De forma inédita, eleitores israelenses vão às urnas pela segunda vez em seis meses. E o atual chefe de governo, Benjamin Netanyahu, luta por sua sobrevivência política enquanto enfrenta três processos por corrupção.Num parque de Jerusalém Ocidental, um pequeno grupo de ativistas do Azul e Branco se reúne para um piquenique. Antes da eleição desta terça-feira (17/09), eles discutem sua estratégia para mobilizar os eleitores a votarem em Benny Gantz, o ex-chefe militar líder da aliança centrista.
Não é uma tarefa fácil, numa cidade com longa tradição de votar em partidos de direita e ultraortodoxos. Mas nas últimas eleições, realizadas em abril, o Azul e Branco de Gantz provou ser uma ameaça real ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu partido Likud.
E as sondagens atuais preveem outro pleito apertado. "Acho que Bibi Netanyahu fez muito bem ao nosso país, mas, depois de 13 anos, é hora de mudar", comenta o ativista Yamit Avrahmu. "Acredito que Benny pode trazer um novo espírito. Nosso país precisa disso."
Grandes divergências entre seus potenciais parceiros de coalizão - os partidos ultraortodoxos e Avigdor Lieberman, líder do ultranacionalista Yisrael Beiteinu - sustaram abruptamente as ambições de Netanyahu de ser o político a ocupar o cargo de premiê por mais tempo em Israel após as eleições de abril.
Agora os israelenses têm que ir novamente às urnas - e alguns descrevem a campanha de Netanyahu como uma luta por sua sobrevivência política, até porque enfrenta acusações em três processos de corrupção.
"Esta eleição trata de três coisas principais: uma é o caráter e a liderança de Netanyahu; a segunda é a ameaça às instituições democráticas; a terceira, a competição por valores: tradicional versus liberal e secular versus religioso", analisa Tamir Sheafer, reitor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Hebraica.
Num café aconchegante em Jerusalém Ocidental, o proprietário Nuriel Zarifi não tem dúvidas em quem votar. Ele conhece pessoalmente o primeiro-ministro, que às vezes passa no local para tomar um café e saborear doces dinamarqueses. Pelas paredes do estabelecimento, veem-se imagens das visitas do premiê.
"O homem tem experiência. Isso é importante para todos os cidadãos comuns, especialmente num país como Israel, com tantos desafios", diz Zarifi. "E ele tem boas relações com líderes mundiais como Angela Merkel, Donald Trump e Vladimir Putin. Com ele, podemos dormir em paz à noite."
A campanha de Netanyahu retrata o atual premiê como um verdadeiro estadista, o único capaz de manter os cidadãos israelenses seguros. As recentes viagens ao exterior para se encontrar em Londres com o homólogo britânico Boris Johnson, e com o presidente russo Putin em Sochi, reforçam essa imagem. Outros enormes cartazes de campanha intitulados "Uma liga diferente" mostram Netanyahu apertando a mão de Trump.
No entanto notícias recentes sobre uma possível abertura de conversações entre Irã e EUA ofuscaram a relação estreita. E ainda não se sabe se as promessas de campanha de Netanyahu vão influenciar os eleitores da direita a votar no Likud em vez de nos partidos menores de direita e outros potenciais parceiros de coligação.
No início de setembro, Netanyahu prometeu "aplicar soberania" nos assentamentos israelenses no Vale do Jordão e na área ao norte do Mar Morto, se os eleitores lhe concederem o mandato. Ele acrescentou tratar-se de uma oportunidade histórica, até porque a administração americana planeja revelar seu assim chamado "plano de paz para o Oriente Médio", em algum momento após a eleição.
O líder do Azul e Branco, Benny Gantz - que Netanyahu descreve como um "esquerdista fraco" - chamou o comprometimento de "promessa vazia", mas foi rápido em apontar que sua plataforma partidária sempre deixou claro que o Vale do Jordão "é para sempre uma parte de Israel".
"Netanyahu está feliz de prometer qualquer coisa nesta eleição. E as pessoas estão muito céticas sobre isso, incluindo a direita que é a favor da anexação. Elas estão dizendo: 'Bem, você foi primeiro-ministro por 13 anos, então por que não fez nada até agora?'", aponta o jornalista Anshel Pfeffer, do jornal Haaretz.
Os oposicionistas de centro-esquerda fizeram dos processos contra Netanyahu um grande tema de campanha. Eles acusam o atual premiê de engendrar alianças com políticos de direita mais radicais, em troca de promessas de lealdade para que ele possa permanecer no poder.
"Os israelenses têm sido vítimas de um governo corrupto por muito tempo", afirma Stav Shafir, ex-política trabalhista e número dois da recém-formada União Democrática, uma fusão de três partidos de centro-esquerda. Há uma necessidade, diz ela, de "combater a direita que se tornou cada vez mais radical e ainda mais extrema e racista".
A verdadeira luta pelo poder começa no dia seguinte às eleições. Pesquisas mostram resultados diferentes sobre o que os israelenses preferem para o governo de coalizão. Segundo uma pesquisa recente do Instituto Israel Democracy, entre os israelenses judeus 39% querem um governo de unidade, tendo o Likud e o Azul e Branco como principais parceiros de coalizão.
Em outra pesquisa do Knesset Channel, 38% dos consultados disseram querer uma coalizão de direita e ultraortodoxa, e apenas 21% gostariam de ver um governo de unidade.
"Na política israelense tudo pode acontecer. Netanyahu afirma querer uma coalizão de 61 membros [de 120 cadeiras] no [Parlamento israelense] Knesset, no lado direito do mapa político", explica Gil Hoffman, correspondente-chefe do diário Jerusalem Post. "Isso não é tanto por razões ideológicas, mas porque esses 61 membros do Knesset devem ser os que dizem que ele não deve renunciar, caso seja indiciado."
Outra possibilidade é nem o Likud nem o Azul e Branco serem capazes de formar uma coalizão. Neste cenário, o Likud seria forçado a eleger um novo líder para permanecer no poder, diz Hoffman. "Esse novo líder conseguiria formar um governo de unidade muito facilmente, pois todos os demais partidos estão dizendo que o Likud poderia ser um parceiro de coalizão, mas Netanyahu, não."
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