministério se coordenará com órgãos oficiais para evitar qualquer cena que contraste com a santidade da província".

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Para muitos iraquianos, especialmente mulheres, foi um lembrete do poder que autoridades islâmicas, partidos islâmicos e políticos conservadores apoiados pelo Irã ainda exercem depois de anos de conflito e matança sectária enquanto o Iraque tenta se recuperar e se abrir para o mundo externo.

"Pensamos que o evento foi uma mensagem positiva, que uma vida mais normal pode chegar a Kerbala", disse Fatima Saadi, uma dentista de 25 anos, sentada em uma cafeteria de Kerbala.

"A maioria de nós rejeitou os comentários dos políticos - o terreno sagrado é onde os santuários estão, mas fora destes lugares existe uma vida diferente".

Kerbala é solo sagrado para os xiitas. Ela abriga o santuário do imã Hussein, neto do profeta Maomé e o imã xiita mais reverenciado, que morreu em batalha.

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"Os políticos e as autoridades religiosas estão alienados. Eles não entendem o que as ruas querem ou a natureza da sociedade iraquiana", disse Dhikra Sarsam, ativista civil de Bagdá.

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