A presidente do Tribunal Supremo da Venezuela disse que Edmundo González, que insiste ter vencido o presidente Nicolás Maduro na eleição de 28 de julho no país, desrespeitou a corte ao se recusar a responder a uma intimação nesta quarta-feira.
Em resposta a um pedido de Maduro, o tribunal convocou os 10 candidatos da eleição e representantes dos partidos que os indicaram para comparecer ao que classificou como uma certificação dos resultados.
"Por favor... que fique registrado na ata que (González) não compareceu e que não cumpriu a convocação", disse a presidente do tribunal, Caryslia Rodriguez.
A autoridade eleitoral da Venezuela -- acusada pela oposição de agir de forma parcial -- declarou Maduro como o vencedor da disputa no início de 29 de julho, com cerca de 51% dos votos. Ainda não apresentou, no entanto, as atas da votação.
Liderada por Maria Corina Machado e González, um ex-diplomata de 74 anos, a oposição diz ter cópias das contagens de votos mostrando que teria vencido a eleição com mais de 7 milhões de votos, contra 3,3 milhões de votos de Maduro, resultado, em linhas gerais, semelhante ao estimado por pesquisas independentes de boca de urna.
Vários líderes oposicionistas da Venezuela foram presos ou fugiram para o exílio nos últimos anos.
Os comentários de Rodriguez ocorreram logo após González publicar uma carta dizendo que corria o risco de ser preso caso obedecesse à convocação.
"Se eu for à câmara eleitoral (da Suprema Corte) nessas condições, estarei totalmente vulnerável devido à impotência e à violação do devido processo legal e colocarei em risco não apenas a minha liberdade, mas, mais importante, a vontade do povo venezuelano expressa em 28 de julho", disse González na carta publicada no X nesta quarta-feira.
Na Venezuela, o desacato ao tribunal é punível com até 30 dias de prisão e multas, disseram os advogados.
Representantes de três grupos que apoiaram a candidatura de González compareceram à audiência, de acordo com uma transmissão da televisão estatal.
INVASÃO TRANSMITIDA AO VIVO
A contestação da eleição levou a uma onda de protestos contra Maduro em toda a Venezuela e grupos de defesa levantaram alertas para prisões de supostos manifestantes na chamada "operação knock-knock" das forças de segurança.
As autoridades afirmam que a polícia tem como alvo pessoas acusadas de cometer crimes violentos durante as manifestações.
No final da terça-feira, Maria Oropeza, coordenadora do movimento político Vente Venezuela, de Machado, transmitiu ao vivo no Instagram uma batida em sua casa em Guanare, no Estado de Portuguesa.
O vídeo parece mostrar agentes de segurança tentando quebrar uma grade de metal na entrada da casa, pedindo que ela os acompanhasse. Antes de a tela ficar preta, Oropeza pode ser ouvida pedindo para ver um mandado.
O atual paradeiro de Oropeza é desconhecido. A seção do grupo de campanha da oposição Comando con Venezuela, no Estado de Portuguesa, compartilhou um vídeo da prisão após a transmissão ao vivo.
O procurador-geral Tarek Saab já iniciou uma investigação criminal contra Machado e González por incitar as forças de segurança a violar a lei quando publicaram carta conjunta pedindo que a polícia e as Forças Armadas apoiassem o povo da Venezuela.
Enquanto a Rússia e a China, entre outros países, parabenizaram o socialista Maduro por sua vitória, diversos países ocidentais expressaram ceticismo e pediram à autoridade eleitoral que publique uma contagem completa dos votos.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, de esquerda, rejeitou a vitória de Maduro nesta quarta-feira, dizendo não ter "nenhuma dúvida" de que o governo da Venezuela cometeu fraude para se manter no poder.
Em rápida reação, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Ivan Gil, afirmou que o presidente turco Tayyip Erdogan havia conversado com Maduro e parabenizado o povo venezuelano pela eleição.
Em um post no X, a presidência turca disse que o país "continuará a apoiar o processo de diálogo na Venezuela".