Na noite dessa segunda-feira, 9, o vereador Carlos Bolsonaro, filho "02" do presidente da República, afirmou em suas redes sociais que o País não poderia mudar "por vias democráticas". No Palácio do Planalto, dois auxiliares do presidente disseram, sob a condição de anonimato, que o que Carlos fala não se escreve. Um ministro chegou a afirmar que a postagem do vereador "é uma maluquice".
Essa, entretanto, não é a primeira vez que um membro da família Bolsonaro expõe publicamente falas ou atitudes consideradas anti-democráticas. Os registros de tais declarações começam ainda na década de 1990. Relembre-os abaixo:
"Através do voto, você não muda nada no País. Tem que matar uns 30 mil"
Durante entrevista concedida na década de 1990, Jair Bolsonaro afirmou ser favorável à tortura e ao "pau-de-arara", técnica usada durante a ditadura militar (1964 - 1985). Questionado se fecharia o Congresso Nacional caso um dia caso fosse eleito presidente da República, ele respondeu: "Não há a menor dúvida! Daria golpe no mesmo dia".
Na mesma sequência, ele afirmou: "Através do voto, você não mudar absolutamente nada no Brasil. Só vai mudar quando tivermos uma guerra civil aqui dentro". Assista abaixo:
"Se quiser fechar o STF, manda um soldado e um cabo"
Em julho do ano passado, Eduardo Bolsonaro defendeu que, para "fechar o STF" bastaria "um cabo e um soldado", e que os ministros não teriam poder "na rua". A afirmação foi feita para alunos de um curso preparatório para a Polícia Federal, após o filho do então presidenciável Jair Bolsonaro dizer que o Supremo estaria "pagando pra ver", caso impugnasse a candidatura de seu pai.
"Será eles que vão ter essa força mesmo? O pessoal até brinca lá: se quiser fechar o STF sabe o que você faz? Você não manda nem um Jipe, manda um soldado e um cabo. Não é querendo desmerecer o soldado e o cabo. O que é o STF cara? Tira o poder da caneta de um ministro do STF, o que ele é na rua?"
"Só há democracia e liberdade quando forças armadas querem"
Em março deste ano, durante um discurso improvisado para fuzileiros navais, Bolsonaro disse que a democracia e a liberdade dependem da vontade das Forças Armadas. A declaração foi dada em um quartel da Marinha, no Rio de Janeiro, um dia após a polêmica do "golden shower".
"(Essa missão) Será cumprida ao lado das pessoas de bem do nosso Brasil, daqueles que amam a pátria, daqueles que respeitam a família, daqueles que querem aproximação de países que têm uma ideologia semelhante à nossa, daqueles que amam a democracia e a liberdade. E isso, democracia e liberdade, só existem (sic) quando a sua respectiva força armada assim o quer", disse Bolsonaro, no discurso à tropa.
"País ingovernável"
Pouco mais de dois meses depois, Bolsonaro voltou com o discurso de que é vítima de um sistema corrompido ao compartilhar, por WhatsApp, um texto que afirma "que o Brasil, fora desses conchavos, é ingovernável". Atacando o que chama de "velha política", o texto diz que o presidente sofre pressões de todas as corporações, em todos os Poderes, e que o País "está disfuncional", mas não por culpa de Bolsonaro.
"Escolhido por Deus"
Na mesma semana, o presidente da República publicou em suas redes sociais um vídeo no qual o pastor congolês Steve Kunda afirma que ele foi "escolhido por Deus" para comandar o País. Na publicação, Bolsonaro escreveu que "não existe teoria da conspiração, existe uma mudança de paradigma na política" e que "quem deve ditar os rumos do país é o povo! Assim são as democracias".
A Constituição brasileira assegura que o Estado seja laico, ou seja, sem a agregação de valor religioso sobre os governantes e seus atos. Além disso, a forma de governo na qual o líder justifica seu cargo como chefe de Estado por indicação divina é a monarquia absoluta.
"O problema do Brasil é a classe política"
No dia seguinte, Bolsonaro criticou a classe política brasileira como um todo, afirmando durante discurso para empresários: "É um país maravilhoso que tem tudo para dar certo, mas o grande problema é a nossa classe política. (...) Nós temos que mudar isso", disse na ocasião, ao lado de Marcelo Crivella e Wilson Witzel, prefeito e governador do Rio, respectivamente.
Apoio a ditaduras
Antes mesmo de chegar à presidência, Bolsonaro já elogiou e reverenciou ditaduras militares como a que se instaurou no Brasil, entre 1964 e 1985. Em seu voto durante o impeachment de Dilma Rousseff, ele chamou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra de "herói nacional", fala repetida ainda no mês passado. Ustra foi o primeiro militar condenado por tortura e sequestro na ditadura.
Na semana passada, o presidente, que já negou a existência de um golpe militar no Brasil, voltou a elogiar regimes ditatoriais. Dessa vez, Bolsonaro exaltou a ditadura de Augusto Pinochet, no Chile, responsável pela prisão e tortura de 32 mil pessoas entre 1973 e 1990.
Desrespeito às Instituições e interferência nos Três Poderes
Além de ter defendido o fechamento do Congresso durante a década de 1990, o presidente é protagonista recorrente de críticas e sugestões de interferência nas instituições brasileiras e nos Três Poderes. Em 2018, ele questionou a atuação do STF, no mesmo dia em que era julgado pelo tribunal por uma denúncia de racismo.
Em maio deste ano, ele voltou a criticar o Supremo após este ter aprovado que a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero deve ser equiparada ao crime de racismo. O presidente sugeriu, mais uma vez, misturar política com religião ao defender que indicaria um ministro "terrivelmente evangélico" no STF.