Passageiros desembarcam de cruzeiro em quarentena no Japão

Navio, mantido em isolamento por mais de duas semanas, concentra maior número de casos do Covid-19 fora do território chinês

19 fev 2020 - 07h35
(atualizado às 08h45)

Centenas de pessoas começaram a desembarcar do cruzeiro Diamond Princess em Yokohama, no Japão, nesta quarta-feira (19). O navio foi mantido em isolamento devido ao surto do coronavírus Covid-19 durante mais de duas semanas, com 3,7 mil pessoas a bordo. A quarentena chegou a ser criticada como "fracasso".

Cerca de 500 passageiros deverão começar a deixar o navio nesta quarta, que foi colocado em isolamento no dia 3 de fevereiro, quando um ex-passageiro foi diagnosticado com o Covid-19 em Hong Kong.

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Desembarque deverá durar três dias; quarentena gera temores de mais infecções
Desembarque deverá durar três dias; quarentena gera temores de mais infecções
Foto: DW / Deutsche Welle

O Diamond Princess concentra o maior número de infecções fora da China, com 542 casos confirmados entre os cerca de 3,7 mil passageiros e tripulantes.

O desembarque deverá durar cerca de três dias, enquanto se espera a divulgação de mais resultados de testes com os ocupantes. Os tripulantes deverão iniciar uma nova quarentena quando o último passageiro deixar o navio.

Apenas passageiros cujo teste para o coronavírus foi negativo e que não apresentaram sintomas durante o período de isolamento poderão desembarcar. Aqueles com teste negativo, mas que ocuparam cabines com pessoas infectadas, deverão continuar a bordo para uma quarentena prolongada, segundo autoridades japonesas.

Passageiros a bordo de um segundo cruzeiro, o Westerdam, atracado em Sihanoukville, no Camboja, também começaram a desembarcar após ficarem isolados e receberem resultados negativos para o Covid-19.

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O Japão vem recebendo críticas a respeito da resposta ao surto da doença respiratória, apesar de autoridades defenderem a decisão de colocar o Diamond Princess sob quarentena e testar as pessoas a bordo.

"Infelizmente, surgiram casos de infecção, mas até agora tomamos medidas apropriadas para evitar casos mais sérios. Essas medidas incluíram enviar pessoas infectadas a hospitais", disse o ministro japonês da Saúde, Katsunobu Kato, à emissora NHK.

Muitas pessoas no Japão questionaram o fato de passageiros e tripulantes do Diamond Princess poderem embarcar em voos com destino às suas casas. Kentaro Iwata, professor de doenças infecciosas na Universidade de Kope, classificou a quarentena de "fracasso, um erro". "É muito provável que infecções secundárias tenham ocorrido", avaliou Iwata, classificando o ceticismo internacional com a quarentena de "natural".

Vários países decidiram não respeitar a quarentena do Diamond Princess e fretaram aviões para repatriar cidadãos. Na primeira evacuação, na segunda-feira, mais de 300 americanos foram levados de volta ao país de origem, apesar de 14 deles terem tido teste positivo para o coronavírus. Reino Unido, Hong Kong e Austrália também disseram que vão repatriar cidadãos, mas insistem numa quarentena adicional de 14 dias em casa.

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Michael Ryan, chefe do Programa de Emergências de Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), disse que o surto é "muito sério" e que poderia aumentar, mas destacou que, fora da província central chinesa de Hubei, epicentro da doença, o Covid-19 está afetando "uma proporção muito, muito pequena de pessoas".

Redução no número de casos

Na China continental, o número de mortos chegou a 2.004 - cerca de 75% deles registrados na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei.

O número de novos casos no país, com exceção de Hubei, vem caindo nas últimas duas semanas, e teve o menor aumento desde o dia 29 de janeiro. Foram 1.749 novos casos confirmados. Na terça, fora de Hubei, as novas infecções totalizaram 56. No dia 3 de fevereiro, o número atingiu o pico de 890.

Hubei também relatou o número mais baixo de novas infecções desde o início da semana passada. A notícia causou valorização das ações no mercado asiático e no mercado de futuros americano, num momento em que investidores tentam dissipar temores sobre a doença.

As últimas informações mostram que o número total de casos na China é de 74 mil infecções. Centenas de casos também foram registrados em vários países, incluindo 15 na Coreia do Sul (o equivalente a um aumento de 50%). A cidade de Daegu, no sul do país, concentra o maior número de casos.

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Seis pessoas morreram fora da China continental, incluindo uma morte nesta quarta em Hong Kong, a segunda no território.

A agência estatal Xinhua relatou que a província de Hubei, epicentro do Covid-19, está aumentando os esforços para encontrar todas as pessoas com febre. As autoridades regionais deverão conferir os registros de todos os pacientes com febre que foram ao médico desde 20 de janeiro, além de pessoas que compraram medicamentos para tosse e febre sem prescrição médica.

Autoridades chinesas também dizem que a aparente redução nas taxas de infecção evidenciam que as severas medidas de contenção do vírus estão funcionando, mas especialistas internacionais dizem que é muito cedo para prever como o surto vai se desenvolver, alertando que continua a ameaça de um surto mais sério, já que muitos funcionários estão voltando, aos poucos, ao trabalho, após um feriado prolongado de Ano Novo Lunar devido ao Covid-19.

Atualmente, a China luta para retomar as atividades do setor manufatureiro depois da imposição de severas restrições de viagens para tentar conter o coronavírus, que surgiu na província central de Hubei no final de 2019.

Apesar disso, o presidente Xi Jinping afirmou que a China conseguirá atingir suas metas econômicas para este ano. Autoridades chinesas também dizem que o impacto econômico do vírus será limitado e de breve duração.

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Por outro lado, as cadeias de fornecimentos de empresas como a Apple e fabricantes de veículos foram interrompidas, causando impacto global. Estimativas mostram que o Japão e Cingapura estariam à beira de uma recessão, enquanto o presidente sul-coreano afirmou que a economia do país está em estado de emergência. Economistas, por seu lado, alertam para a possibilidade de demissões em massa na China se o vírus não for contido logo.

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