Depois de o presidente brasileiro minimizar os impactos da nova variante, diretor da Organização Mundial da Saúde afirma que "nenhum vírus que mata pessoas é bem-vindo" e que não se trata de uma doença leve.A Organização Mundial da Saúde (OMS) refutou declarações do presidente Jair Bolsonaro que minimizaram os impactos da nova variante ômicron do coronavírus e sugeriram que ela seria "bem-vinda".
"Não é hora de declarar que esse é um vírus bem-vindo. Nenhum vírus que mata pessoas é bem-vindo. Especialmente quando essa mortalidade e esse sofrimento são evitáveis com o uso apropriado da vacinação", declarou o diretor-executivo do programa de emergências em saúde da OMS, Michael Ryan.
Ao ser questionado nesta quarta-feira (12/01) sobre as declarações do presidente brasileiro, feitas no mesmo dia, Ryan afirmou que embora a ômicron possa ser "menos grave como uma infecção viral num indivíduo, isso não significa que se trata de uma doença leve".
Há muitas pessoas mundo afora em hospitais, em UTIs, com dificuldade de respirar, o que "obviamente deixa muito claro que esta não é uma doença leve", acrescentou ele, em coletiva de imprensa em Genebra.
"É uma doença que pode ser prevenida por vacinas, é uma doença que pode ser evitada ao se adotar fortes precauções pessoais para evitar a infecção e ser vacinado", reforçou.
Bolsonaro fala em "vírus vacinal"
Bolsonaro fez as declarações sobre a variante do coronavírus numa entrevista dada ao site Gazeta Brasil. "A ômicron, que já espalhou pelo mundo todo, como as próprias pessoas que entendem de verdade dizem: que ela tem uma capacidade de difundir muito grande, mas de letalidade muito pequena. Dizem até que seria um vírus vacinal", disse o presidente.
"Segundo algumas pessoas estudiosas e sérias, e não vinculadas a farmacêuticas, dizem que a ômicron é bem-vinda e pode sim sinalizar o fim da pandemia", acrescentou
Bolsonaro afirmou ainda que a variante não tem causado mortes e que o óbito de um homem em Goiás relacionado à ômicron, o primeiro em decorrência da variante confirmado no Brasil, seria de uma pessoa que já apresentava "problemas seríssimos". A vítima tinha 68 anos e sofria de doença pulmonar crônica e hipertensão arterial.
Dados indicam que a ômicron, reportada pela primeira vez à OMS no fim de novembro e altamente transmissível, já é a variante do coronavírus dominante no mundo e no Brasil. Segundo números divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) nesta quarta, o país registrou mais de 87 mil novas infecções pelo coronavírus em 24 horas, mais do que o triplo das 27 mil computadas uma semana antes.
Na entrevista concedida ao Gazeta Brasil, Bolsonaro também voltou a questionar a eficácia das vacinas contra a covid-19, afirmando que pediu que o Ministério da Saúde divulgue casos de efeitos colaterais.
Bolsonaro vem minimizando a gravidade da covid-19, a qual chamou de "gripezinha", desde o início da pandemia. Ele também promoveu medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença e fez repetidos ataques aos imunizantes.
A CPI da Pandemia revelou que o governo federal ignorou uma série de e-mails da farmacêutica Pfizer com ofertas de sua vacina e acusou o presidente de uma série de crimes no âmbito da emergência sanitária.
Alertas da OMS
A OMS já fez uma série de alertas sobre os possíveis impactos da variante ômicron, apontando que ela pode sobrecarregar sistemas de saúde mundo afora.
Em seu relatório epidemiológico semanal divulgado nesta terça-feira, a organização destaca haver cada vez mais evidências de que a variante ômicron é capaz de "escapar à imunidade", pois há transmissão mesmo entre os vacinados e pessoas que já tiveram a doença.
Embora haja "evidências crescentes" de que a ômicron é menos grave do que variantes anteriores do coronavírus, a organização destacou que os riscos à saúde apresentados pela ômicron continuam sendo muito altos, pois ela pode levar a um aumento de hospitalizações e mortes em populações vulneráveis.
A OMS alertou que mais da metade da população da Europa poderá ter contraído a variante nos próximos dois meses se os números de infecções continuarem nas taxas atuais.
Também o imunologista Anthony Fauci, o principal assessor do governo dos EUA em relação à pandemia, prevê que, mais cedo ou mais tarde, a ômicron, "com seu grau de eficiência de transmissibilidade sem precedentes", infecte quase todas as pessoas.
Ele destacou, no entanto, que a doença será "menos grave" graças às vacinas e às doses de reforço. "Praticamente todos vão acabar expostos e, provavelmente, serão infectados, mas se forem vacinados e receberem os reforços, as chances de ficarem doentes são muito, muito baixas", disse.
lf (Reuters, AFP, ots)