Veja quatro conclusões do impeachment de Trump

Entenda as conclusões do voto na Câmara, do processo que o precedeu e o que deve acontecer agora

20 dez 2019 - 09h08
(atualizado às 09h17)

Donald Trump é o terceiro presidente na história dos Estados Unidos a sofrer um impeachment, desde a votação na quarta-feira (18), quando a Câmara aprovou sua destituição com base nas acusações feitas.

Presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca
17/12/2019 REUTERS/Kevin Lamarque
Presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca 17/12/2019 REUTERS/Kevin Lamarque
Foto: Reuters

Veja abaixo algumas conclusões importantes desse voto, do processo que o precedeu e o que deve acontecer agora.

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Partidarismo reina

Como expressão do tribalismo e da polarização que tomaram conta de Washington, dificilmente haveria algo melhor: a Câmara levou a cabo o processo de impeachment quase sem nenhum componente ideológico e derrubou quase totalmente as linhas partidárias. Na verdade, o impeachment foi tão partidário que houve membros que mudaram de partido nesse processo - dois - e também votos cruzados.

Os que mudaram de partido foram o deputado republicano Justin Amash, de Michigan, que deixou de ser republicano para se tornar independente, e o deputado Jeff Van Drew, de New Jersey, que está deixando o Partido Democrata para aderir ao Republicano.

Van Drew era um democrata até quarta-feira e deveria votar contra o impeachment e as acusações detalhadas por Collin Peterson, democrata de Minnesota. O único voto cruzado foi o do deputado Jared Golden, democrata do Maine, que votou contra a segunda acusação, de obstrução do Congresso. Todos os republicanos, por sua vez, votaram contra as duas acusações formuladas contra Trump.

Assim, no final, a acusação de abuso de poder foi aprovada por 230 contra 197 votos e a de obstrução do Congresso por 229 votos contra 198.

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O impeachment não foi tão partidário no caso de Bill Clinton, quando cinco deputados democratas mudaram seu voto, e nem no caso de Richard Nixon, quando meia dúzia de republicanos da Comissão do Judiciário da Câmara votou a favor do impeachment - ele renunciou antes da votação. Desta vez, foi uma votação quase que completamente seguindo a linha do partido.

Lealdade republicana

Os republicanos há muito tempo reprimem seus sentimentos com relação a Trump. Veem por alto os seus tuítes, concederam a ele o benefício da dúvida em casos como o comício dos nacionalistas brancos em Charlottesville, Virgínia, e têm procurado lidar com seu estilo desajeitado e nada ortodoxo e as dores de cabeça resultantes. Apesar disso, tiveram suas recompensas: muitos juízes, dois magistrados na Suprema Corte e cortes de impostos.

Mas as defesas que montaram para ele nos últimos três meses realmente consolidaram seu vínculo. Trump pediu a um país estrangeiro para investigar seu rival político com base em evidências espúrias, e fez o mesmo com uma teoria de conspiração que afirma que a Ucrânia poderia ter interferido na eleição de 2016, não a Rússia. Vários membros do seu próprio governo afirmaram que foi realizada uma reunião da Casa Branca e um assessor militar com relação à pressão no caso das investigações.

E quanto a isso, os republicanos não deram a mínima importância. De início, defenderam Trump meramente com base nos fundamentos do processo, mas a defesa do presidente na quarta-feira focou mais na falta de substância das acusações feitas contra ele.

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Além disso, seus defensores fingiram que ele não fez as coisas que, indiscutivelmente, ele fez. Alegaram que, na realidade, ele estava interessado na corrupção na Ucrânia, contra todas as evidências. Apresentaram argumentos que extrapolam os limites da lógica para descartar suas ações. Chegaram até a comparar sua perseguição à de Jesus.

Talvez não seja surpresa o fato de nenhum republicano ter votado a favor do impeachment. Há até graves punições se algum deles pensar que Trump fez algo errado. O que surpreende em tudo o que vimos, no entanto, é como os republicanos em sua totalidade o defendem vigorosamente.

