O grupo fundamentalista islâmico Talibã assumiu neste domingo (15) o controle do palácio presidencial em Cabul, após o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, deixar o país.
Os combatentes entraram na capital afegã depois de horas de cerco e após defender uma rendição pacífica do governo nacional.
Segundo dois oficiais do Talibã, citados pela agência Reuters, não haverá mais governo de transição no país e os rebeldes esperam "uma transferência completa de poder para suas mãos".
A opção de um governo de transição havia sido divulgada pelo ministro do Interior, Abdul Sattar Mirzakawal. No entanto, o grupo mudou de ideia para "manter a lei e a ordem" e "evitar o risco de furto e roubo na ausência da polícia e de profissionais de segurança", que fugiram de seus postos, informou o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid.
Na sequência, o presidente do Afeganistão teria deixado o país e partido para o Tajiquistão, conforme publicação da agência local Tolonews, citando fontes oficiais.
O escritório do mandatário deixou claro que não pode dizer nada por razões de segurança. No início do dia, porém, o ministro da Defesa, Bismillah Mohammadi, já havia afirmado que Ghani deu aos líderes políticos autoridade para resolver a crise no país. Em vídeo publicado em suas redes sociais, o ex-vice-presidente afegão Abdullah Abdullah disse que Ghani "abandonou a nação".
As autoridades da presidência do Afeganistão e residentes de Cabul já relataram que disparos foram ouvidos em algumas partes da capital.
Um hospital na região noticiou no Twitter que "mais de 40 pessoas" ficaram feridas em confrontos na periferia da capital afegã e estão hospitalizadas. Além disso, centenas de afegãos conseguiram chegar ao cruzamento da Porta da Amizade, na cidade de Chaman, na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão.
Imagens das pessoas carregando apenas uma sacola com seus pertences após fugirem de casa foram divulgadas pela Sky News. Para a Otan, "uma solução política no Afeganistão é "mais urgente do que nunca". Diversos países, incluindo Alemanha, Estados Unidos, Itália e Reino Unido, já anunciaram a retirada dos diplomatas de suas respectivas embaixadas e de seus cidadãos de Cabul.
Em entrevista à CNN, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que não é do interesse do governo de Joe Biden permanecer no Afeganistão após os insurgentes do Talibã entrarem em Cabul.
O americano ainda afirmou que Washington investiu bilhões de dólares nas forças afegãs durante quatro governos e, mesmo com vantagens sobre o Talibã, não conseguiram impedir o avanço do grupo.
Agora a pouco, a Embaixada dos Estados Unidos no Afeganistão chegou a relatar "disparos de arma de fogo" no aeroporto de Cabul, segundo a agência BBC. As autoridades americanas, inclusive, pediram para os compatriotas na área se protegerem, já que "a situação de segurança" na capital afegã "está mudando rapidamente".
A invasão do Talibã em Cabul ocorre 20 anos depois de o grupo ser expulso da capital afegã pelos Estados Unidos, que invadiram o país dias após os ataques de 11 de setembro de 2001, e em meio à retirada dos militares norte-americanos e da Otan do país.