A inclusão do padre José Eduardo de Oliveira e Silva na lista dos 37 indiciados pela Polícia Federal (PF) por suspeita de envolvimento em um plano de golpe de Estado chamou atenção por unir um líder religioso a um contexto de conspiração política. O sacerdote, que é Pároco da Paróquia São Domingos em Osasco (SP), teria participado de reuniões com o então presidente Jair Bolsonaro e integrantes de seu núcleo próximo para discutir maneiras de impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no final de 2022, segundo aponta a PF.
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Entre as propostas levantadas nessas reuniões, conforme as investigações, estavam a decretação de estado de sítio, prisão de autoridades e a convocação de novas eleições. José Eduardo, no entanto, negou as acusações em depoimento prestado à PF no início de novembro.
Segundo o padre, os encontros com Bolsonaro não tiveram conotação política, sendo exclusivamente para prestar "apoio espiritual" ao ex-presidente.
A conexão do religioso ao plano golpista foi inicialmente revelada pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator no caso. Documentos da investigação também registram a entrada do padre no Palácio do Planalto no dia 19 de novembro de 2022, onde teria se reunido com outros indiciados, como Filipi Martins e Amauri Feres Saad.
Quem é José Eduardo de Oliveira e Silva
Natural de Piracicaba (SP), José Eduardo mudou-se ainda criança para Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo. Ele foi ordenado sacerdote da Diocese de Osasco em 2006 e é doutor em Teologia Moral pela Universidade da Santa Cruz, em Roma.
Conhecido por suas palestras sobre temas como aborto, gênero e defesa da família, o padre também é uma figura polêmica nas redes sociais, onde possui mais de 400 mil seguidores.
Entre as declarações controversas, José Eduardo já afirmou ter “saudades dos tempos em que o banheiro servia só para necessidades fisiológicas” e sugeriu que a indústria farmacêutica criasse “um calmante em forma de supositório”. Além das redes, ele oferece cursos de ensino teológico com valores que ultrapassam R$ 800 por ano e mantém um canal no YouTube com 136 mil inscritos.
Em fevereiro deste ano, o sacerdote foi alvo de uma operação de busca e apreensão realizada pela PF, que recolheu documentos e equipamentos relacionados às investigações. A PF o identificou como integrante do núcleo jurídico do suposto esquema golpista, que teria a função de criar minutas de decretos que fundamentassem juridicamente as intenções golpistas.
A defesa de José Eduardo criticou a divulgação do nome do religioso pela Polícia Federal, acusando o órgão de violar o sigilo decretado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo os advogados, “a nota da Polícia Federal com a lista de indiciados é mais um abuso realizado pelos responsáveis da investigação e, tendo publicado no site oficial do órgão policial, contamina toda instituição e a torna responsável pela quebra da determinação do Ministro de sigilo absoluto".