Os principais desafios do próximo embaixador nos EUA

Analistas ouvidos pelo 'Estado' citam o aumento da visibilidade do Brasil e evitar o aumento de tarifas contra produtos nacionais

19 ago 2019 - 10h11
(atualizado às 10h32)

Aumentar a visibilidade e influência do Brasil e evitar o aumento de tarifas contra produtos brasileiros em meio à guerra comercial entre China e Estados Unidos serão dois dos principais desafios próximo embaixador do Brasil em Washington. A avaliação é de analistas e ex-embaixadores ouvidos pelo Estado.

Nesta segunda-feira, 19, o Estado mostrou que o nome de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, enfrenta resistência no Senado, onde o deputado federal deve ser sabatinado. O levantamento revelou que o governo ainda não tem o mínimo de 41 votos em plenário para referendar a indicação, que quebra uma tradição dentro do Itamaraty, desde a redemocratização, de ter na embaixada em Washington sempre um diplomata de carreira.

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Presidente dos EUA, Donald Trump
13/08/2019
REUTERS/Jonathan Ernst
Presidente dos EUA, Donald Trump 13/08/2019 REUTERS/Jonathan Ernst
Foto: Reuters

Na capital americana, centenas de diplomatas estrangeiros disputam um espaço na apertada agenda das autoridades do governo. "Um embaixador precisa ter muita experiência, conhecimento e habilidade para ser ouvido em Washington", disse Oliver Stuenkel, coordenador do programa de pós-graduação da Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas.

Visibilidade

"Tudo é disputa por visibilidade. É a capital onde há mais diplomatas estrangeiros no mundo e todos querem falar com os tomadores de decisão do governo dos EUA. E há, ainda, um número muito grande de lobistas".

Para Oliver Stuenkel, dois fatores adicionam pressão ao futuro ocupante do cargo: as eleições em 2020 - em que Donald Trump buscará um novo mandato - e a importância que o presidente Jair Bolsonaro atribui aos Estados Unidos. "A transformação dessa relação com os EUA é a peça-chave da revolução proposta na política externa por Bolsonaro".

Para o professor, o embaixador vai ter que transformar essa retórica em estratégia, entregar resultados e aprofundar a relação bilateral. Outra necessidade citada será evitar o aumento de tarifas de produtos brasileiros que podem competir com os norte-americanos, em especial os agrícolas.

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EUA-China

Mônica Herz, professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, também afirma que o governo dos EUA pode mudar no ano que vem e que será preciso lidar com a enorme complexidade do aparato de Estado norte-americano, com a sociedade civil e organizações daquele país.

"Relações entre Estados e sociedades são mais importantes e complexas do que as entre mandatários", disse. Ela lembrou ainda da disputa sistêmica por influência entre EUA e China na América Latina. "Nossos interesses são diversos e não se alinham totalmente com nenhum dos dois. Teremos que administrar nossa atuação nesse contexto".

'Agenda grande'

Último embaixador do Brasil em Washington, Sergio Amaral relatou ter preparado terreno para a consolidação de grandes acordos com os Estados Unidos, que agora terão de ser encampados pelo novo titular do posto. "Haverá uma agenda muito grande de trabalho", disse ele, que não quis comentar a indicação de Eduardo.

Segundo o diplomata, com a globalização e as transformações em curso nas sociedades atuais, um embaixador deve ser capaz de compreender as transições no universo político. "Os políticos não souberam explicar isso para a população, que acabou recorrendo a líderes populistas", afirmou.

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Ex-embaixador nos EUA entre 1999 e 2004, Rubens Barbosa defendeu priorizar interesses acima de partidos e ideologias, "com prudência e comedimento, sobretudo nos pronunciamentos públicos". "O que conta é ter acesso e influência", escreveu em artigo no Estado.

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