"Foi um fracasso". É assim que Rafael Zimmermann, sobrevivente do ataque do Hamas ao festival de música eletrônica no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, avalia a recuperação dos reféns sequestrados pelo grupo extremista. “Em um ano e três meses, os sequestrados não voltaram para casa”, lamenta.
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Zimmermann deixou o Brasil em busca de segurança. Depois de ser assaltado duas vezes à mão armada, mudou-se para Tel Aviv, Israel, em maio de 2023. O que ele não imaginava era que, cinco meses depois, enfrentaria um cenário ainda mais aterrorizante.
Ele era um dos presentes no festival de música eletrônica Supernova, no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas lançou um ataque devastador, rompendo o cessar-fogo com Israel. Mais de 1,2 mil civis foram mortos e 251 pessoas foram sequestradas. Ele havia ido ao evento com dois amigos, Ranani Glazer e Rafaela Treistman. Quando os primeiros disparos foram ouvidos, correram para um bunker próximo, onde cerca de 40 pessoas tentavam se proteger.
A proteção, no entanto, não foi suficiente. "Nosso bunker foi atacado pelos terroristas. Tinham 40 pessoas lá e no final sobreviveram só 9. Eu fiquei durante 5 horas me fingindo de morto embaixo dos corpos", contou Zimmermann em uma entrevista concedida na sinagoga Etz Chaim, em São Paulo. "Naquele momento, eu pedi a Deus para morrer."
Apesar do desespero, ele conseguiu escapar com vida, assim como sua amiga Rafaela. Glazer, porém, não teve a mesma sorte. "Eu vi meu amigo ser assassinado. Tenho traumas que vão durar pelo resto da vida", disse. "As pessoas que tentaram sair [do bunker] foram mortas ou sequestradas."
Aos 28 anos, Zimmermann se tornou um ativista contra o antissemitismo e em defesa da paz. Ele atua como embaixador do movimento Pin For Peace, que utiliza broches para promover a causa, e trabalha como analista educacional da ONG StandWithUs, que organiza palestras e debates sobre o conflito no Oriente Médio.
No último domingo, 26, ele participou de uma cerimônia na sinagoga Etz Chaim, onde velas foram acesas em memória dos 6 milhões de judeus mortos no Holocausto. Uma sétima vela, excepcionalmente, foi acesa por Zimmermann, homenageando as vítimas do ataque de 7 de outubro.
O impacto da guerra
O ataque do Hamas desencadeou uma resposta militar de Israel que se estendeu por 15 meses, com bombardeios intensos sobre a Faixa de Gaza. O saldo da ofensiva já ultrapassa 46 mil mortos. Pesquisadores norte-americanos estimam que quase 60% das construções do território foram destruídas. Além disso, a ONU calcula que metade dos hospitais da região foi desativada e 68% das estradas foram danificadas.
Em 19 de janeiro deste ano, um acordo de trégua foi firmado, permitindo a libertação de mais de 90 reféns ainda sob posse do Hamas. Outros 157 haviam sido soltos em negociações anteriores.
Questionado sobre a condução do conflito pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Zimmermann evitou aprofundar a análise, mas foi direto: "Não sou cientista político, não sou especializado para falar, mas em um ano e três meses os sequestrados não voltaram para casa. Então, foi um fracasso."
Nos últimos dias, novas trocas de prisioneiros têm sido realizadas como parte da tentativa de cessar-fogo. No sábado, 1º, três reféns israelenses foram libertados pelo Hamas em troca de dezenas de prisioneiros palestinos. Entre os resgatados estava Keith Siegel, um americano que foi sequestrado em outubro. Sua esposa, Aviva, havia sido libertada em novembro.
Enquanto isso, no lado palestino, 183 prisioneiros foram soltos por Israel --entre eles, combatentes condenados à prisão perpétua e detidos sem acusação formal.