Trump gera temores de guerra comercial à medida que as tarifas sobre automóveis afetam aliados

27 mar 2025 - 09h27

Governos de Ottawa a Paris ameaçaram retaliar nesta quinta-feira, depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 25% sobre os veículos importados, ampliando uma guerra comercial global, prejudicando as ações e testando os laços já tensos com os aliados.

As novas tarifas sobre carros e caminhões leves entrarão em vigor em 3 de abril, um dia depois que Trump planeja anunciar tarifas recíprocas destinadas aos países que ele diz serem responsáveis pela maior parte do déficit comercial dos EUA.

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Os EUA importaram US$474 bilhões em produtos automotivos em 2024, incluindo carros de passeio no valor de US$220 bilhões. México, Japão, Coreia do Sul, Canadá e Alemanha, todos aliados próximos dos EUA, foram os maiores fornecedores.

As tarifas são um golpe de misericórdia para a Europa em um momento em que as relações com Washington despencaram devido a questões como a guerra na Ucrânia e a ruptura de uma aliança transatlântica de décadas, em que os EUA são a garantia final da segurança europeia.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, descreveu a medida como "ruim para as empresas, pior para os consumidores", enquanto o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, chamou as tarifas de "ataque direto" e disse que medidas de retaliação estão sendo consideradas.

"Defenderemos nossos trabalhadores, defenderemos nossas empresas, defenderemos nosso país e o defenderemos juntos", disse Carney aos repórteres em Ottawa.

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Com a perda de bilhões de euros das ações das montadoras alemãs na manhã desta quinta-feira, o ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, pediu uma postura dura.

"O que importa agora é ter uma resposta firme da UE a essas tarifas. É preciso deixar claro que não aceitaremos isso de braços cruzados", disse ele em um comunicado, acrescentando que a UE precisa buscar uma solução negociada.

Ressaltando o nervosismo na maior economia da Europa, onde as montadoras estão sofrendo com os altos custos e a forte concorrência estrangeira, o chefe da associação da indústria automobilística da Alemanha disse que as tarifas são um "sinal fatal" para o comércio global.

Na vizinha França, que sedia uma cúpula sobre Ucrânia sem os EUA nesta quinta-feira, o ministro das Finanças, Eric Lombard, chamou o plano de Trump de "notícias muito ruins" e disse que a única solução seria a UE aumentar suas próprias tarifas.

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O Reino Unido, que tem sofrido para fazer sua economia crescer, está lutando para garantir uma isenção, mas também ameaçou rever os subsídios dados à Tesla de Elon Musk.

"Nada disso resulta em mais empregos ou melhores salários. Isso leva a vendas lentas, crédito mais caro e possíveis demissões -- exatamente o que uma economia frágil não precisa", disse Nigel Green, presidente-executivo da consultoria financeira global deVere Group.

"As tarifas não levarão as montadoras de automóveis para casa. Elas farão os preços subirem, as relações caírem e a posição global dos Estados Unidos retroceder."

O Ministério das Relações Exteriores da China disse que a abordagem dos EUA viola as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), prejudica o sistema multilateral de comércio e "não contribui para a solução de seus próprios problemas"

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ELOGIOS E CRÍTICAS

Montadoras como a Toyota Motor e a Mazda Motor lideraram as quedas nas ações do Japão, que depende de automóveis para mais de um quarto de suas exportações para os EUA, enquanto as ações das montadoras da Coreia do Sul e da Índia também caíram.

As ações das montadoras dos EUA, que são altamente integradas com fábricas e fornecedores no Canadá e no México, caíram nas negociações pré-mercado.

O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, disse que Tóquio colocará "todas as opções sobre a mesa" e a Coreia do Sul disse que colocará em prática uma resposta de emergência para sua indústria automobilística duramente atingida até abril.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu apresentar uma reclamação à OMC sobre uma taxa sobre o aço brasileiro.

Trump vê as tarifas como uma ferramenta para aumentar a receita para compensar seus cortes de impostos prometidos e para reviver uma base industrial dos EUA em declínio há muito tempo.

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Muitos especialistas em comércio, no entanto, esperam que os preços inicialmente subam e a demanda caia, prejudicando um setor automotivo global que já está se recuperando da incerteza causada pelas ameaças tarifárias rápidas de Trump e suas ocasionais reversões.

No início da quinta-feira, Trump disse que poderia atingir a UE e o Canadá com tarifas maiores se eles se unissem para retaliar.

"Se a União Europeia trabalhar com o Canadá para causar danos econômicos aos EUA, tarifas em grande escala, muito maiores do que as planejadas atualmente, serão aplicadas a ambos para proteger o melhor amigo que cada um desses dois países já teve", disse ele em um post no Truth Social.

Kyle Rodda, analista da Capital.com, disse que o anúncio da próxima semana sobre as tarifas recíprocas pode não marcar o fim do abalo do comércio global pelo governo Trump.

"Isso potencialmente prolonga ainda mais a incerteza comercial e levanta a questão de quão radical é a mudança na ordem do comércio global que Trump está tentando realizar", disse Rodda.

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