Nesta quinta-feira, pela terceira vez em uma semana, o mundo foi surpreendido por um episódio envolvendo um acidente aéreo. Um avião que levava 116 pessoas a bordo, e fazia o trajeto entre Burkina Faso e a Argélia, caiu na África. Ontem, outro avião caiu em Taiwan. Há exatamente uma semana, na quinta-feira (18), uma aeronave foi abatida no leste da Ucrânia. No total, os três episódios deixaram 475 vítimas.
O voo MH17 da Malaysia Airlines, primeira aeronave da série, viajava de Amsterdã, na Holanda, para Kuala Lumpur, na Malásia, com 298 pessoas (283 passageiros e 15 tripulantes) a bordo. O Boeing 777 deveria ter pousado em Kuala Lumpur às 6h10 da manhã da última sexta-feira (19h10 da quinta-feira no horário de Brasília), mas foi abatido por um míssil perto da fronteira entre a Ucrânia e Rússia, região tomada por conflitos. Todos a bordo morreram.
Nesta quarta-feira, o avião de modelo ATR-72, da TransAsia Airways, com 54 passageiros e 4 tripulantes a bordo, caiu em Taiwan, enquanto realizava um pouso de emergência devido ao mau tempo na região. Segundo informações oficiais, 48 pessoas morreram durante a queda. A aeronave realizava o voo de número GE222, que ia de Kaohsiung, na China, para as ilhas Penghu. O piloto teria tentado realizar duas tentativas frustradas.
Nesta quinta-feira, o voo AH5017 da Air Algerie, que viajava de Burkina Fasso para a Argélia, no continente africano, caiu, com 116 pessoas a bordo, sendo 110 passageiros e 6 membros da tripulação. A aeronave teria caído na região de Kidal, no Mali. O avião do modelo MD-83 pertencia à companhia espanhola Swiftair. Ainda não há confirmação oficial sobre a morte das pessoas.
Segundo as informações oficiais divulgadas até o momento, das 475 pessoas que sofreram nos três acidentes, 189 eram holandeses, 55 franceses, 44 malaios, 27 australianos, 24 burquineses, 12 indonésios, 9 britânicos, 8 alemães, 8 libaneses, 6 canadenses, 6 argelinos, 6 espanhóis, 5 belgas, 3 filipinos, um neozelandês, um suíço, um ucraniano, um camaronês, um egípcio, um nigeriano e um malinês. Outros 66 ainda não tiveram a nacionalidade revelada.
Tais acidentes levam à memória o voo MH370 também da Malaysia Airlines, desaparecido desde 8 de março deste ano, enquanto cobria a rota Kuala Lumpur-Pequim. A aeronave levava 227 passageiros e 12 tripulantes a bordo e não foi encontrada até hoje.
O que a aviação aprende com os acidentes aéreos
2014: um ano ruim para a aviação?
Com os números alarmantes desta última semana, na qual nos deparamos com 3 acidentes aéreos grandes e suas 475 vítimas, o ano de 2014 parece não ser muito bom para a aviação internacional. Em apenas sete meses, quase 700 pessoas morreram este ano em acidentes aéreos. Desde janeiro, o mundo conta com 11 tragédias importantes, segundo dados da Fundação Flight Safety. Ainda de acordo com os arquivos da fundação, a média de acidentes por ano, na última década, é de 17. Sendo assim, apenas nos primeiros 7 meses de 2014, quase alcançamos este número.
Segundo as estatísticas da última década, a média de pessoas que morrem por ano devido a tal tipo de incidente é de 372 – desta maneira, já temos praticamente o dobro de vítimas.
Porém, apesar da tristeza envolvida com as tragédias, não podemos afirmar que 2014 é um ano "recorde" em números. Anos como 2002, por exemplo, tiveram maiores números de acidentes e mortes e estamos longe de alcançar aqueles trágicos índices: 1112 mortes em 43 acidentes. Além disso, não há uma proporção em números de tráfego.
"Temos mais passageiros e mais voos atualmente. Se fizéssemos uma comparação do número de pessoas x acidentes, o índice de mortalidade de 2014 seria bem menor. O aumento da quantidade de passageiros na última década é quase incalculável. Só em Congonhas, tivemos em 2005 mais de 18 milhões de pessoas voando no ano! Imagina hoje", avalia o consultor em transporte aéreo; ex-superintendente regional do sudeste da Infraero, Edgar Brandão.
Segundo o consultor, os números de acidentes podem parecer maiores, mas a quantidade de voo também o é e, por isso, não há um "caos". "Ainda podemos dizer que o transporte aéreo é o mais seguro do mundo", diz ele.
Apesar disso, Brandão considera que existe uma falha em relação ao avanço das tecnologias, como em radares. "Estamos falando de tecnologia avançada.Ou seja, os radares deveriam ter contato com tudo, não deveria acontecer, como vimos no MH370 (da Malaysian Airlines, que desapareceu em março deste ano e por algumas horas com o AH5017 da Air Argelie). A tecnologia para isso me parece um pouco atrasada – todo mundo controla, há discussões sobre espionagem, os governos controlam todo mundo, tudo! De repente, você não consegue controlar um avião de toneladas?", critica Brandão.
Para o especialista, não há indícios de que haja alguma mudança no cenário da aviação internacional. "Penso que deveria estar ocorrendo uma melhora há muito tempo e não ela ocorre. Não existe um sentimento das empresas, no sentido de se movimentar por causa de acidente. Veja, às vezes algumas aeronaves que já apresentaram problemas continuam operando", finaliza.