O líder da maioria na Câmara, o democrata Steny Hoyer, afirmou nas suas alegações finais, que "ficou cada vez mais claro que o partidarismo chegou ao seu limite - e o ultrapassou".

Democratas têm de ver o que virá em seguida

A próxima etapa do processo é o envio dele pela Câmara para o Senado que então estabelecerá uma data para julgamento. O processo então ficará nas mãos dos republicanos, que são majoritários, e o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, de Kentucky, deixou claro que não está interessado em realizar um julgamento robusto com novas testemunhas. Na verdade, ele afirmou que coordenaria o processo inteiro com a Casa Branca.

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No Senado, haverá negociações sobre como esse julgamento será conduzido. Os republicanos conseguirão controlar grande parte dele, já que têm uma maioria de 53 a 47 votos e devem estabelecer as regras. Os democratas querem apresentar novas testemunhas, como o chefe de gabinete interino da Casa Branca, Mick Mulvaney, e o ex-assessor de segurança nacional John Bolton.

Parece também que haverá surpresas à frente. Os líderes da Câmara estão aparentemente brincando com uma sugestão feita por alguns: que a Casa espere para enviar o processo de impeachment para o Senado.

"Alguns acham que é uma boa ideia. E temos de conversar a respeito", disse Hoyer, acrescentando que "é uma proposta interessante. Não acho que será este o caminho que seguiremos, mas não significa que vamos descartá-lo imediatamente. Há considerações a serem feitas no tocante à outra legislação".

O deputado Earl Blumenauer, democrata de Oregon, disse ao site Politico que a presidente da Casa, Nancy Pelosi, "sugeriu estar interessada no assunto e o analisando".

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A ideia basicamente seria agir de maneira a privar o Senado da sua capacidade de absolvição de Trump e permitir que ele alegue inocência. E, nesse caso, os democratas continuariam a investigar, e possivelmente vencer, uma ação na Justiça para obter informações e convocar testemunhas-chave que não conseguiram até agora. Alguns democratas entendem a decisão de Nancy Pelosi de não nomear os encarregados do impeachment como sinal de que a opção está em jogo. O tempo dirá.

O problema para os democratas, naturalmente, é se acharem que o processo inteiro poderá prejudicá-los na eleição de 2020 e o prolongarem, chegando o mais próximo do pleito.

Trump não foi derrubado, pelo menos politicamente

Não é certo que o impeachment esteja prejudicando os democratas, mas também não parece ter afetado Trump. Depois de meses a partir da informação de um delator, investigações, audiências e agora a votação do impeachment, não há nenhuma evidência de que as revelações atingiram o apoio dos eleitores de Trump.

Seu índice de aprovação é de 43,3% segundo dados de pesquisas da FiveThirtyEight, a taxa mais alta desde março de 2017, embora não haja uma enorme diferença da parte dos eleitores com menos de 40 anos. Suas margens frente a potenciais oponentes em 2020 parecem também ter diminuído um pouco em comparação com os dois dígitos que seus rivais têm registrado em muitas pesquisas.

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Trump não será removido do cargo e Nancy Pelosi claramente se preocupa com o fato de que o impeachment prejudicará o Partido Democrata, assim como o impeachment do presidente Bill Clinton afetou os republicanos em 1998. Mas estamos longe ainda de dizer que este processo prejudicará os democratas em 2020 - e na verdade, as mudanças de partido e o tempo que ainda resta até a eleição sugerem que o impacto poderá ser insignificante.

Mesmo assim, é notável o fato de que todas as revelações não diminuíram o apoio desfrutado por Trump. Ele poderia não ser rotulado como o terceiro presidente destituído da história, mas como um terceiro presidente a sofrer um impeachment com a oportunidade de se reeleger. / Tradução de Terezinha Martino

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