WASHINGTON, 20 Jan (Reuters) - O recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira que vai declarar a imigração ilegal na fronteira com o México como uma emergência nacional, enviará tropas para o local e aumentará as deportações de criminosos, delineando medidas de repressão em seu discurso de posse.
Trump pretende invocar uma lei de 1798 conhecida como Alien Enemies Act para visar membros de gangues estrangeiras nos EUA, instrumento legal usado pela última vez para deter não cidadãos de ascendência japonesa, alemã e italiana em campos de internamento durante a Segunda Guerra Mundial.
Logo após a posse, autoridades de fronteira dos EUA disseram que haviam fechado o programa de entrada legal do ex-presidente norte-americano, Joe Biden, conhecido como CBP One, que havia permitido a entrada legal de centenas de milhares de imigrantes nos EUA a partir do agendamento de horário em um aplicativo. Os agendamentos existentes foram cancelados, de acordo com a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA.
Trump disse que vai designar cartéis criminosos como organizações terroristas estrangeiras, parte de uma série de medidas que podem abalar as relações entre EUA e México.
Mais cedo, uma autoridade de Trump que pediu para não ser identificada disse que o novo presidente planeja emitir uma proclamação abrangente bloqueando acesso a todos que buscam asilo na fronteira com o México. Trump também pretende contestar a cidadania norte-americana de crianças nascidas de pais que estão nos EUA ilegalmente, disse a autoridade, direito que decorre de uma emenda à Constituição dos EUA.
Trump, um republicano, reconquistou a Casa Branca depois de prometer intensificar a segurança nas fronteiras e deportar um número recorde de imigrantes. Apesar das críticas de Trump pelos altos níveis de imigração ilegal durante a presidência de Biden, as prisões de imigrantes caíram drasticamente após o democrata endurecer suas políticas em junho e diante da intensificação da fiscalização do México.
Para os republicanos, deportações em larga escala são necessárias após milhões de imigrantes adentrarem ilegalmente o país durante a presidência de Biden. Havia cerca de 11 milhões de imigrantes nos EUA em situação ilegal ou com status temporário no início de 2022, de acordo com uma estimativa do governo dos EUA. Alguns analistas agora colocam esse número entre 13 milhões e 14 milhões.
Críticos de Trump e defensores dos imigrantes afirmam que deportações em massa podem atrapalhar os negócios, separar famílias e custar bilhões de dólares aos contribuintes dos EUA.
A American Civil Liberties Union (União Norte-Americana pelas Liberdades Civis) e outros grupos estão se preparando para possíveis litígios, estratégia que impediu muitas das políticas linha-dura de Trump durante seu primeiro mandato. A Califórnia e outros Estados liderados por democratas com políticas que limitam a cooperação com a fiscalização federal de imigração também podem entrar em conflito com Trump.
Os norte-americanos tornaram-se menos receptivos aos imigrantes sem status legal desde a primeira presidência de Trump, mas continuam cautelosos em relação a medidas severas, como o uso de campos de detenção, segundo uma pesquisa Reuters/Ipsos realizada em dezembro.
A autoridade afirmou que Trump assinará 10 decretos e ações nesta segunda-feira com o objetivo de aumentar a segurança na fronteira, referindo-se à imigração ilegal de "invasão".
Segundo a autoridade, Trump tomará medidas com o objetivo de acabar com a cidadania inata para crianças nascidas nos EUA cujos pais não têm status de imigração legal. É quase certo que essa medida vai desencadear contestações legais. Trump também planeja suspender o programa de reassentamento de refugiados dos EUA por pelo menos quatro meses e vai ordenar uma revisão de segurança para verificar se pessoas que viajam de determinadas nações deveriam estar sujeitas a uma proibição.
Trump disse em seu discurso de posse que vai restabelecer o programa "permanecer no México" do seu primeiro mandato, que forçou requerentes de asilo não mexicanos a esperar no México pelo resultado dos casos nos EUA. Biden encerrou o programa em 2021, dizendo que os imigrantes acabavam ficando presos e em condições precárias.
A Presidência o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Economia do México não responderam aos pedidos de comentários sobre os planos de Trump em um primeiro momento. Em uma entrevista coletiva rotineira nesta segunda-feira, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, pediu calma e insistiu que seu governo precisava ver os detalhes das ações de Trump antes de responder.