Pobre rainha! Mortes e crises geram novo 'annus horribilis'

Netos brigados, família exposta na TV e a perda do marido e de um grande amigo fazem Elizabeth II reviver outro ciclo dramático

23 abr 2021 - 14h29
(atualizado às 14h29)

De tempos em tempos, a rainha mais famosa do planeta enfrenta uma fase terrível. Elizabeth também sofre, como qualquer plebeu anônimo. Suas maiores tormentas começaram há quase três décadas, quando ela testemunhou a infelicidade de seus filhos — e este 2021 já se impõe como um tempo de desolação em sua longa vida.

Legenda: Uma rainha exausta: este retrato incomum de Elizabeth II foi tirado pelo fotógrafo Chris Levine
Legenda: Uma rainha exausta: este retrato incomum de Elizabeth II foi tirado pelo fotógrafo Chris Levine
Foto: Divulgação

Em discurso feito no final de 1992, Elizabeth II descreveu aquele período como ‘annus horribilis’. A expressão em latim se refere a um ano de acontecimentos dramáticos. “Não olharei para trás com prazer”, disse, em rara confissão pública de angústia.

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Nos meses anteriores, a monarquia britânica havia sido sacudida pelo anúncio da separação de Charles e Diana, o casal mais midiático do planeta naquele momento. No mesmo período, a rainha acompanhou o divórcio de sua única filha, Anne, e a separação do filho predileto, Andrew.

Outro fato abalou a soberana: um incêndio destruiu boa parte do Castelo de Windsor, a propriedade preferida da família real, usada oficialmente para casamentos e funerais. Assim que o fogo foi apagado, surgiu uma polêmica: quem pagaria pela restauração? Elizabeth ficou sob pressão popular para usar recursos próprios. Mas o Estado assumiu a conta. Naquele ano, ela ainda perdeu um sobrinho, príncipe Albrecht de Hohenlohe-Langenburg, que se suicidou aos 48 anos.

A rainha Elizabeth e o príncipe Philip em foto comemorativa dos 70 anos de casados, em 2017: morte do marido produziu “profunda tristeza” na monarca
Foto: Divulgação

Cinco anos depois, nova época trevosa. A morte da princesa Diana, aos 36 anos, em consequência de acidente de carro em Paris, jogou a monarquia em uma de suas piores crises de imagem desde a ascensão ao trono de Elizabeth, aos 25 anos, em 1952. Por se manter calada nos primeiros dias após a tragédia, foi chamada de insensível por súditos e imprensa.

“Onde está nossa rainha?”, questionou uma capa do tabloide ‘The Sun’. “Mostre que se importa com nossa dor”, escreveu outro jornal, ‘The Express’. Sob inédita reprovação, Elizabeth foi obrigada a fazer uma aparição pública, conversar com fãs de Diana e expor luto em pronunciamento em cadeia de rádio e TV para elogiar a ex-nora, com quem teve inúmeros conflitos.

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Mais um ‘annus horribilis’ foi 2002. Em intervalo de apenas 50 dias, a soberana perdeu a única irmã, princesa Margaret, 71 anos, e a rainha-mãe, também chamada Elizabeth, 101 anos. Ambas exerceram forte influência em sua jornada e eram companhias constantes nos solitários palácios e castelos.

A matriarca dos Windsor teve pouco sossego em 2019. Seu terceiro filho, príncipe Andrew, precisou deixar as funções oficiais após ser envolvido em escândalo de exploração sexual de menores. As manchetes do caso chocaram a rainha. Na mesma época, William e Harry começaram a se desentender. Ela chegou a aconselhá-los em um dos chás semanais com os netos. Foi inútil. A desavença só aumentou.

Para piorar, a terceira temporada da série ‘The Crown’, da Netflix, reacendeu antigo boato sobre suposto flerte da rainha — interpretada pela ganhadora do Oscar Olivia Colman — com Lorde Porchester (John Hollingworth), seu fiel administrador de cavalos ao longo de décadas.

No episódio ‘Coup’ (Golpe), os dois são mostrados em clima de encantamento mútuo durante viagem de um mês por França e Estados Unidos. Essa aproximação desperta ciúme no marido da rainha, príncipe Philip (Tobias Menzies). A insinuação de romance extraconjugal de Sua Majestade horrorizou os britânicos.

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Na ocasião, o Palácio de Buckingham não quis comentar a polêmica suscitada por ‘The Crown’. Lorde Porchester morreu aos 77 anos, em 2001. Teve Elizabeth como amiga até seus últimos dias. Ainda em 2019, a rainha se viu mergulhada na polêmica negociação do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. As brigas do primeiro-ministro Boris Johnson com o parlamento respingaram na monarca.

Este 2021 se apresenta como potencial novo ‘annus horribilis’. A rainha não se conforma com William e Harry ainda afastados. A entrevista dos duques de Sussex a Oprah Winfrey na TV americana estremeceu os pilares do reino. A morte do quase centenário príncipe Philip a deixa solitária aos 95 anos.

No mesmo dia em que assistiu ao funeral do companheiro com quem foi casada por 73 anos, Elizabeth recebeu a notícia da morte de um de seus maiores amigos, Sir Michael Oswald, aos 86 anos. Os dois, aniversariantes de 21 de abril, compartilhavam a paixão pelos cavalos. Ele foi gerente da equipe equina de competição da rainha por quase 30 anos. Essa perda aprofundou o abatimento da soberana.

Os admiradores da rainha Elizabeth esperam que, antes de sua morte, ela usufrua de um ‘annus mirabilis’, um ano maravilhoso, sem confusões e tristezas.

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