O ex-policial militar Ronnie Lessa afirmou em sua delação premiada que não atuava como assassino de aluguel. Ele, que confessou ser responsável pela morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, declarou que aceitou cometer o crime para se tornar sócio da família Brazão em uma milícia.
Durante o segundo depoimento aos investigadores, Lessa afirmou que foi convidado para o crime pelo conselheiro do TCE-RJ, Domingos Brazão, e pelo deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido). Ambos negam qualquer envolvimento. "Eu não fui contratado para matar. Eu não sou um matador de aluguel. Fui contratado para ser sócio e ocupar a área", disse ele em vídeo divulgado pela Folha de São Paulo.
A delação de Lessa foi focada em casos pelos quais ele já responde na Justiça. Ele negou ter sido contratado pelo ex-vereador Cristiano Girão para matar um miliciano e também negou ter atuado como segurança do bicheiro Rogério Andrade.
Réu confesso pela morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, o ex-policial militar Ronnie Lessa disse que aceitou cometer o crime para se tornar sócio da família Brazão em uma milícia. 📲📰 Leia mais em https://t.co/WjbFAEaXQM pic.twitter.com/YxoKLxEIso
— Folha de S.Paulo (@folha) June 4, 2024
Ronnie Lessa detalha crime em delação premiada
Lessa afirmou ter participado do planejamento para assassinar Regina Céli, então presidente da escola de samba Salgueiro, como parte de sua contratação junto à equipe de policiais ligados ao bicheiro Bernardo Bello. No entanto, ele disse ter adiado o homicídio para evitar prejudicar sua participação no assassinato de Marielle, que prometia grandes ganhos financeiros.
"Porque a questão é, por mais que eu não soubesse quem ainda é Marielle, mas eu sabia que tinha uma coisa para ficar rico. Eu não vou me queimar por besteira se tem uma coisa para ficar rico. Então falei: 'Macalé...' Eu fui empurrando, empurrando", disse.
De acordo com a Polícia Federal (PF), os irmãos Brazão encomendaram o crime devido a embates com políticos do PSOL. O estopim teria sido a atuação de Marielle contra a regularização de loteamentos irregulares, negócio no qual a família Brazão atuava. Lessa afirmou que, em troca, receberia autorização para explorar um terreno no bairro do Tanque, que chamaria "Nova Medellín".
Ele também disse que os Brazão tinham interesse em expandir sua influência política através do ex-PM Edmilson de Oliveira, conhecido como Macalé, que era altamente popular na região. "Eles não tinham gerência nenhuma ali. O Macalé tinha um perfil político", afirmou Lessa.
O ex-PM explicou que seu papel na sociedade era facilitado por seus contatos dentro das polícias Militar e Civil, onde atuou por mais de uma década. "Trabalhei dez anos na Polícia Civil e dez anos na PM. Todos os oficiais com que trabalhei são coronéis, todos os delegados novinhos são chefes de polícia. Meu acesso era ótimo, até ser preso."
Em vídeo divulgado pelo Fantástico, Lessa estimou que o faturamento com o empreendimento irregular era de US$ 10 milhões. No depoimento, minimizou o valor para os irmãos Brazão, afirmando que "para eles, isso não é nada. Fazem isso há 30 anos."
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini