O que significa consumo moderado de álcool?

Nível preciso em que o consumo da bebida começa a prejudicar a saúde ainda está em debate

18 out 2024 - 19h53

Nos últimos anos, o número de mortes relacionadas ao álcool aumentou, assim como as discussões sobre os riscos desse consumo para a saúde. O apelo pela moderação ao beber tem se tornado mais urgente. Mas o que, exatamente, significa "moderação"?

Nos Estados Unidos, o consumo moderado é definido como uma dose ou menos por dia para mulheres e duas doses ou menos por dia para homens
Nos Estados Unidos, o consumo moderado é definido como uma dose ou menos por dia para mulheres e duas doses ou menos por dia para homens
Foto: Canva Fotos / Perfil Brasil

"De forma irônica, as pessoas definiram isso como não beber mais do que o seu médico bebe", diz Tim Stockwell, cientista do Instituto Canadense de Pesquisa sobre Uso de Substâncias ao jornal The New York Times.

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Nos Estados Unidos, o consumo moderado é oficialmente definido como uma dose por dia para mulheres e até duas doses para homens. Porém, cada país estabelece o conceito de moderação, também conhecido como consumo de baixo risco, de maneira distinta. Pesquisas recentes sobre os malefícios do álcool têm colocado em dúvida essas orientações.

Diretrizes globais sobre o consumo de álcool

Anteriormente, especialistas acreditavam que o consumo moderado de álcool poderia ser benéfico para a saúde. Esse entendimento vinha de estudos que mostravam que quem bebia de forma moderada vivia mais do que aqueles que se abstinham ou exageravam. O benefício desaparecia ao redor de duas doses diárias para mulheres e três para homens, segundo Stockwell.

No entanto, atualmente, muitos cientistas questionam esses dados. "Essas conclusões foram baseadas em análises de dados com 'todos os tipos de problemas metodológicos'", afirma Elizabeth Mayer-Davis, professora de nutrição e medicina na Universidade da Carolina do Norte ao jornal The New York Times.

Por exemplo, um dos problemas era que muitas pessoas que se abstinham do álcool o faziam por problemas de saúde preexistentes, enquanto aqueles que bebiam moderadamente tendiam a ter hábitos de vida mais saudáveis. Isso criou "o que era uma ilusão de benefícios à saúde com quantidades baixas a moderadas de consumo", explica Mayer-Davis.

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Agora, um novo método de avaliação de risco foca nas mortes provocadas diretamente pelo álcool, como cirrose hepática, intoxicação alcoólica e alguns tipos de câncer. "É muito menos tendencioso e confuso se você se concentrar apenas em condições causadas pelo álcool", diz Stockwell.

Com base nesse critério, especialistas descobriram que o consumo de baixo risco envolve menos álcool do que os limites sugeridos por países como os Estados Unidos. No entanto, o ponto exato em que o consumo começa a prejudicar a saúde, e o que é considerado um risco aceitável, segue sendo debatido.

Alguns países já ajustaram suas orientações. Austrália e França agora recomendam que ambos os sexos consumam até 10 doses por semana. Anteriormente, na Austrália, o limite era de duas doses diárias para homens e mulheres, e, na França, três para homens e duas para mulheres. Já no Canadá, onde Stockwell esteve envolvido nas revisões, o consumo de baixo risco foi reduzido para no máximo duas bebidas por semana, sem distinção de gênero.

Nos Estados Unidos, as diretrizes mais recentes, emitidas em 2020, contaram com um comitê liderado por Mayer-Davis, que sugeriu limitar o consumo a uma dose por dia para homens e mulheres. A recomendação reflete a pesquisa mais recente, que indicava que "não havia quantidade de álcool que beneficiasse a saúde", explica Mayer-Davis. "Mas não vamos ao ponto de dizer que todos precisam parar de beber, porque isso não é realista", acrescenta.

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Contudo, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) e o Departamento de Saúde, responsáveis pelas diretrizes oficiais, rejeitaram essa sugestão. Quando questionado sobre a decisão, um representante do USDA declarou, em e-mail, que "as evidências emergentes mencionadas no relatório do comitê não refletem a preponderância das evidências neste momento". O próximo conjunto de diretrizes alimentares está previsto para 2025, e ainda não está claro se haverá mudanças nas orientações atuais.

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