O ex-premiê britânico John Major criticou, em entrevista ao jornal inglês The Mail on Sunday, uma cena da próxima temporada da série The Crown que retrata um suposto plano para fazer a rainha Elizabeth 2ª abdicar do trono em favor do filho Charles.
Segundo Major, a sequência que será exibida na quinta temporada, com estreia marcada para novembro na Netflix, é "um amontoado de bobagens maliciosas".
A cena inclui uma suposta conversa entre o ex-primeiro-ministro e o então príncipe Charles na década de 1990 sobre a possibilidade da rainha, que morreu em setembro último, de abrir mão do trono.
A plataforma de streaming defendeu The Crown afirmando que é uma "dramatização fictícia".
A assessoria de Major divulgou uma nota ao jornal afirmando que essa discussão nunca existiu.
"Sir John não cooperou de forma alguma com The Crown. Nem nunca foi consultado por eles para checar a veracidade de partes do roteiro desta ou de qualquer outra série."
"Como você deve saber, as discussões entre o monarca e o primeiro-ministro são inteiramente privadas e — para Sir John — sempre permanecerão assim. Mas nenhuma das cenas descritas é fiel à realidade de qualquer forma. Elas são ficção, pura e simplesmente."
'Dramatização ficcional'
Uma porta-voz de The Crown defendeu a série dizendo que ela "sempre foi apresentada como um drama baseado em eventos históricos".
"A quinta temporada é uma dramatização ficcional, imaginando o que poderia ter acontecido a portas fechadas durante uma década significativa para a família real — um tempo que já foi bem analisado documentado por jornalistas, biógrafos e historiadores."
A próxima temporada vai focar no tumultuado início dos anos 1990, quando ruiu o casamento entre Charles e a princesa Diana.
Malcom Rifkind, secretário das Relações Exteriores do gabinete de Major, também criticou a cena em entrevista ao The Mail on Sunday: "Patética e absurda".
O apresentador Jonathan Dimbleby, amigo do rei Charles, disse que "The Crown tem vários absurdos, mas essa passa dos limites".
Os novos episódios chegam à plataforma no dia 9 de novembro e vão mostrar o então príncipe Charles, interpretado por Dominic West (The Wire), precisando interromper um feriado com Diana para uma reunião secreta com Major (papel de Jonny Lee Miller, que fez Trainspotting) em sua residência particular em 1991.
Imelda Staunton é a mais uma atriz a assumir o papel de Elizabeth 2ª, seguindo os passos de Claire Foy e Olivia Colman.
Algumas personalidades defenderam a interpretação ficcional dos eventos em The Crown.
De acordo com o jornal The Times, Robert Harris, autor de livros que romantizam a história, afirmou que tem "uma espécie de visão herética em que The Crown só ajudou a família real em alguns aspectos".
Em um festival literário, ele declarou que "ninguém entende essas coisas de forma literal, não é? Não tenho certeza de que isso aconteça".
O príncipe Harry também falou sobre as situações mostradas na série.
Em entrevista ao apresentador James Corden no ano passado Harry afirmou que "a série não finge que é um noticiário. É ficção. É vagamente baseada na verdade. Claro, não é estritamente preciso, claro que não, mas dá uma ideia aproximada sobre o estilo de vida [de um membro da realeza], as pressões de colocar o dever e o serviço acima da família e tudo mais que pode vir disso."
A Netflix afirmou anteriormente que não colocará uma advertência aos espectadores de The Crown de que algumas cenas são fictícias.
Em 2020, o então secretário de Cultura Oliver Dowden fez esse pedido e a plataforma respondeu que a série sempre foi anunciada como um drama.
"De forma que não temos planos e não vemos necessidade de adicionar um aviso", afirmou.
No entanto, uma frase no início na página da série na Netflix diz: "Baseada em eventos históricos, esta série dramatiza a história da rainha Elizabeth 2ª e os eventos políticos e pessoais que moldaram seu reinado".
Dowden, por sua vez, declarou que os espectadores mais jovens "podem confundir ficção com verdade" ao assistirem à quarta temporada, que retrata o fim do casamento entre o então príncipe e princesa de Gales.
As filmagens da sexta temporada de The Crown foram suspensas brevemente como sinal de respeito após a morte da rainha. Também foram interrompidas no dia do funeral.
Mas alguns setores no Reino Unido criticam o lançamento da quinta temporada dois meses após a morte de Elizabeth.
A apresentadora do programa Loose Women, do canal ITV, Brenda Edwards, estava entre os que defenderam o adiamento da reestreia como uma demonstração de respeito.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63293457