Único terrorista que sobreviveu a ataques em Paris nega crime

Abdeslam prestou depoimento em megaprocesso sobre atentados

9 fev 2022 - 13h16
(atualizado às 13h46)

Único terrorista que sobreviveu aos atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris, Salah Abdeslam prestou depoimento nesta quarta-feira (9) e negou ter cometido qualquer crime na fatídica noite, que terminou com 130 mortos. A audiência deve seguir até esta quinta-feira (10).

Abdeslam continuou a defender os atentados que mataram 130 pessoas
Abdeslam continuou a defender os atentados que mataram 130 pessoas
Foto: EPA / Ansa - Brasil

"Eu quero dizer hoje que não matei, nem feri ninguém, nenhum arranhão. Desde o início dessa história, sofri calúnias o tempo todo. O mundo ocidental impõe a sua ideologia contra o resto do mundo e para nós, muçulmanos, isso é uma humilhação", disse ao abrir seu depoimento.

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Abdeslam ainda afirmou, de maneira chocante, que se "alguém no futuro tiver uma maleta com explosivos e desistir de explodir, saberá que não tem o direito de fazê-lo porque será preso e humilhado", já que a França tem penas "extremamente severas" para terrorismo.

O terrorista nunca se arrependeu da ação violenta na capital francesa em 2015 e voltou a dizer que "ama" os terroristas do grupo Estado Islâmico, do qual fazia parte. E, mesmo assim, com todas essas declarações, disse que não se vê como "uma ameaça" ao povo francês e pediu sua libertação.

No entanto, Abdeslam ainda não deu detalhes da ação e disse que só jurou fidelidade ao grupo 48 horas antes dos atentados - apesar de haver documentos provando que ele era aliado do EI desde 2015, quando seu irmão, Brahim, retornou da Síria.

Para o extremista, os ataques eram apenas "operações militares para fazer cessar os bombardeios da coalizão internacional" no território sírio. Ao ser questionado pelo presidente do tribunal se essa era "uma operação para mirar salas de concertos e restaurantes", Abdeslam afirmou que os extremistas "trabalharam com o que tinham em mãos".

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"Os autores queriam responder aos ataques da França e do Ocidente, mas se mataram civis, foi para impressionar as mentes", ainda ironizou.

A mãe, a irmã e a ex-namorada de Abdeslam também deveriam participar da audiência, mas o juiz Jean-Louis Périès afirmou que elas não participariam e que manifestaram "intenção de não comparecer".

Abdeslam, que tem 32 anos, no entanto, não respondeu qual o motivo para não ativar os explosivos que tinha em um cinto - como ocorreu com os outros cinco autores. Ele foi preso quase quatro meses após os atentados, na Bélgica, e sempre deu declarações polêmicas e de apoio ao massacre - que sempre causou revolta nos parentes e amigos das vítimas.

Além do terrorista, outras 19 pessoas são réus em um megaprocesso que iniciou em 8 de setembro do ano passado e 10 delas estão em prisão preventiva.

Todos eles são acusados de dar apoio financeiro e logístico ao grupo que cometeu o atentado. Seis pessoas ainda serão julgados em contumácia, sendo que algumas delas já teriam morrido na Síria ou no Iraque.

O julgamento é considerado o maior da história da França moderna, devendo durar cerca de nove meses, e envolve cerca de 330 advogados e 1,8 mil sobreviventes e parentes das vítimas. .

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