A polícia canadense anunciou que um dos dois suspeitos de conduzir esfaqueamentos em massa no domingo (4/9), Myles Sanderson, morreu "pouco depois" de ser preso nesta quarta-feira (7/9) em Rosthern, na província de Saskatchewan.
Em uma entrevista coletiva, a comissária assistente da polícia Rhonda Blackmore disse que Myles foi detido enquanto dirigia um carro roubado pela estrada, até ser forçado para fora da via pelos agentes. Pouco depois, segundo Blackmore, o homem de 32 anos passou por "problemas médicos" e foi levado para um hospital, onde ele foi declarado morto.
O outro suspeito dos ataques que deixaram dez mortos e 18 feridos no domingo, Damien Sanderson, foi encontrado morto na segunda-feira (5/9). Damien e Myles eram irmãos, e a polícia investiga se Damien foi morto por Myles.
A notícia da captura de Myles veio logo depois que um alerta foi disparado a celulares canadenses na tarde de quarta-feira alertando a população perto da cidade de Wakaw para que buscasse "abrigo imediato" porque um homem portando uma faca foi visto dirigindo na área.
Rosthern, onde Myles Sanderson foi preso, fica a 44 km de Wakaw.
Mais cedo na quarta-feira, os pais dos irmãos Sanderson fizeram um apelo em entrevista à emissora CBC News para que Myles se entregasse à polícia.
"Quero me desculpar pelo meu filho, pelos meus filhos", disse a mãe deles. "Não sabemos toda a história, mas quero pedir desculpas a todos que foram feridos e afetados por essa terrível situação".
Documentos judiciais mostram que Myles Sanderson tinha uma extensa ficha criminal, incluindo 59 condenações criminais desde os 18 anos — por agressões, ameaças e roubos, entre outros.
O conselho de liberdade condicional do Canadá disse que revisaria por que Myles Sanderson foi libertado mais cedo da prisão enquanto cumpria uma sentença de quatro anos por vários crimes violentos. A polícia procurava por Myles desde maio, quando ele parou de cumprir seus encontros com a assistência social e foi classificado como "ilegalmente foragido".
O corpo do irmão dele, Damien Sanderson, foi encontrado na remota comunidade indígena James Smith Cree Nation, onde estavam muitas das vítimas. Houve assassinatos também nas proximidades da vila de Weldon.
A comissária assistente da polícia Rhonda Blackmore disse em entrevista coletiva que o "corpo de Damien foi localizado ao ar livre em uma área de gramado nas proximidades de uma das casas que estava sob perícia".
Blackmore disse que o corpo de Damien foi encontrado com "ferimentos visíveis" e que, até o momento, "não se acredita que tenham sido autoinfligidos".
Os assassinatos de domingo abalaram a província tipicamente pacífica de Saskatchewan, onde a polícia analisa 13 diferentes cenas do crime.
"Esse tipo de violência, ou qualquer tipo de violência, não tem lugar em nosso país", disse o primeiro-ministro Justin Trudeau na segunda-feira (5/9).
Buscas pelos suspeitos
Quando as notícias dos esfaqueamentos foram divulgadas, um alerta de pessoa perigosa foi enviado para todos os celulares cadastrados nas províncias de Saskatchewan, Manitoba e Alberta — uma região enorme com quase metade do tamanho da Europa.
"Fique num local seguro. Tenha cuidado ao permitir que outras pessoas entrem em sua residência", alertou a Polícia Montada Real Canadense de Saskatchewan (RCMP) aos moradores da região.
Vários postos de controle foram montados e os motoristas receberam a orientação de não dar carona a estranhos.
Rhonda Blackmore, comandante da RCMP de Saskatchewan, disse que algumas pessoas podem ter sido alvos específicos do ataque, enquanto acredita-se outras que foram "esfaqueadas aleatoriamente".
Os investigadores se recusaram a especular sobre os motivos por trás do ataque, mas o chefe Bobby Cameron, da Federação das Nações Soberanas Indígenas, sugeriu que o caso pode estar relacionado a drogas.
"Esta é a destruição que enfrentamos quando drogas ilegais nocivas invadem nossas comunidades, e exigimos que todas as autoridades sigam a direção dos chefes e dos conselhos para criar comunidades mais seguras e saudáveis para o nosso povo", disse Cameron.
A primeira chamada de emergência foi feita para a polícia às 5h40 da manhã de domingo no horário local (8h40 de Brasília), para a capital da província, Regina, a cerca de 280 km ao sul de Weldon.
Logan Stein, um jornalista local, disse à BBC que a região onde o ataque aconteceu é remota. Ele relatou que os suspeitos parecem ter ido de porta em porta esfaqueando os moradores.
O chefe dos Chakastaypasin, Calvin Sanderson — um dos líderes eleitos da região — disse ao jornal Regina Leader Post que todos na comunidade foram afetados.
"Eles eram nossos familiares e amigos. Na maioria, somos todos parentes aqui, então é muito difícil", afirmou Sanderson. "É muito horrível."
A moradora de Weldon, Diane Shier, contou que seu vizinho, um homem que morava com o neto, foi morto, de acordo com o jornal Globe and Mail.
Outro residente, Robert Rush, declarou que a vítima era "um homem gentil e viúvo na casa dos 70 anos".
"Ele não machucaria uma mosca", complementou.
Sequência de acontecimentos no dia do ataque
• 05h40 de 4 de setembro - a polícia recebeu a primeira chamada sobre um esfaqueamento em James Smith Cree Nation. Mais alertas começaram a chegar em poucos minutos.
• 07h12 - a polícia emitiu um alerta sobre pessoas perigosas e orientou que todos busquem abrigo imediatamente.
• 07h57 - a polícia revelou os nomes, as descrições e as fotos dos dois suspeitos.
• 08h20 - o alerta sobre pessoas perigosas foi estendido a toda a província de Saskatchewan.
• 11h25 - a busca pelos suspeitos foi ampliada para as províncias vizinhas de Manitoba e Alberta.
• 12h07 - a polícia alertou a população sobre o veículo suspeito. Surgiram informações de que o carro havia sido avistado em Regina, a capital da província.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62793921