TikTok proibido? O que está por trás do anúncio de Trump

O presidente dos Estados Unidos anunciou neste sábado que 'está proibindo' o TikTok no país. O aplicativo de vídeos, que pertence a uma empresa chinesa, é acusado de compartilhar dados com o governo de Pequim — a companhia nega as acusações. Por outro lado, o anúncio foi feito em um momento de crescente tensões entre os dois países.

1 ago 2020 - 18h22
(atualizado às 18h41)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste sábado que vai proibir o aplicativo de compartilhamento de vídeos TikTok.

Ele afirmou que poderia assinar uma ordem executiva sobre o assunto ainda neste sábado.

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O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que vai proibir o TikTok no país
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que vai proibir o TikTok no país
Foto: EPA / BBC News Brasil

As autoridades de segurança dos Estados Unidos expressaram preocupação de que o aplicativo, de propriedade da empresa chinesa ByteDance, possa ser usado para coletar dados pessoais de americanos para compartilhá-los com o governo chinês.

O TikTok nega as acusações.

Após a sinalização de Trump, a gerente-geral da TikTok nos Estados Unidos, Vanessa Pappas, afirmou que o aplicativo está "aqui (nos EUA) por um longo prazo". Em vídeo, ela disse que sua equipe está construindo "o mais seguro dos aplicativos."

A plataforma, que tem crescido rapidamente, tem cerca de 80 milhões de usuários mensais ativos nos Estados Unidos. A proibição seria um grande golpe para a companhia ByteDance.

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"No que diz respeito ao TikTok, estamos proibindo-o nos Estados Unidos", disse Trump, que estava a bordo do avião presidencial junto a repórteres que cobrem a Casa Branca.

Ainda não está claro se o presidente americano pode proibir o TikTok, como essa proibição seria aplicada e quais desafios legais que a medida enfrentaria.

A Microsoft está em negociações para comprar o aplicativo da ByteDance, mas Trump parece duvidar que esse acordo possa ser aprovado. Neste sábado, fontes citadas pela agência de notícias Reuters disseram que a ByteDance teria concordado em vender o controle do aplicativo nos EUA à Microsoft.

O anúncio de Trump ocorre em um momento de tensões crescentes entre ele e o governo chinês em várias questões, incluindo disputas comerciais e a resposta de Pequim à pandemia do coronavírus.

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O que é o TikTok?

TikTok está no centro de uma disputa entre China e EUA
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O TikTok é um aplicativo gratuito, uma espécie de versão resumida do YouTube. Os usuários podem postar vídeos de até um minuto e escolher entre um enorme banco de dados de músicas e filtros. Geralmente, os vídeos têm sincronização labial de músicas, cenas engraçadas e truques de edição incomuns.

A plataforma explodiu em popularidade nos últimos anos, principalmente com pessoas com menos de 20 anos.

Esses vídeos são disponibilizados para seguidores, mas também para estranhos. Por padrão, todas as contas são públicas, embora os usuários possam restringir os uploads para uma lista aprovada de contatos.

Quando um usuário tem mais de mil seguidores, ele também pode fazer transmissões ao vivo para seus fãs e aceitar presentes digitais que podem ser trocados por dinheiro.

O aplicativo exibe tanto os vídeos dos perfis que o usuário segue e, com mais destaque, o conteúdo que o aplicativo escolhe com base no que ele assistiu antes.

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A possibilidade de trocar mensagens privadas também está disponível.

A Índia já bloqueou o TikTok e outros aplicativos chineses. A Austrália, que já proibiu a companhia de tecnologia chinesa Huawei e a fabricante de equipamentos de telecomunicações ZTE, também está considerando proibir o TikTok.

Desde o início de 2019, o aplicativo tem se mantido no topo dos rankings de downloads.

Os confinamentos devido à pandemia também parecem ter causado um aumento no interesse, levando o TikTok e seu aplicativo irmão Douyin (disponível na China continental) a um número estimado de dois bilhões de downloads em todo o mundo, com cerca de 800 milhões de usuários ativos por mês.

O aplicativo foi baixado com mais frequência na Índia, mas a proibição de Délhi significa que a China atualmente é seu principal mercado, seguida pelos Estados Unidos. O Brasil aparece em quinto lugar, depois da Indonésia.

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Ilustração do TikTok e presidentes dos EUA e China.
Foto: BBC News Brasil

Por que Trump não gosta de TikTok

Análise de James Clayton, repórter especializado em tecnologia da BBC

A antipatia de Trump pelo TikTok vai além do que apenas preocupações com a privacidade dos americanos.

