Sobre este tema falo (escrevo) com propriedade de causa. Trabalhava numa e vi a mesma rede social bilionária afundar por uma mistura de três pecados capitais digitais – no caso, miopia, ambição e síndrome de onipotência. Tanto que, até hoje, 15 anos depois, custo a acreditar que participei do roteiro. Vou para o caso do título, do Elon Musk, e depois volto para o que vivenciei, tá?
O oscilante idiossincrático mais rico do mundo comprou o Twitter por U$ 44 bilhões (se não me engano e estou com preguiça de consultar). Sentou à cadeira de CEO e fez lambança atrás de outra até ser posto para abrir espaço em sua Herman Miller por enquete que ele mesmo promoveu na rede. Arranhou a imagem mas uma boa funilaria, um martelinho de ouro, ajeitaria tudo.
Não satisfeito, ele decuplicou a aposta e resolveu mudar o nome do Twitter para X. Nem entro no mérito de branding, capital social adquirido desde 2006 ou mesmo o significado de X para inteligências artificiais e mundo de entretenimento adulto, SEO e quetais. No banho do bebê ele não quer apenas jogar (o que considera) a água suja fora, mas operar uma plástica completa no core da plataforma. Quer que o Twi…ops…X vire um super aplicativo, com pagamentos online, compras e estrutura de rede social. A primeira coisa que me ocorre é pedir para alguém avisá-lo que o X almejado já existe e chama Whatsapp. Só que provavelmente aí mora o verdadeiro motivador da “estratégia” de Musk - Whatsapp é da Meta, do Zuckerberg, que dias atrás colocou no ar seu Threads, cuspido e escarrado do Twitter. Logo…
Logo nada.
Threads está com jeitão de que não passou de uma bela provocação a Musk. Ancorado no Instagram explodiu com nove digitos de usuários nos primeiros dias e nesta quarta-feira de cinzas baixou para menos de 70% disso.
Só que a miopia, ambição e senso de onipotência são contagiosos ou endêmicos no C-Level das redes sociais, e o Zuckerberg decidiu que irá emprestar modelo Only Fans para o seu Instagram. Deve ter visto que o negócio “adulto” cresceu de U$ 6 milhões em 2018 para U$ 1,2 bi em 2021 e decidiu que, tirando a parte “adulta” do modelo, quem tiver mais de 10K seguidores, a quem chamam de creators, poderá vender assinatura de seu “conteúdo” (aspas necessárias e desde que não “adulto”) para seus somente fãs.
Já o TikTok quer expandir seu negócio de atordoar os usuários com a blitzkrieg de imagens, vídeos, áudios, dancinhas e mil links por tela para possibilidade de publicação de textos - poesias, letras de música, pensamentos, eles dizem.
Neste ponto volto à experiência pessoal que abre esta pensata.
Fui o primeiro funcionário do MySpace no Brasil, quando a rede decidiu abrir operação no país. Fui até Los Angeles trabalhar na versão brasileira adaptada, aplicamos no país e o número de inscritos no País multiplicou logo por quatro. MySpace cresceu durante o ano em que trabalhei, era a maior rede social vigente, e o público o transformou no que foi seu modelo de sucesso - uma rede social basicamente de música, de conexão entre artistas, bandas e público.
Enquanto a estratégia de marketing e conteúdo seguiu a trilha aberta por artistas e público, com lançamentos de álbuns antecipados, de clipes, turnês e show exclusivos, merchandising e outros tipos de conexão, o MySpace nadou de braçada. E continuaria até hoje, tenho plena convicção, se a voz da cadeia de comando não olhasse para o Facebook, que vinha crescendo até mais, só que em direção oposta.
Se eu sonhar com o que os donos do negócio adotaram como "mantra" (literalmente falaram para todos os funcionários que a partir de então seria o mantra da empresa), certeza que acordarei suado e gritando: "MySpace não é plataforma musical; é uma rede social" ("MySpace is not a music platform; it is a social network").
Essas nove palavras (em português, 11 em inglês) significaram a derrocada de um dos negócios mais legais que vi nestes 20 e tantos anos nesta indústria vital.
Única solução é olhar e entender o que seu público quer; não os cutucões de seu ego.