Comissão Europeia revisou previsões econômicas depois de a economia do bloco demonstrar resistência a crises como pandemia e guerra na Ucrânia. Consumidores, porém, ainda sentirão o impacto da inflação.A Comissão Europeia divulgou nesta segunda-feira (13/02) uma revisão de suas previsões econômicas, segundo as quais o bloco europeu deverá evitar uma recessão técnica depois de já ter superado o pico da inflação, enquanto o preço do gás natural continua a retroceder da alta histórica registrada no segundo semestre de 2022.
Entretanto, o órgão Executivo da União Europeia (UE) advertiu que os consumidores devem continuar a sentir os efeitos da redução do poder de compra, com a inflação se mantendo acima de 5%.
"A economia da UE superou as expectativas no ano passado, com um crescimento resiliente apesar dos efeitos da onda de choque da guerra de agressão russa [na Ucrânia]", observou o Comissário para Economia do bloco europeu, Paolo Gentiloni.
"Entramos em 2023 de maneira mais firme do que havíamos antecipado: os riscos de recessão e escassez de gás se desvaneceram, e o desemprego continua em baixa recorde."
Previsões da Comissão Europeia
Segundo a Comissão, o crescimento em 2023 deve chegar a 0,8% para os 20 países da zona do euro, e 0,9% para os 27 Estados-membros da UE. A previsão que constava no relatório do trimestre anterior era de 0,3%.
A Comissão também prevê que o bloco europeu conseguirá evitar uma contração da economia no primeiro trimestre de 2023, evitando, ainda que por pouco, uma recessão técnica. Isso se segue a um crescimento de somente 0,1% no trimestre anterior.
Especialistas esclarecem que a recessão técnica ocorre quando uma economia apresenta crescimento negativo em dois trimestre consecutivos. Mas, de acordo com o sistema de medição aplicado na UE, a previsão anterior para a performance econômica do bloco no primeiro trimestre - de 0,3% - em combinação com os índices do trimestre anterior bastariam para configurar uma recessão técnica.
A previsão de crescimento em longo prazo para 2024 permanece inalterada: 1,6% para a UE e 1,5% para a zona do euro.
"Os europeus ainda enfrentarão um período difícil. O crescimento ainda deve desacelerar e a inflação somente perderá de maneira gradual seu efeito sobre o poder de compra nos próximos trimestres", afirmou Gentiloni.
"Graças a uma política de reação unificada e abrangente, a UE conseguiu atravessar as tempestades que atingiram nossas economias e sociedades desde 2020. Devemos agora mostrar a mesma determinação e ambição ao lidarmos com os desafios que enfrentamos hoje", observou.
Inflação sob controle
A previsão de inflação para todo o ano de 2023 é de 5,6% na zona do euro e 6,3% na UE como um todo.
O índice atingiu um pico de 10,6% em outubro, mas vem caindo desde então, chegando a 8,5% em janeiro. Bruxelas acredita que isso se deva à queda nos preços do gás natural, em parte, devido ao fato de a UE garantir fontes alternativas de abastecimento de modo a compensar a suspensão das importações russas.
Mesmo assim, a Comissão alerta que as pressões sobre as outras commodities tem menos probabilidade de diminuir.
O Banco Central Europeu (BCE) vem aumentando as taxas de juros na tentativa de conter a inflação. O objetivo é desencorajar parte dos empréstimos e gastos ao tornar o crédito mais caro, mas isso também pode ter um efeito negativo na produção econômica.
Atualmente, a Comissão Europeia prevê a inflação bem mais próxima às metas do BCE de 2%, chegando a 2,8% para o bloco como um todo, em 2024.
Múltiplos desafios à frente
O relatório também destaca o recorde no baixo índice de desemprego na UE, de 6,1% ao final de 2022, como um fator importante para a reação aos impactos econômicos após a pandemia de covid-19 e em meio à guerra na Ucrânia.
"A economia europeia se prova resistente frente aos desafios atuais. Conseguimos evitar por pouco uma recessão. Estamos, de certa forma, mais otimistas em relação às perspectivas de crescimento e de queda da inflação este ano", afirmou o comissário da UE para o Comércio, Valdis Dombrovskis.
"Mas ainda enfrentamos múltiplos desafios, então não há espaço para acomodação, mesmo porque a guerra persistente da Rússia na Ucrânia ainda gera incertezas."
A Comissão também se referiu diretamente a essas incertezas em seu relatório, afirmando que a previsão atual "se apoia de modo crucial na presunção puramente técnica de que a agressão russa na Ucrânia não se agravará, embora permaneça no horizonte dessas previsões".
rc (AP, dpa, Reuters)