Novo mandato de Trump pode repercutir forte no Oriente Médio

8 nov 2024 - 13h21

Volta do 'dealmaker' nova-iorquino à Casa Branca é saudada pelo aliado Israel, recebida com "indiferença" pelo inimigo regional Irã. Mas há perspectivas de a paz no Oriente Médio se tornar mais viável nos próximos anos?Enquanto Israel e Egito, aliados de longa data dos americanos, celebraram a futura volta de Donald Trump à Casa Branca, o Catar, Irã e outros membros do autoproclamado "Eixo de Resistência" - que se opõe Estados Unidos e Israel, sob liderança iraniana - comunicaram diplomaticamente sua "indiferença política".

Certos observadores políticos não têm a menor dúvida de que o presidente eleito está decidido a continuar tratando das políticas para o Oriente Médio do seu jeito peculiar. "Trump gosta de se apresentar como dealmaker, um grande mediador de acordos", comenta Neil Quilliam, especialista em Oriente Médio e Norte da África do think tank londrino Chatham House. "Ele vai querer continuar onde parou."

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Seriam três seus principais planos políticos para a região: em primeiro lugar, dar fim aos conflitos de Israel com o Hamas na Faixa de Gaza e com o Hezbollah no Líbano. Porém as metas de estabelecer uma administração para Gaza e potencialmente criar um Estado palestino estão muito provavelmente entrelaçadas com o segundo plano trumpista para o Oriente Médio.

Oriente Médio não é o mesmo depois do 7 de Outubro

"Trump vai querer insuflar nova vida aos Acordos de Abraão e aumentar o número de nações que normalizaram suas relações com Israel", prossegue Quilliam. "A Arábia Saudita é seu alvo principal, mas Riad resistirá, a menos que Trump se comprometa com um projeto de longo prazo de criar um Estado palestino."

Os Acordos de Abraão foram uma série de pactos entre Estados árabes e Tel Aviv, cuja mediação pelos EUA começou durante o primeiro mandato do magnata nova-iorquino. Em 2020 e 2021, os israelenses normalizaram relações diplomáticas com Marrocos, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Sudão.

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A Arábia Saudita também estava prestes a dar esse passo em 2023, mas as negociações ficaram congeladas a partir dos ataques terroristas do 7 de Outubro, pelo Hamas contra Israel, os quais desencadearam a guerra em Gaza e, no ano seguinte, o conflito com o Hezbollah no Líbano.

Para a especialista em análise de risco geopolítico e segurança no Oriente Médio Burcu Ozcelik, do Royal United Services Institute, sediado em Londres, Trump vai tentar projetar poder americano e demonstrar sua "vantagem distintiva" de mediador, porém "muito provavelmente descobrirá que o desafio é muito maior agora, no Oriente Médio pós-7 de Outubro".

Personalidade de Trump é trunfo junto a liderança árabe

A guerra em Gaza e os milhares de civis palestinos e libaneses mortos nas atuais campanhas militares israelenses - que, para muitos cidadãos do Golfo Pérsico teriam o apoio do atual governo de Joe Biden - esfriaram o entusiasmo pelos EUA nos Emirados Árabes, afirmou, num comentário recente, Kristin Smith Diwan, pesquisadora chefe do Arab Gulf States Institute, de Washington.

Enquanto em 2016 Riad saudou a vitória do Partido Republicano, em 2024 "a reação popular no Golfo é equivalente a um dar de ombros". No entanto é possível que a personalidade de Trump vire a maré, quando ele ocupar a Casa Branca, em janeiro: "A popularidade de Trump junto a muitos árabes do Golfo deriva não só da política externa dele, mas também da sua persona: sua projeção de força e disposição para 'dizer as coisas como elas são'."

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Por sua vez, o analista egípcio Ashraf El-Ashari, conta "testemunhar mais prosperidade entre Trump e os países árabes como Egito, Arábia Saudita, Emirados e Jordânia, devido à química política entre ele e os dirigentes árabes".

Essa "química política", entretanto, não se estende nem ao inimigo regional dos EUA, o Irã, nem às facções do Eixo da Resistência que este apoia, entre as quais o Hamas na Faixa de Gaza, o Hezbollah no Líbanos, os houthis no Iêmen e outros grupos xiitas no Iraque.

"Trump adotou linha-dura contra os grupos armados que o Irã apoia, e provavelmente ameaçará uma punição pesada, caso o pessoal ou os interesses americanos na região sejam atingidos", prediz Ozcelik. Contudo, ela não crê que ele esteja inclinado a arrastar os EUA para uma confrontação direta com o Irã, justo num momento em que se agrava a situação de xeque militar israelo-iraniana.

Além disso, na avaliação do especialista da Chatham House Quilliam, fechar um acordo com Teerã seria a terceira grande meta do presidente eleito para o Oriente Médio: "Para tal, Trump vai impor pressão máxima, sabendo que o Irã está debilitado no momento, e que o espectro de uma ofensiva israelense em grande escala contra sua liderança e seu programa nuclear o tornarão mais maleável e disposto a fazer uma grande barganha."

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Ozcelik ecoa esse ponto de vista: "Os republicanos são mais afeitos a uma postura militar, de 'gavião', ofensiva, inclusive o respaldo aos ataques militares israelenses contra alvos iranianos sensíveis, como instalações nucleares ou infraestrutura de energia."

Mas a especialista em risco geopolítico também crê que Trump "pode considerar conversações com Teerã para promover desescalada, se ele pode aparecer como aquele que conseguiu o impensável, aquilo que nenhum presidente americano obteve até hoje: alcançar a paz no Oriente Médio".

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