Três cenários possíveis para o governo na França, após vitória da esquerda

Negociações para a formação de um novo governo acontecem em clima de incertezas.

9 jul 2024 - 10h57
(atualizado às 11h13)
A França vive um impasse político após esquerda vencer eleição legislativa, mas nenhum partido conseguir maioria absoluta no Parlamento
A França vive um impasse político após esquerda vencer eleição legislativa, mas nenhum partido conseguir maioria absoluta no Parlamento
Foto: GEOFFROY VAN DER HASSELT/AFP via Getty Images / BBC News Brasil

Quem vai ser o primeiro-ministro da França? Como o presidente francês, Emmanuel Macron, vai fazer para governar com menos assentos do que tinha antes da eleição legislativa e com um parlamento dividido em três blocos, sendo que nenhum deles tem maioria?

Essas são perguntas em aberto, que surgiram após as eleições legislativas realizadas na França, no domingo (08/07).

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Ao dissolver o parlamento em junho e convocar novas eleições, Macron, argumentou que o país precisava de "uma maioria clara para agir com serenidade."

Mas, na avaliação de analistas, Macron 'perdeu a aposta' e acabou criando uma situação ainda mais confusa, com o risco de ter um parlamento paralisado.

Longe da "maioria clara" esperada, as eleições legislativas antecipadas resultaram em uma situação inédita, com um parlamento dividido em três blocos com dimensões comparáveis: a esquerda (182 cadeiras), o centro do presidente Macron (168 assentos) e a direita radical de Marine Le Pen e seus aliados, com 143.

O bloco majoritário de esquerda, o Nova Frente Popular, está distante da maioria absoluta de 289 cadeiras que permitiria que ele governasse o país sem a necessidade de alianças.

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A coligação, formada por grupos que vão de sociais democratas a anticapitalistas ferrenhos, obteve menos deputados do que os 250 que tinha o movimento de Macron antes da dissolução do parlamento.

As negociações para a formação de um novo governo acontecem em clima de incertezas.

A BBC News Brasil detalha aqui 3 cenários possíveis para a França:

Por enquanto premiê Gabriel Attal fica

Por enquanto, o atual primeiro-ministro, Gabriel Attal, se mantém no cargo. Primeiro porque a aliança de esquerda ainda discute pelos próximos dias qual nome irá indicar a Macron para a função, tarefa que está longe de ser fácil porque há divisões dentro desse bloco.

Muitos estimam na França que Attal continuará como premiê até o encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris, em meados de agosto, para evitar grandes mudanças durante o evento.

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A primeira sessão do novo parlamento ocorrerá em 18 de julho. O presidente Macron declarou que prefere aguardar a estruturação da assembleia para tomar as decisões necessárias, entre elas a de indicar um primeiro-ministro de consenso, que não corra o risco de ser derrubado pelo parlamento.

1) Uma coalizão:

O primeiro cenário que pode se desenhar nas negociações é o de uma coalizão. Seria uma situação semelhante a de outros países europeus, como a Alemanha e a Itália, já que nenhum dos três grandes blocos têm maioria.

Alguns políticos franceses evocam a possibilidade de um governo "de união nacional" ou "provisório." Mas a possibilidade de coalizão já enfrenta obstáculos.

As principais lideranças da esquerda, como Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, ou Olivier Faure, do Partido Socialista, descartaram essa possibilidade e afirmaram que as propostas do bloco de esquerda devem ser aplicadas integralmente, sem concessões, apesar do número insuficiente de deputados.

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"Não faremos uma coalizão de contrários que irá trair os votos dos franceses", disse Faure após a vitória.

Já outras personalidades da esquerda, como a líder ecologista Marine Tondelier, se mostram mais abertas a discussões com o centro, liderado por Macron, ou mesmo com a direita moderada.

O movimento de Macron já descartou qualquer aliança que inclua o partido França Insubmissa, de Mélenchon, a maior força da esquerda, com 74 deputados.

O campo do presidente está dividido entre partidários de uma aliança com parte da esquerda (socialistas e ecologistas) ou com a direita moderada.

Os Republicanos, de direita, conseguiram salvar 45 cadeiras após um racha no partido motivado pela migração de alguns de seus políticos para o Reunião Nacional, de Marine Le Pen. "Macron busca uma coalizão que não pode ser encontrada", escreve o jornal Le Monde desta terça-feira.

2) Um governo minoritário:

Tecnicamente seria possível que Macron continuasse com um premiê de seu bloco, apesar de não ter maioria no parlamento.

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Foi o que já ocorreu nas gestões dos premiês macronistas Elisabeth Borne e o atual Gabriel Attal.

Em seu primeiro mandato, o partido de Macron dispunha de maioria absoluta na Câmara, mas em junho, quando as eleições foram convocadas, o grupo do presidente possuía 250 assentos - menos que a maioria absoluta (289).

O campo presidencial conseguiu se manter nos últimos dois anos porque em momento algum forças da direita radical, da esquerda e da direita moderada dos republicanos se uniram para derrubar o governo aprovando moções de censura.

O movimento de Macron conseguiu governar buscando, a cada projeto, maiorias na votação e também utilizou regularmente uma cláusula constitucional que permite aprovar um projeto dispensando o voto do parlamento, mas há uma série de regras para aplicá-la.

E agora, o grupo de Macron tem ainda menos assentos (168) no parlamento que antes (250).

A Nova Frente Popular de esquerda poderia tentar governar da mesma forma, mas precisaria buscar o apoio de mais de 90 deputados de outras correntes.

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O campo macronista também poderia, nesse caso, conservar o poder, mas precisaria convencer cerca de 120 deputados de direita moderada ou de centro-esquerda a deixá-lo governar.

Especialistas estimam que, sem uma maioria clara e estável, um governo minoritário corre o risco de ser derrubado a qualquer instante pelo parlamento.

3) Um governo técnico:

É a possibilidade considerada mais remota. Se a negociação e o parlamento estiverem paralisados, poderiam ser nomeados ministros sem filiação partidária, especialistas em suas áreas, para administrar o dia a dia e implantar reformas consensuais, com o apoio, em função da medida, de diferentes blocos do parlamento.

Exemplos práticos desse modelo ocorreram em outro país europeu, a Itália, que já teve no passado recente quatro governos técnicos em tempos de crise, mas não por um longo período.

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