Na Índia, o TikTok foi banido após um conflito na fronteira com a China — a plataforma acabou envolvida em uma disputa geopolítica. E está acontecendo o mesmo nos Estados Unidos. Os olhares de Trump estão fixos na China — e é por meio desse cenário que se deve enxergar a situação do TikTok no país.

O aplicativo diz que não mantém dados de usuários na China e nunca forneceria informações ao governo de Pequim.

Mas, de muitas maneiras, não importa o que o aplicativo diga, o fato de ele pertencer à empresa de um chinês já suficiente.

Também não deve ser esquecida a experiência anterior de Trump com o TikTok.

No mês passado, usuários da plataforma disseram ter conseguido esvaziar um comício do presidente na cidade de Tulsa depois de conseguirem ingressos que não tinham intenção de usar.

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E, embora haja vozes republicanas e conservadoras no TikTok, o perfil de usuários nos EUA é geralmente jovem, liberal e de esquerda.

É difícil acreditar que isso não seja um fator importante para Trump.

Por que os EUA estão preocupados?

Autoridades e políticos dos EUA levantaram preocupações a respeito do TikTok: os dados coletados pela ByteDance por meio do aplicativo podem acabar sendo repassados ao governo chinês.

O TikTok opera uma versão semelhante, mas separada, do aplicativo na China, conhecida como Douyin. Ele diz que todos os dados do usuário dos EUA são armazenados no próprio país, com um backup em Cingapura.

O aplicativo coleta uma enorme quantidade de dados sobre seus usuários, incluindo quais vídeos são assistidos e comentados, dados de localização, modelo de telefone e sistema operacional usado e até o ritmo de digitação dos usuários ao usar as teclas.

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Os argumentos contra o sistema parecem se basear na possibilidade teórica de o governo chinês obrigar a ByteDance, de acordo com as leis locais, a entregar dados sobre usuários estrangeiros.

A Lei de Segurança Nacional de 2017 na China obriga qualquer organização ou cidadão a "apoiar, ajudar e cooperar com o trabalho de inteligência do Estado".

A empresa sempre negou que envie dados de usuários para o governo chinês.

Nesta semana, o TikTok disse aos usuários e reguladores que seguiria um alto nível de transparência, inclusive permitindo revisões de seus algoritmos.

"Não somos políticos, não aceitamos publicidade política e não temos agenda (política), nosso único objetivo é permanecer uma plataforma dinâmica e vibrante para que todos possam desfrutar", disse o CEO da TikTok, Kevin Mayer, em um post nesta semana.

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"O TikTok se tornou o alvo mais recente, mas não somos o inimigo."

Quem é a dona do TikTok?

ByteDance é a empresa matriz do TikTok
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A empresa ByteDance é hoje um dos mais valiosos "unicórnios" — como são chamadas as start-ups de tecnologia avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.

O valor de mercado estimado da companhia é US$ 78 bilhões, segundo um relatório da Reuters do final do ano passado. A empresa já investiu em mais de 20 startups desde 2012. Entre elas estão a Lark (de mensagens), Flipchat (para conversas por vídeo) e Toutia (um agregador de notícias).

Os investidores dizem que a ByteDance está perto de gerar US$ 30 bilhões de receitas em 2020 — uma cifra astronômica se comparada com os cerca de US$ 20 bilhões de 2019.

Seu lucro líquido pode duplicar neste ano, atingindo US$ 7 bilhões, segundo cifras publicadas pela revista The Economist.

A empresa nasceu em 2012, com sede em Pequim.

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Depois de investir em vários aplicativos, a ByteDance desenvolveu o precursor do TikTok, chamado Douyin, que foi lançado localmente em 2016.

Em 2017, o Douyin chegou ao mercado internacional rebatizado de TikTok. Isso foi no mesmo ano em que a ByteDance comprou o Musical.ly, herdando mais de 20 milhões de usuários ativos, que ajudaram na expansão do TikTok.

A ByteDance é muito mais do que só o aplicativo de vídeos. Em 2016, a empresa se converteu no maior acionista do serviço de notícias indianos BaBe.

Entre outros aplicativos bem-sucedidos estão o Xigua Video (uma plataforma de vídeos semanais de cinco minutos de duração), o Lark (um serviço de comunicação online) e o Vigo Video (também de vídeos curtos, muito popular entre adolescentes chineses).

A empresa também fabrica celulares e trabalha desde 2019 no lançamento do seu próprio smartphone.

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