Tensão na Ucrânia pressiona cotação do petróleo e inflação

Cotação do produto já avança 18% neste ano depois de ter subido 54% em 2021; a alta altera a perspectiva dos economistas para a inflação, diante do risco de conflito na Ucrânia

14 fev 2022 - 05h10
(atualizado às 07h20)
Rússia realiza exercícios militares
Rússia realiza exercícios militares
Foto: EYEPRESS via Reuters Connect

Depois de subir 54% em 2021 - o que resultou em uma alta de 47,5% no preço da gasolina no Brasil, tornando-se umas das principais fontes de pressão inflacionária -, o petróleo já avançou mais 18,2% neste começo de ano. Na sexta-feira, o barril atingiu US$ 95 e, diante da ameaça da Rússia de invadir a Ucrânia, alguns economistas já falam da possibilidade de a cotação ultrapassar US$ 120.

Importante produtor de petróleo, a Rússia poderia, em meio a uma guerra, interromper o fluxo do produto - o que elevaria a cotação da commodity. "Só a expectativa de invasão já causa uma pressão nos preços. Estamos revisando nossas projeções de petróleo para incorporar essa história toda. O viés é de alta", diz a economista-chefe da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro.

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Com a expectativa de que haveria um aumento da oferta de petróleo na América do Norte e uma leve desaceleração na demanda, Alessandra projetava que o barril terminaria 2022 ao redor de US$ 65. "Esse patamar daria um bom alívio para a inflação." Inclusive, significaria uma queda de 16% na comparação com o valor registrado no fim de 2021. O cenário, no entanto, mudou mais uma vez, e o petróleo, seu efeito na inflação e na atividade voltaram a se tornar uma preocupação para governos de todo o mundo.

Reviravoltas

Há 22 meses, sobrava petróleo no mundo. Com a pandemia e países em lockdown, a demanda pelo produto despencou em 2020, os estoques ficaram abarrotados e, de repente, era preciso pagar para armazenar o óleo - o que fez o preço do WTI (tipo de petróleo produzido nos EUA) retrair. O barril do Brent (um petróleo mais leve e que serve como principal referência global) caiu na época para menos de US$ 20 - a primeira vez desde 2001 -, e a cotação parecia longe de se tornar um problema.

A demanda, porém, voltou muito mais rápido do que se previa, impulsionada por estímulos econômicos adotados por vários governos, e os países produtores não acompanharam o ritmo. Agora, quando se esperava uma acomodação, o preço voltou a disparar.

"Se houver um conflito, o céu é o limite (para a cotação). Caso não haja, provavelmente estamos perto do pico. A conclusão é de que, nos próximos meses, o preço ainda vai ser alto. Se não tiver guerra e o Banco Central dos EUA aumentar o juro, é possível que a demanda esfrie um pouco", diz José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados.

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Países buscam dar alívio ao consumidor

Com o petróleo pressionando a inflação no mundo, vários países adotaram medidas para tentar aliviar os preços aos consumidores. O Japão passou a subsidiar fornecedores de petróleo em janeiro e anunciou inspeções em postos de combustíveis para garantir que os preços não subam para o consumidor final. A França deu, no ano passado, um reembolso único de € 100 para cerca de 38 milhões de pessoas, e Portugal criou uma política de desconto por litro de gasolina.

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