O governo ucraniano anunciou, no fim da tarde de ontem (10), que vai revogar uma lei de 2010 e se tornar aliada da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), com o objetivo de abrir caminho para sua adesão definitiva à organização.
A decisão deve gerar ampla reação do governo russo, que, em várias ocasiões, manifestou grande insatisfação com a possibilidade. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, chegou a chamar a expansão da OTAN sobre a Europa Oriental de “imprudente”. “É um erro que está acabando com a estabilidade da região”, disse ele em novembro.
O governo da Ucrânia vê na adesão à OTAN uma forma de garantir mais apoio em caso de uma suposta intervenção militar. O investigador-chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), Vasily Vovk, afirmou em entrevista à imprensa hoje (11) que há riscos de que novas rebeliões aconteçam em Carcóvia, que é a segunda maior cidade do pais, e em Odessa. “A situação não está favorável. Estas duas cidades podem se tornar as próximas Donetsk e Lugansk”, disse Vovk.
O chefe do recém-criado Secretariado de Segurança e Cooperação com a OTAN e a União Europeia, Yevhen Marchuk, afirmou que a Ucrânia ainda tem um longo caminho a percorrer para que se torne um membro da OTAN. “Temos que preparar a base legal para que isto aconteça”, observou ele.
A OTAN é uma aliança militar criada em Washington, nos Estados Unidos, em 1949, durante a Guerra Fria. Seus 28 estados-membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa à organização.
Em 1999, a OTAN começou a se expandir para a Europa, com a adesão da República Tcheca, Hungria e Polônia. Depois, em 2004, foram admitidas as repúblicas do Báltico, da Estônia, Letônia e Lituânia; a Romênia, Eslováquia e Eslovênia. Em 2008, iniciou as negociações para o ingresso da Geórgia e Ucrânia, que nunca foram concluídas justamente pelo temor de uma reação russa. Em 2009, Albânia e Croácia entraram para a Organização.
Em recente artigo publicado na revista Foreign Affairs, o professor de Ciência Política da Universidade de Chicago, John Mearsheimer, afirmou que os Estados Unidos e os aliados europeus tem grande responsabilidade pela crise da Ucrânia.
“A raiz do programa é a expansão da OTAN, o elemento central de uma grande estratégia para mover a Ucrânia para fora da órbita da Rússia e integrá-la ao Ocidente. Ao mesmo tempo, a expansão da União Europeia em direção ao leste e o apoio do Ocidente ao movimento pró-democracia na Ucrânia foram elementos críticos, também. A ação de Putin não deveria ser surpresa. Afinal de contas, o Ocidente entrou no quintal da Rússia e ameaçou seus interesses estratégicos fundamentais”, disse.