O setor hoteleiro da região costeira do Quênia, no Oceano Índico, e dos parques de vida selvagem disseram que os turistas começaram a cancelar viagens para o país, situado no leste da África, depois que um grupo de militantes islamistas armados matou na semana passada 148 pessoas em um campus universitário.
Relatos aterrorizantes de sobreviventes sobre como homens armados do grupo militante Al Shabaab, da Somália, perseguiram e mataram os estudantes chocaram o Quênia e desferiram um novo golpe nos planos do presidente Uhuru Kenyatta para impulsionar o setor do turismo.
Parte vital da maior economia do leste da África, a indústria do turismo do Quênia vem encolhendo desde 2013, quando Al Shabaab atacou um shopping center de luxo na capital, Nairóbi, matando 67 pessoas durante um sangrento cerco de quatro dias.
Depois disso, repetidos ataques do Al Shabaab e alertas sobre o risco de viagens ao país, emitidos pelos governos da Grã-Bretanha, Estados Unidos e Austrália, esvaziaram as praias repletas de palmeiras do Quênia e os hotéis se viram forçados a despedir funcionários.
Empresários de hotéis dizem que o ataque antes do amanhecer em um campus em Garissa, cidade situada a 200 quilômetros da fronteira com a Somália, longe do circuito turístico, deve provocar uma nova onda de demissões no setor de hospedagem.
"Estávamos à espera de turistas do Reino Unido, Alemanha, França, Austrália e do continente asiático, mas eles cancelaram as reservas quando souberam do ataque terrorista", disse Peter Kipeno, proprietário de um acampamento com tendas de luxo na reserva de vida selvagem de Maasai Mara, no Quênia, situada a cerca de 600 quilômetros de Garissa.
Kipeno, cujo acampamento tem 25 camas, disse que 19 visitantes cancelaram as reservas na quinta-feira, depois que ficou claro que a invasão do campus havia sido o ataque mais letal em solo queniano desde 1998, quando um atentado da Al Qaeda contra a embaixada dos Estados Unidos matou mais de 200 pessoas.
Ao longo da volátil região costeira do Quênia, onde 23 hotéis fecharam nos primeiros três meses do ano, os empresários do setor também relataram cancelamentos, mas disseram que a verdadeira extensão dos danos ficará mais clara na terça-feira, quando os operadores turísticos europeus retornarem ao trabalho após o feriado de Páscoa.
"O ataque a Garissa simplesmente selou nosso destino", declarou à Reuters, em Mombasa, Mohammed Hersi, um veterano hoteleiro queniano, presidente da Associação de Turismo na Costa do Quênia.
Hersi disse que recentemente houve cortes de 20 a 30 por cento nos salários na gerência e na equipe de sua luxuosa rede de hotéis, o Grupo Heritage, na esperança de evitar demissões durante um dos piores períodos para o setor de turismo do Quênia na história recente.
"Pode ser que tenhamos de ir mais longe e até mesmo demitir pessoal, porque não podemos arcar nem mesmo com essa massa salarial reduzida."
Militantes da Al Shabaab mataram mais de 400 pessoas no Quênia desde abril de 2013, enquanto o governo queniano tenta impedir que combatentes e armas cheguem pelos 700 quilômetros de fronteira com a Somália.
(Reportagem adicional de Edith Honan, em Nairóbi)