Trump com covid-19: o que dizem médicos e críticos um dia após alta do presidente

Mandatário teve post deletado pelo Facebook após afirmar que a doença causada pelo novo coronavírus seria menos letal que a gripe.

6 out 2020 - 16h41
(atualizado às 16h44)

O presidente dos EUA, Donald Trump, vem sendo criticado pelos comentários feitos desde que anunciou sua alta do hospital militar onde estava internado desde a última sexta (02/10), após ser diagnosticado com covid-19.

Na tarde de segunda-feira (05/10), ao divulgar pelo Twitter que voltaria à Casa Branca, Trump escreveu: "Não sintam medo da covid-19. Não a deixem dominar suas vidas".

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Trump remove a máscara para posar para fotos: presidente vem sendo criticado por menosprezar severidade da covid-19
Trump remove a máscara para posar para fotos: presidente vem sendo criticado por menosprezar severidade da covid-19
Foto: EPA/KEN CEDENO / BBC News Brasil

Especialistas em saúde e opositores ressaltaram que as falas do presidente, que chegou a dizer que se sentia "melhor do que 20 anos atrás", menosprezam a severidade da doença causada pelo novo coronavírus.

Os EUA têm o maior número de óbitos por covid-19 no mundo, mais de 210 mil, quatro vezes mais mortes do que a Guerra do Vietnã provocou entre americanos.

Trump recebeu dois tipos de anticorpos monoclonais experimentais, além do antiviral Remdesivir e o corticoide dexametasona, usado apenas em casos graves de covid-19. Ele também precisou de oxigênio suplementar.

A equipe de profissionais da saúde responsável pela atenção ao presidente contava com 13 médicos e enfermeiros, liderados por Sean Conley, médico oficial da Marinha que comanda a atenção primária a Trump.

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Além das drogas experimentais a que teve acesso e da possibilidade de ser levado de helicóptero ao hospital depois de dois incidentes de queda do nível de oxigênio no sangue, o mandatário ficou instalado em um espaçoso apartamento do hospital, com vários ambientes, e equipado com cama de casal, mesa de jantar, poltronas de couro e escrivaninha para trabalho.

Nada parecido com o leito composto por maca e aparador, apartado dos demais por paredes de lençóis, em grandes enfermarias hospitalares, que boa parte dos 7,3 milhões de pacientes com covid-19 nos EUA precisou enfrentar.

Horas antes da alta, Conley afirmou que Trump estaria cercado por uma equipe formada pelos melhores médicos 24 horas por dia na Casa Branca.

Ele não respondeu a perguntas feitas por repórteres no local sobre a última vez em que o mandatário recebera diagnóstico negativo para covid ou deu pormenores a respeito de seu tratamento. Também evitou dar detalhes sobre os exames para verificar eventuais sinais de penumonia, sob o argumento de que a informação seria protegida por sigilo médico.

Nesta terça (06/10), o médico afirmou em comunicado que Trump "não tem sintomas". Disse que o presidente teve uma noite calma após seu retorno do hospital, que seus sinais vitais estão estáveis e que "de forma geral, tudo vai muito bem".

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Post deletado pelo Facebook

Um dia depois do post em que conclamava os americanos a não temerem a covid-19, Trump escreveu que a doença era "menos letal" do que a gripe.

Afirmava ainda que os Estados Unidos haviam "aprendido a conviver" com a gripe sazonal, "assim como estamos aprendendo a conviver com covid, menos letal entre a maioria das populações".

Mais de 10 pessoas próximas ao presidente foram diagnosticadas com a doença
Foto: EPA/KEN CEDENO / BBC News Brasil

O post foi deletado pelo Facebook e, no Twitter, foi oculto por uma mensagem que alertava os usuários de que o conteúdo poderia estar espalhando "informação enganosa e potencialmente danosa".

Segundo o porta-voz do Facebook, Andy Stone, a rede social tem como política "remover informações incorretas a respeito da severidade da covid-19". Esta foi a segunda vez que a empresa apagou uma postagem do presidente americano.

Não há um dado único sobre a mortalidade da doença causada pelo novo coronavírus, mas as informações disponíveis até o momento sinalizam que ela seja substancialmente maior do que as enfermidades causadas pela maioria das cepas de gripe, até 10 vezes, de acordo com a Universidade Johns Hopkins.

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Biden e Michelle Obama

Entre as críticas ao comportamento do presidente estão as de seu opositor na corrida presidencial, o candidato democrata Joe Biden. Em entrevista, disse estar feliz pela melhora de Trump, mas emendou que esperava, tendo o presidente passado por tudo o que vem enfrentando, que ele "comunicasse a lição correta aos americanos — máscaras são importantes".

Ao posar para fotos de volta à Casa Branca após três dias no hospital, Trump removeu a máscara, apesar de ainda estar vivendo a fase contagiosa da doença.

"A única coisa que ouvi foi um tuite dizendo para as pessoas não se preocuparem com tudo isso, essencialmente", afirmou Biden.

"Há muito com o que se preocupar. 210 mil pessoas morreram", acrescentou.

Usuários do Twitter tinham de clicar no aviso para ter acesso ao post
Foto: Twitter / BBC News Brasil

A ex-primeira-dama Michelle Obama também criticou a reação de Trump, acusando-o de exacerbar a crise gerada pela pandemia.

Em um vídeo de endosso à candidatura de Biden, ela afirma que Trump nunca teve um plano para proteger o país do vírus.

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"É a maior crise das nossas vidas, e ele apostou em divisão e ressentimento, se colocou contra medidas que poderiam ter mitigado os danos e continua a organizar eventos com aglomerações, sem exigir o uso de máscara ou o respeito ao distanciamento social, conscientemente expondo seus apoiadores ao risco representado por esse vírus perigoso."

Trump tem rebatido as críticas afirmando ter tomado decisões importantes, como o fechamento das fronteiras americanas, o apoio a desenvolvimento de tratamentos contra a doença e a proteção à economia.

Mais de 10 pessoas próximas infectadas

Assim, como Trump, a primeira-dama dos EUA, Melania Trump, também anunciou diagnóstico positivo para covid-19 na última quinta (01/10).

Ela permaneceu na Casa Branca, entretanto, e, segundo os médicos do casal, está "indo muito bem".

Nos últimos dias, mais de 10 pessoas próximas ao presidente foram diagnosticadas com covid-19. Entre elas estão o assistente pessoal de Trump, Nick Luna, seu coordenador de campanha, Bill Stepien, e seu conselheiro de campanha, o ex-governador Chris Christie.

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Nesta terça, um funcionário do Departamento de Defesa dos EUA afirmou que o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Mark Milley, e diversos líderes militares do Pentágono estariam de quarentena após terem sido expostos ao vírus — o vice-comandante da Guarda Costeira, almirante Charles Ray, recebeu na segunda o diagnóstico positivo.

Ele e outros integrantes do Estado-Maior Conjunto estiveram no fim de setembro na Casa Branca para um evento.

O candidato democrata à presidência dos EUA, Biden, foi testado duas vezes desde o anúncio de Trump, com diagnóstico negativo em ambas as ocasiões. Eles estiveram juntos no primeiro debate da corrida presidencial, no dia 29.

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