Turquia considera se retirar de tratado sobre violência contra mulheres, diz partido governista

5 ago 2020 - 12h26

O partido AK, do presidente Tayyip Erdogan, está considerando retirar a Turquia de um acordo internacional designado a proteger as mulheres, afirmaram autoridades do partido, alarmando ativistas que veem o pacto como chave para combater a crescente violência doméstica.

Sumeyye , filha do presidente turco, Tayyip Erdogan, é vista do lado de fora de aeroporto em Istambul
16/07/2016
REUTERS/Huseyin Aldemir
Sumeyye , filha do presidente turco, Tayyip Erdogan, é vista do lado de fora de aeroporto em Istambul 16/07/2016 REUTERS/Huseyin Aldemir
Foto: Reuters

As autoridades disseram que o AK deve decidir até a próxima semana sobre a saída do acordo, apenas semanas depois de o assassinato de uma mulher pelo seu ex-namorado reacender a discussão sobre como frear a violência contra mulheres.

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Apesar de ter assinado o acordo do Conselho da Europa em 2011, prometendo prevenir, processar e eliminar violência doméstica e promover a igualdade, a Turquia teve 474 feminicídios ano passado, o dobro do total de 2011, segundo um grupo que monitora o assassinato de mulheres.

Muitos conservadores na Turquia dizem que o pacto, ironicamente forjado em Istambul, encoraja a violência ao debilitar estruturas familiares. Seus adversários argumentam que o acordo, e a legislação aprovada como consequência dele, precisam ser implementados com mais rigidez.

A questão chega não apenas ao partido AK de Erdogan, mas também à sua própria família, com dois de seus filhos envolvidos em grupos nos dois lados do debate sobre a Convenção de Istambul.

O AK decidirá na próxima semana se inicia os passos legais para a retirada do acordo, afirmou uma autoridade sênior do partido à Reuters.

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"Há uma pequena maioria (no partido) que defende que é certo se retirar", disse a autoridade, que argumentou, no entanto, que abandonar o acordo no momento em que a violência contra a mulher está crescendo passaria a mensagem errada.

Outra autoridade do AK argumentou o contrário, que a maneira de reduzir a violência era se retirar, acrescentando que a decisão seria tomada na próxima semana.

A discussão se cristalizou mês passado em torno do brutal assassinato de Pinar Gultekin, 27, estudante na província de Mugla, no sudoeste do país, que foi estrangulada, queimada e jogada em um barril --a última de um número crescente de mulheres assassinadas por homens na Turquia.

Um ex-namorado foi denunciado pelo assassinato e preso, aguardando julgamento, após ter confessado o ato, segundo notícias da imprensa.

Adversários do acordo dizem que o tratado é parte do problema porque mina valores tradicionais que protegem a sociedade.

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"É nossa religião que determina nossos valores fundamentais, nossa visão da família", disse a Fundação da Juventude Turca, cujo conselho inclui o filho do presidente, Bilal Erdogan. A entidade defendeu que a Turquia se retire do acordo.

A Associação de Mulheres e Democracia (Kadem), na qual a filha de Erdogan Sumeyye é vice-presidente, rejeita o argumento. "Não podemos mais falar sobre 'família'... em uma relação em que um lado é oprimido e sujeito à violência", disse a Kadem.

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