Opinião: É hora de uma discussão objetiva sobre Trump

20 jan 2018 - 07h49
(atualizado às 12h13)

Donald Trump está no cargo há um ano. Para seus críticos, é muito fácil unir-se no ódio cego do que se ocupar ponderadamente com a política do presidente americano, opina a editora-chefe da DW, Ines Pohl.Figuras odiosas têm a grande vantagem de agregar pessoas por trás delas. Odiar cega. E, no ódio conjunto, desaparecem todas as diferenças, oposições e contradições. Odiar agrega e dá a sensação e ideia de ter uma vida melhor quando há falta de ideias e visões verdadeiras.

Donald Trump está há um ano no poder e deve ficar ainda por um bom tempo
Donald Trump está há um ano no poder e deve ficar ainda por um bom tempo
Foto: DW / Deutsche Welle

Olhando para os EUA nos dias de hoje, não é mais o sonho de uma vida melhor - como tem sido há séculos - que mantém este imenso país unido. Se há um sentimento dominante, esse é a aversão ao outro campo político. No sistema bipartidário, isso é relativamente fácil. Como já afirmado no Evangelho de Mateus (capítulo 12, versículo 30): "Aquele que não está comigo está contra mim".

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Em 2016, ano em que Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, eu era correspondente da Deutsche Welle nos EUA. Viajei milhares de quilômetros de Leste a Oeste, de Norte a Sul. Conheci as metrópoles. Mas, principalmente, o restante, como as pequenas cidades e suas arenas esportivas.

Acompanhei desde o início a sua marcha em direção à Casa Branca. Vivenciei como ele entusiasmava as massas - estudantes e trabalhadores, aposentados, mães, donas de casa e empresários - e quanto tempo demorou até os democratas perceberem que este homem poderia realmente conseguir se impor - primeiramente como candidato dos republicanos e, depois, no embate direto com Hillary Clinton.

Foi a arrogância do poder: como poderia ser possível que uma estrela de TV vencesse o aparato de poder Clinton? A mulher que mostrou tão profundamente quem ela era ao descrever os apoiadores de Trump como pessoas lamentáveis.

Um ano atrás, Donald Trump prestou juramento numa Washington chuvosa e cinzenta. Desde então, um debate sensato sobre a política do presidente tornou-se impossível no próprio país. A reação é só uma: "que horrível, que ruim, como é terrível".

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Isso é antidemocrático. Afinal, Trump foi eleito de acordo com a legislação eleitoral americana. E é estúpido. Assim, muitos meios de comunicação liberais também estão pondo em jogo uma maior credibilidade.

É claro que é tarefa deles apontar o perigo de muitos tuítes presidenciais. Ou mostrar por meio de pesquisas e fatos quem realmente e, a longo prazo, vai lucrar com a reforma tributária de Trump. Mas, para qualquer mente crítica, deveria ser óbvio, também no caso de adversários políticos, analisar aberta e diretamente, e valorizar o correto e o bom.

Por exemplo, o que há de errado na reivindicação que a Europa, finalmente, encontre uma política externa e de defesa forte e comum? Por que um presidente americano não poderia exigir que a Alemanha contribuísse financeiramente mais para a Otan? E especialmente a Alemanha deveria olhar muito atentamente para a sua própria política para a Europa quando critica o slogan "Primeiro a América". Afinal, com sua austeridade econômica, também o ministro alemão das Finanças teve em mente, nos últimos anos, acima de tudo, o bem-estar de seu próprio país. Da mesma forma, a burocracia excessiva e a má gestão da ONU são certamente um tema sensato.

Os tuítes agressivos de Trump contra a Coreia do Norte também me amedrontam e me assustam. Mas também reconheço a incapacidade do governo de Barack Obama de ter reconhecido a real situação do programa armamentista nuclear de Pyongyang. E sim, também me preocupo quando vejo como Rússia e China adentram o vácuo deixado pelo afastamento dos EUA de seu papel como poder regulador internacional.

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Mas, também aqui, faz parte do quadro geral o fato de ter sido Barack Obama quem estabeleceu uma nova doutrina com seu "liderar por trás". E o seu fracasso na Síria e no Oriente Médio como um todo não pode ser, de forma alguma, atribuído à administração Trump.

Para mim, a frase mais contundente de todo esse espetáculo eleitoral foi proferida por Michelle Obama: "Se eles pegam baixo, pegamos alto". Trraduzido livremente: "Se os outros se comportam mal, então respondemos com decência e estilo". É como todos os críticos de Trump deveriam agir em casa e no exterior.

Donald Trump está há um ano no cargo. E apesar de todas as esperanças de impeachment, parece que ele vai continuar a governar por um bom tempo.

Há aquele belo ditado americano: "Get over it". Traduzido livremente: "Agora é assim". Um bom momento, portanto, para tratar as discussões sobre Trump com objetividade. Não se ocupar mais com seus cabelos e com a cor de sua pele, mas com a sua política de forma objetiva e ponderada.

Não se irritar com todo e qualquer tuíte - mas esclarecer o que está errado ou, também, o que faz sentido em suas exigências políticas. Também reconhecendo quão difícil é ter uma responsabilidade política neste mundo.

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Pois odiar é fácil. Elaborar e proporcionar verdadeiras alternativas é muito mais difícil.

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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App

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